Algarve com Rt acima de 1 em momento-chave

Depois de Odemira, um surto em estufas numa empresa de Albufeira colocou o concelho no patamar de risco. Turistas britânicos estão a chegar e região vê indicadores piorar. Depois do Sporting e do 13 de Maio, para a semana há final da Taça de Portugal e Rali, e DGS não diz se mantém autorização de…

A próxima semana será marcada por uma nova etapa na retoma da pandemia, com os turistas britânicos com carta verde para regressar a Portugal. Empresários algarvios relataram ao Nascer do SOL um crescendo de reservas e a chegada de jatos privados, com mais turistas esperados a partir de 17 de maio. Os mais abastados parecem vir para gastar, com consumos mais elevados do que o habitual numa altura em que destinos populares como a Grécia continuam fora dos corredores verdes de Inglaterra. No último ponto de situação epidemiológico divulgado esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, o Algarve volta no entanto a surgir como a única região no continente com o RT acima de 1 (1,08). Se mantiver esta tendência poderá, em 15 dias a 30 dias, chegar ao patamar dos 120 casos por 100 mil habitantes, indicadores que poderiam vir a fazer estragos nos planos.

Segundo o Nascer do SOL apurou, a situação não é encarada com especial preocupação. Houve recentemente um aumento de infeções detetadas em Albufeira, sobretudo ligadas a um surto identificado numa empresa agrícola do concelho, entre migrantes que trabalhavam em estufas. Enquanto se tenta controlar a situação – esta semana a empresa indicou à SIC que está a promover melhorias nos alojamentos – uma coisa é certa: com a chegada dos turistas e início da época balnear, a epidemia terá de manter-se sob controlo para garantir um caminho a direito para o verão, sendo que os critérios ingleses (o principal mercado turístico da região) não foram divulgados na íntegra – segundo a imprensa britânica incluem taxas de infeção, variantes, nível de testagem).

São aparentemente apertados. Portugal, que continua a ser o país da UE com menor incidência de novos casos por 100 mil habitantes a 14 dias, foi o único país europeu (além do território de Gibraltar), a entrar na lista verde do Reino Unido, destinos em que os britânicos passam a estar dispensados de fazer quarentena à chegada (desde que testem negativo). Nos países na lista âmbar, a maioria, é obrigatório uma quarentena de 10 dias à chegada. No ano passado, o aumento de infeções na zona da grande Lisboa levou Inglaterra a excluir Portugal como um todo dos corredores, o que afetou emigrantes e turismo.

 

Diagnósticos sobem no Algarve, Lisboa e Alentejo

Esta semana, o Governo reavaliou a situação nacional, que considera que se mantém controlada – e nem os festejos do título do Sporting, que o Executivo e a autarquia já assumiram que não correram bem, minaram a tónica de otimismo, que vem sobretudo de a população com mais de 60 anos estar agora praticamente toda vacinada – uma meta que deverá ser alcançada igualmente na próxima semana.

Dos 23 concelhos que tinham ficado sinalizados na semana passada, o Governo decidiu recuar no desconfinamento total apenas em dois: Lamego e Arganil, que já vinham sinalizados da semana anterior (Arganil há duas semanas) e onde a situação não melhorou. Também uma freguesia de Odemira que esteve sujeita a cerca sanitária e Resende continuam com regras mais apertadas. Para a próxima semana ficaram sinalizados 12 concelhos, a maioria no Norte, e agora menos do que os que há uma semana estavam com mais de 120 casos por 100 mil habitantes. Mas houve novas entradas neste patamar, desde logo Albufeira, mas também Torres Vedras e Odemira, que volta a estar sinalizada.

Segundo os dados disponibilizados esta sexta-feira pela Direção Geral da Saúde, esta semana Arganil era o concelho no continente com mais casos por 100 mil habitantes a 14 dias (826). O Nascer do Sol tentou perceber junto da DGS se se mantém a autorização de público no rali de Portugal neste concelho, sem resposta. A autarquia, que criticou o recuo no desconfinamento, afirma que se mantém, ao passo que Porto e Paredes não querem público na prova da próxima semana.

No continente, em termos de incidência, seguia-se Castelo de Paiva, Montalegre e Odemira, que voltou a registar um aumento de casos nos últimos sete dias. Apesar dos indicadores se manterem na zona verde da matriz de risco definida pelo Governo (RT nacional inferior a 1 e incidência a 14 dias inferior a 120 casos por 100 mil habitantes) analisando os dados disponibilizados nos boletins diários, é possível constatar que nos últimos sete dias já não se manteve a tendência de descida de casos da semana anterior, tendo havido um ligeiro aumento dos diagnósticos, causado por subidas de casos detetado na região de Lisboa, Algarve e Alentejo, que deverão traduzir-se na próxima semana num ligeiro aumento da incidência e também no RT, que só é calculado com um desfasamento de uma semana pelo INSA.

