Brasil. Indígenas pedem ajuda e são investigados pelas autoridades

Depois de lançarem críticas ao governo pelo fraco apoio que tem prestado às comunidades indígenas durante a pandemia, dois líderes foram investigados pelas autoridades.

As tribos indígenas no Brasil estão a passar grandes dificuldades durante a pandemia. Problemas logísticos dificultam a chegada de vacinas às comunidades.

Quando os líderes indígenas Sônia Guajajara e Almir Suruí lançaram uma campanha nas redes sociais onde alertavam para as dificuldades enfrentadas por estes povos devido à covid-19, estavam à espera de receber apoios do estado e não de ser colocados sob investigação e desacreditados pelas autoridades.

Além do caso ter sido remetido para as autoridades, Guajajara e Suruí foram acusados por agências governamentais de espalharem “fake news”.

No entanto, juízes federais arquivaram os casos afirmando que não existiam bases para a investigação e descreveram-nos como um “embaraço ilegal”.

Guajajara afirmou que a investigação lançada contra si era uma “tentativa de intimidação para evitar revelar a inação do governo em resposta à pandemia”, cita o Guardian.

A líder indígena acrescentou ainda que ter sido acusada de disseminar notícias falsas pela Fundação Nacional do Índio (Funai), o órgão responsável pela proteção do povo indígena no Brasil, revela que a agência “reverteu o seu papel protetor”.

Mas não são os únicos a serem investigados. A fundadora da Política por Inteiro alertou que outros ativistas e membros da comunidade indígena foram “convocados pelas autoridades em circunstâncias semelhantes”.

De forma a proteger estas pessoas, a associação Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) apresentou uma queixa esta semana no supremo tribunal e na Comissão Interamericana de Direitos Humanos descrevendo uma “perseguição” à comunidade indígena por parte do governo de Bolsonaro.

Uma comunidade em perigo O Brasil é um dos países mais afetados do mundo pela pandemia provocada pela covid-19: regista mais de 15 milhões de infetados (terceiro maior valor do mundo) e cerca de 430 mil mortes (apenas os Estados Unidos contam com mais mortes provocadas pela infeção). Entre a sua comunidade indígena, já foram registadas mais de 650 mortes, num universo populacional que conta com cerca de 517 mil membros, segundo dados fornecidos pela BBC.

A população indígena é um dos grupos prioritários no Programa Nacional de Imunização. Contudo, segundo a Fundação de Vigilância em Saúde, o estado do Amazonas, que concentra a maior parte das tribos e onde foram registadas 124 mortes, informou que apenas vacinou 73% desta comunidade com a primeira dose e 53% com a segunda.

O processo de imunização nestes locais é bastante complicado devido à localização remota das aldeias e está a adotar contornos mais complexos devido a uma campanha de desinformação que incentiva os indígenas a não aceitarem a vacina.

Como se não existissem já problemas suficientes, membros do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) relatam que existem doses de vacinas a serem desviadas agentes que atendem indígenas. “A última denúncia que recebemos dizia que profissionais da saúde estão a ceder vacina contra a covid-19 para garimpeiros em troca de ouro”, disse Adriana Huber Azevedo, citada pela DW.