17 de maio: o dia do ‘Adeus’ à troika

“Custasse o que custasse”. Este desiderato, proferido com todas as letras pelo então primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, caiu mal a muita gente. Compreensivelmente. Sobretudo a quem, durante estes anos negros de troika sofreu as consequências de uma austeridade pesada, e assistiu, dia a dia, ao empobrecimento do seu rendimento.

por Sofia Aureliano

No dia 17 de maio de 2014, há sete anos, Portugal disse formalmente “Adeus” à troika, ao coletivo de engravatados que periodicamente nos visitava, com ar grave e carrancudo, qual agregado de professores de outros tempos, de régua na mão.

Na altura, sentíamo-lo como excessivamente desconfortável mas, se pensarmos bem e com a racionalidade que a distância temporal nos oferece, não era um preço muito alto a pagar para quem tinha desembolsado 78 mil milhões de euros a um país em pré-bancarrota que pediu um resgaste em profundo desespero, a dias de não conseguir cumprir os mais básicos compromissos do Estado, como o pagamento de salários e de pensões.

Porque haveria a troika de confiar em nós, um país que, quando acorreu a socorrer, tinha um governo em profunda ou dissimulada (ainda hoje não compreendi), mas, de certo, irresponsável negação, que ignorava défices a rondar os 10%, dívida pública a bater máximos históricos, mês após mês, e juros da dívida que há muito tinham passado a famosa linha vermelha dos 7% do então ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, o que nos impossibilitava de ir ao mercado.

Não havia razões para a tríade baixar a guarda até que mostrássemos um Portugal diferente, liderado por um governo responsável, com rumo e grande vontade de recuperar a sua total autonomia financeira.

“Custasse o que custasse”. Este desiderato, proferido com todas as letras pelo então primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, caiu mal a muita gente. Compreensivelmente. Sobretudo a quem, durante estes anos negros de troika sofreu as consequências de uma austeridade pesada, e assistiu, dia a dia, ao empobrecimento do seu rendimento.

Foi pedido um enorme esforço aos portugueses e foi o seu sacrifício que nos levou ao fim da história. Sem programas cautelares – como tantas vezes se vaticinou – sem prorrogações de prazos nem reforços financeiros. Cumprimos sempre e foi-nos devolvida a liberdade e a capacidade plena de tomar as nossas decisões de forma autónoma.  

Ainda haverá gente que dirá que a troika não foi a melhor solução e que talvez Portugal tivesse como se regenerar sozinho. Essa ilusão é aceitável, porque foi alimentada pelo discurso falacioso de quem governava quando pediu ajuda, que acreditava que o país, qual cidadão mais ardiloso e menos cumpridor, poderia viver acima das suas possibilidades, indefinidamente, sem pagar as suas dívidas.

Mas não nos iludamos. Portugal não tinha amigos que lhe pagassem as contas sem contrapartidas ou a quem pudesse pedir empréstimos a fundo perdido.

Se queríamos ajuda, tínhamos de cumprir. E quanto mais rápido o fizéssemos, mais depressa nos libertaríamos da pena de prisão a que estávamos sujeitos, por negligência passada e, até hoje, tristemente não assumida.

A nossa memória é limitada e, muitas vezes, seletivamente injusta. Recorda-nos do percurso árduo e penoso, mas armadilha-nos quando nos tentamos recordar de todo o enredo. Acredito que o tempo se encarregará de nos devolver a justa recordação dos factos. Mas é natural que enquanto as lesões se sentem no corpo seja difícil “ver” quando se olha.

Mesmo assim, sofridos, melindrados e cansados, à margem do sal que lhes atiravam para as feridas, os portugueses conseguiram “ver” e reconheceram, nas urnas, o que o governo liderado por Pedro Passos Coelho fez durante “o mandato da troika”.

A clarividência do povo é maior do que se imagina e haverá sempre o conforto de saber que os portugueses demonstraram compreender a necessidade do percurso e, sobretudo, ofereceram, na sua maioria, a oportunidade de gerir o futuro do país em bonança a quem ultrapassou a tempestade.

Não se antecipava, na altura, a solução engenhosa pós-eleitoral que viria a emergir, subvertendo e manietando a vontade popular, comprometendo o voto de confiança dado pelos portugueses ao governo que nos retirou da lama. Mas esse voto existiu e ninguém o apagará da história.

A inteligência popular decifrou o desígnio que estava por trás do “que se lixem as eleições” que tantas pessoas incomodou. Primeiro, esteve sempre Portugal e os portugueses. E esse espírito de missão não foi ignorado. Pelo contrário, foi generosamente retribuído.

Seria de esperar que depois de tanto sofrimento provocado por decisões que facilmente poderíamos pessoalizar, houvesse rancor, mágoa e necessidade de aplicar o castigo. Mas, solidariamente, assumiram-se as responsabilidades que os culpados não quiseram assumir e abraçou-se o desígnio de salvar Portugal.

Nunca, na história recente, os portugueses sofreram tanto. Mas também nunca, provavelmente, estiveram tão unidos. Olhemos, hoje, em volta e vejamos como estamos cada vez mais polarizados, distantes, exasperados e agressivos. Não há coesão no horizonte. Só distância, fragmentação, separação.

Neste cenário, que futuro podemos esperar?

Quando Pedro Passos Coelho anunciou a saída da troika e o fim do programa de ajustamento financeiro reconheceu o papel dos portugueses neste percurso. O papel principal.

"Não será o dia nem do Governo, nem de nenhum partido político. Dia 17 de Maio será o vosso dia. Será o dia de homenagem a cada um de vós, o dia em que a nossa liberdade de decisão foi reconquistada por cada um de vós". Foram as suas palavras.

Celebremos, então. Como povo determinado, responsável e unido, que fez história na história da Europa. E foi o protagonista de tão grande feito da história nacional.