O Norte continua a ser a região do país com mais novos casos (931), mas foram -10% nos últimos sete dias face à semana anterior, enquanto Lisboa teve 776 novos casos (um aumento de 15%). A maior variação verifica-se no Algarve, em que se passou de 89 casos na semana passada para 214 nos últimos sete dias (+140%).

No Algarve, a incidência nos últimos sete dias foi mesmo o dobro do resto do país (49 casos por 100 mil habitantes contra 24 casos por 100 mil habitantes).

Além dos números macro, analisando os dados da DGS é também possível perceber que se na maioria dos concelhos diminuiu o número de casos, continua a haver municípios a fazer o caminho inverso. Desde logo Lisboa, em que esta semana a incidência a 14 dias subiu de 67 para 81 casos por 100 mil habitantes, o que significa que nas últimas duas semanas foram diagnosticados 412 casos de covid-19 na capital, quando na avaliação da semana passada tinham sido diagnosticados 341 casos nos 14 dias anteriores. Portanto já estava a haver um ligeiro aumento de diagnósticos mesmo antes dos festejos do Sporting.

Entre os concelhos mais populosos, em que são precisos mais casos para ser ultrapassado o patamar dos 120 casos por 100 mil habitantes, houve também uma subida da incidência (mais ligeira) no município de Braga e no Porto. O Nascer do Sol tentou perceber junto da Direção Geral da Saúde se continua a haver transmissão comunitária em todo o país, casos em que não se consegue perceber onde é que a pessoa contraiu a infeção, mas não obteve resposta. Nos hospitais estão agora internadas muito menos pessoas do que há dois meses, quando começou o desconfinamento, mas quem não está vacinado ou não tem imunidade natural continua a não estar protegido.

 

‘O mais provável é não termos uma quarta vaga’

A partir da próxima semana poderá ser avaliado se há alguma subida de casos que possa ser ligado aos eventos desta semana. Ao Nascer do Sol, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes defendeu que multidões como se viram junto ao Estádio do Sporting, sem medidas de proteção como distância e máscara, apesar de terem a vantagem de ter sido ao ar livre, continuam a não ser prudentes, apontando para algo que será menos arriscado no verão, quando além dos maiores de 60 anos estiverem vacinados os maiores de 50 e mesmo pessoas mais novas mas que tenham fatores de risco acrescido para desenvolver quadros graves de covid-19, como obesidade ou diabetes.

A DGS recomendou a testagem dos adeptos que não adotaram medidas de proteção, o Governo pediu o mesmo e Carmo Gomes sugeriu que fosse o clube a assumir essa responsabilidade, mas na prática a decisão ficou nas mãos de cada um. O especialista admite um aumento de casos, mas acredita que a fase em que o risco era maior possa já ter passado e que uma maior intensidade de testagem ajudou a controlar a epidemia ao longo destes dois meses de desconfinamento. «Apesar de altos e baixos, estamos com um nível de testagem elevado, mais elevado do que no ano passado, em que conseguimos manter a positividade abaixo de 1% e uma maior deteção de casos. Não creio que a vacinação por si só explique o controlo que foi possível ao longo destes meses em que desconfinámos. Tirámos o pé da mola mas conseguimos manter um contrapeso», disse o investigador, que acredita que agora o «mais provável» é que o país não venha a ter uma quarta vaga até ao verão. «Sempre pensámos que maio seria um mês decisivo e felizmente as coisas têm corrido pelo bom caminho». Mantendo testagem, ritmo de vacinação e cautelas – Carmo Gomes considera que do ponto de vista epidemiológico é «impensável» eventos com público em concelhos com mais de 500 casos por 100 mil habitantes, como é Arganil –, depois será esperar para confirmar os efeitos da vacinação no final do verão e início da época de maior circulação de vírus respiratórios: «Em setembro e outubro vai ser a pedra de toque. Penso que vamos ter surtos de qualquer maneira, o vírus vai continuar a circular, mas sem pressão hospitalar e sem cadeias de transmissão sustentada que faça a epidemia estar continuamente a subir sem perspetiva de conseguirmos travar sem confinamento».

Não na próxima semana mas na seguinte, ao que o Nascer do Sol apurou, deverá haver uma nova reunião no Infarmed focada no verão. A equipa de Óscar Felgueiras e Raquel Duarte já apresentou uma pré-proposta ao Governo de medidas e aspetos a considerar para os próximos meses. Segundo o Público, o uso de máscara poderá vir a ser aliviado em alguns locais e para vacinados, o que já tinha sido recomendado pelo ECDC. Atualmente, o uso obrigatório de máscara em espaços públicos vigora até 14 de junho, pelo que daqui a um mês poderá começar a haver mais caras à vista na rua.