Empresas agrícolas de Odemira com falta de mão de obra

Empresas temem perdas devido à cerca sanitária. Governo decretou fim da medida.

Duas empresas agrícolas da freguesia de Longueira-Almograve, que está sob cerca sanitária devido ao surto de covid-19, revelaram ter o negócio comprometido por falta de mão-de-obra. “Vamos perder produção. Mesmo que levantem a cerca na quinta-feira, ficamos só com um terço da produção. Não vai pagar os custos”, afirmou Susana Prato, da empresa Sousa Prado Filhos, em declarações à agência Lusa.

A empresária explica que iniciou a colheita de 100 hectares de ervilhas na passada segunda-feira, com duas semanas de atraso e apenas com uma “pequena parte” dos trabalhadores. O inicio da cerca sanitária coincidiu com o “pico da colheita”, pelo que a empresa se viu obrigada a adiar os trabalhos, visto que os trabalhadores que vivem no exterior da cerca “foram impedidos de passar”.

Sandra Prado queixa-se das novas condições impostas pelo Governo para que se realizem as colheitas e afirma estar com dificuldades para colocar a trabalhar as “120 a 150” pessoas de que a colheita precisa diariamente porque “os centros de testagem não têm capacidade para tanta gente”. A empresãria acrescenta ainda que para colocar toda a gente a trabalhar e salvar a produção teria de gastar mais de 10 mil euros numa semana,

Também a The Summer Berry Company, uma empresa de produção de mirtilos, framboesas e amoras, sobretudo para exportação, enfrenta dificuldades na sua área de cultivo de 80 hectares. “Durante a semana passada, não puderam vir trabalhar cerca de 20% dos nossos colaboradores”, o que corresponde a “cerca de 50 trabalhadores”, sem incluir os elementos da gestão e agrónomos, explicou à Lusa Daniel Portelo, diretor de operações da empresa inglesa. Ainda de acordo com este responsável, a situação provocou um “atraso na colheita e, consequentemente, desperdício alimentar e perdas de produtividade”.

Daniel Portelo explica que, “para minimizar as perdas imediatas, nomeadamente” a falta de capacidade para fazer a colheita da fruta, a empresa viu-se obrigada adiar as plantações, o que comprometeu “os programas de produção para a campanha de outono”, arriscando assim a ter a produção “coincidente com a de outros mercados”, influenciando isso o preço e a competitividade.

Cerca sanitária levantada O Primeiro-Ministro aprovou ontem em Conselho de Ministros o levantamento da cerca, antecipando assim a reavaliação que estava prevista para a próxima quinta-feira. “Atendendo à evolução positiva da situação epidemiológica verificada naquelas freguesias”, o Governo decidiu “alterar as medidas de restrição da circulação que estavam em vigor desde 30 de abril”. Ainda durante a tarde de ontem, António Costa tinha informado, numa visita a Odemira que tinha sido aprovado o levantamento da cerca com efeito imediato.