Excessos

Li num jornal uma notícia, em tom quase ofendido, a chamar a atenção para o facto de só ao fim de 850 dias o Ministério da Administração Interna (infelizmente com um ministro dado a muitas gafes) ter castigado um oficial acusado de magoar bastante instruendos. Dava quase a ideia de o jornal preferir uma Justiça…

Li num jornal uma notícia, em tom quase ofendido, a chamar a atenção para o facto de só ao fim de 850 dias o Ministério da Administração Interna (infelizmente com um ministro dado a muitas gafes) ter castigado um oficial acusado de magoar bastante instruendos.

Dava quase a ideia de o jornal preferir uma Justiça popular e imediata.

Muito bem: 850 foram um excesso. E acontece que o caso se tornou público através de uma notícia do JN, a 2 de Dezembro de 2018. Nesse mesmo dia o ministro ordenou à IGAI (Inspecção Geral da Administração Interna) um inquérito sobre a matéria, dando a ideia de que os instruendos estão muito dependentes da Imprensa (ou algo quejando) para os defender da morte. Por essa altura, o mesmo ministro, num comunicado oficial, salientou que, a confirmarem-se, os factos ocorridos na Escola da GNR, em Portalegre, "não são toleráveis numa força de segurança num Estado de Direito democrático". Claro que não. Como não são os do Sporting, em que a PSP, mostrando não estar preparada para substituir bem o SEF, embora não tenha sido daquilo a principal responsável, tendo até dito como tencionava actuar, ao abrigo de ordens superiores.

Mas só no início de Março deste ano, 27 meses depois, a IGAI concluiu o processo da GNR, e o remeteu com a proposta de sanção ao Gabinete de Eduardo Cabrita, que veio a assinar o despacho a determinar a sanção a 31 de Março. O que é realmente muito. Passaram mais duas semanas, até o diretor de Justiça e Disciplina da GNR, coronel Manuel Augusto Silva Caldeira, executar a ordem.

Ainda assim, a punição não teria sido imediatamente difundida em ordem de serviço interna e o tal oficial continuava no seu posto.

Mas há outro processo-crime, aberto pela Procuradoria-Geral da República (PGR) na mesma altura, por concluir.

Enquanto aguardava pelo desfecho dos inquéritos, o dito oficial foi comandante do subdestacamento da GNR em Sintra – onde estava colocado desde Julho de 2018 – tendo sido depois escolhido para adjunto do comandante do Destacamento do mesmo concelho.

Tudo isto parece realmente surrealista.