Marcelo na Guiné-Bissau. Um banho de multidão com festejos triunfais

Presidente da República português condecorado com medalha Amílcar Cabral.

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa foi engolido por uma maré humana à saída do Aeroporto Osvaldo Vieira, em Bissau, por volta das 20 horas locais, 21h em Lisboa. Ao longo de oito quilómetros, durante duas horas, o chefe de Estado português acenou a uma multidão guineense, parando o seu veículo aqui e ali, num banho de multidão como não se via desde o início da pandemia. E mesmo nos restantes PALOP que o Presidente visitou, a escala da receção dificilmente é comparável.

O entusiasmo era imenso, como o próprio Presidente português fez questão de frisar, tanto no encontro com a comunidade portuguesa na Guiné-Bissau como na declaração conjunta com o Presidente Umaro Sissoco Embaló. Notou-se que a receção foi “algo espontânea”, com referências a Portugal além do costumeiro, assegurou Marcelo. “Pode ser um jogador português ou um clube. Ou referência a combatentes ou filhos de antigos combatentes. Ou referências a um sitio em Portugal. Isto dá algo mais intimista a este percurso”, explicou.

De facto, era óbvio – não só pela escala – que a receção foi muito mais do que um evento organizado por um Governo guineense ansioso por receber investimento estrangeiro. Por todo o lado, ouviam-se slogans como “viva Portugal”, ou coisas como “viva Sissoco”, sim. Mas também se ouviu muitos guineenses a gritar “tio “vistos, vistos”, num apelo a ter acesso a Portugal. E viram-se cartazes exigindo direitos para os antigos combatentes coloniais guineenses e os seus descendentes, que nunca conseguiram o acesso às reformas portuguesas após a independência.

Os cartazes voltaram a reaparecer quando Marcelo visitou o cemitério municipal de Bissau, onde estão os antigos combatentes portugueses.

No primeiro momento da visita, quando a comitiva portuguesa emergiu do aeroporto, com umas horas de atraso, a chegada parecia ter tudo para correr mal. Com a multidão a avançar para abraçar o Presidente português, os jornalistas em redor e os segurança em dificuldades, tudo aos empurrões no meio da noite. Mas não houve nenhum desastre, Marcelo lá foi colocado no seu carro – à custa de alguma pancadas com cintos, “para os fazer recuar”, disse um militar todo suado ao i – e seguiu numa espécie de procissão, rumo ao hotel Ceiba, o mais luxuoso de Bissau.

No dia seguinte, o Presidente português – entre a cerimónia em que deixou uma coroa de flores no túmulo de Amílcar Cabral e de Bernardino “Nino” Vieira, históricos combatentes pela independência, e a visita à um alfarrabista português – foi condecorado com a medalha Amílcar Cabral, a mais alta condecoração guineense. “A visita de um Presidente português é mais importante do que qualquer Presidente europeu ou americano”, assegurou Embaló, numa conferência, garantido que a visita de Marcelo seria “mais importante que uma de Joe Biden”.

*Jornalista na Guiné-Bissau