Melhorar o ensino público é melhorar a sociedade!

O trabalho administrativo dos professores é excessivo e desmotivador. Fazem falta equipas de suporte para os apoiar e deixá-los concentrarem-se nas tarefas essenciais, de natureza pedagógica e educativa…

Publicado o ranking das escolas, constatamos que a primeira escola pública nesta classificação surge em 41.º lugar (Eça de Queiroz, Póvoa de Varzim)! Ou seja, temos de percorrer a lista com umas 40 escolas privadas para encontrar uma escola pública… Fico triste!

Fiz o secundário e a universidade no público e sou um profundo defensor da escola pública – mas algo de certeza vai mal neste ensino. Bem podem dourar a pílula que tem de existir um problema e o ministro da Educação tem de o enfrentar porque a Educação é a base de toda uma Sociedade. Meter a cabeça na areia não ajuda. Ainda menos referir, como li, que «os rankings são injustos e redutores». A vida é uma competição e a existência dos rankings uma consequência natural da realidade.

As notícias divulgadas dão forte relevo a umas variáveis relevantes, como a melhoria de notas a nível nacional em disciplinas nucleares como o português e o inglês ou a diminuição de taxas de insucesso escolar que não iludem a questão nuclear: temos de melhorar o ensino público e isso tem de ser um desígnio nacional.

Para começar tem de se reforçar a disciplina e, sobretudo, a exigência escolar. Não pode existir facilitismo por parte dos professores atribuindo notas ‘simpáticas’ para não causar problemas aos alunos. Mas também o Ministério tem de zelar por ter bons professores que são o pilar da Educação. Avaliá-los periodicamente (com justiça), incentivar melhorias qualitativas através de métricas comummente aceites e, com toda a franqueza, pagar melhor.

Subsistem outros, mais complicados, a começar nas qualificações (pedagógicas) dos professores, habitualmente recrutados exclusivamente por qualificações académicas e quantas vezes ‘lançados às feras’, sem qualquer preparação específica para dar aulas. Às vezes acerta-se, muitos outros fazem-se professores na vida real, outros serão mesmo um equívoco.

Claro que há outros fatores muito importantes, como o próprio ambiente escolar – leia-se a melhoria das instalações. Muitas das escolas públicas terão problemas estruturais, contando-se até casos de existirem algumas em que os alunos terão mais frio nas salas de aula que na rua… Estes são temas que se resolvem, assim haja vontade (leia-se ‘euros’).

O problema da qualidade do ensino público existe e tem de ser encarado com determinação pelo Ministério. Indiscutível que exigir aos professores e alunos é inerente às funções nacionais. Mas num ambiente completamente diferente do que existia há 20 anos com a predominância informática que existe na sociedade (enorme quantidade de ‘youtubers’ e jovens mais preocupados nas redes sociais nas escolas, com impactos fortíssimos nas atenções na sala de aula) há que sobretudo reforçar a preparação pedagógica dos professores que quantas vezes se substituem aos pais, dada a impreparação destes ultrapassados pelo desenvolvimento da sociedade.

Falando com professores do ‘público’, ouvem-se desabafos como «turmas demasiado grandes» o que dificulta o acompanhamento personalizado que os alunos merecem. Ou ainda que o nível de exigência, pedagógico e comportamental, até ao 9.º ano é muito baixo e o salto para o 10.º ano é tremendo para os alunos. A partir daqui a nota passa a ser demasiado relevante pelos acessos à Universidade e o desânimo atinge muitos que sentem não conseguirem atingir a média pretendida, originando desistências quiçá evitáveis, com ponderação de outras métricas.

Finalmente, algo que também parece ser relevante – o trabalho administrativo dos professores, excessivo e desmotivador, em vez de existirem equipas de suporte para os apoiar e deixar os professores concentrar nas tarefas essenciais, sobretudo de natureza pedagógica e educativa.

Termino como comecei. Há um problema a resolver e Tiago Brandão Rodrigues poderia, até pela sua escola socialista, inspirar-se nos modelos educacionais de alguns desses países ou, em alternativa, em modelos orientais de referência. Como se costuma dizer ‘uma mesa bem-posta ensina a comer’ pelo que não tenho qualquer dúvida que modelos de ensino público com estruturas claras, com professores motivados e alunos interessados, são fundamentais para a Sociedade que todos ansiamos.

P.S. – a maneira como Marcelo foi recebido na Guiné-Bissau demonstra inequivocamente que Portugal terá sempre de ter fortes ligações com as antigas colónias, seja qual for a natureza, mas sempre a contribuírem para o seu desenvolvimento, económico e social. Em particular, penso em Moçambique e na ajuda que hoje precisa da comunidade internacional – devastado por uma guerra na província de Cabo Delgado, com milhares de desalojados em Palma, Mueda ou Pemba.