Estado de calamidade vai apanhar o Santo António

Lisboa e seis concelhos ficam sinalizados e se não melhorarem situação arriscam não prosseguir no desconfinamento. Reunião do Infarmed debate hoje próximos passos.

Um pouco mais de normalidade pode estar para breve, mas para já o estado de calamidade vai vigorar até às 23h59 de 13 de junho, feriado de Santo António e data das festas populares em Lisboa, que já estavam a meio gás em ano de pandemia e arriscam vir a ter regras mais restritas na capital. Lisboa, junto com outros cinco concelhos, fica em situação de alerta por estar com mais de 120 casos por 100 mil habitantes.

Se a situação não se inverter, poderão vir a ficar para trás na continuidade do desconfinamento, que se discute esta sexta-feira na reunião do Infarmed. Neste encontro, é esperada a apresentação do trabalho pedido aos peritos quer sobre medidas daqui para a frente quer sobre linhas vermelhas a adotar. Há pressão para rever a matriz de risco, que atualmente tem como referência os patamares dos 120 e 240 casos por 100 mil habitantes e RT superior a 1, mas o tema não é consensual entre os especialistas nem entre os partidos.

O Bloco de Esquerda mostrou-se ontem frontalmente contra a ideia, que durante a semana foi defendida por médicos mas também pelo Presidente da República. No final do briefing do conselho de ministros, Maria Vieira da Silva remeteu desenvolvimentos sobre matriz, linhas vermelha e novos critérios para a reunião do Infarmed e para as auscultações que se seguirão.

“O propósito da reunião é que essa apresentação seja feita a todos e é a partir dessa apresentação que o Governo tomará as suas decisões, exatamente como aconteceu quando aprovámos este plano de desconfinamento.” Alargamentos de horários – atualmente a hora de fecho de restaurantes e salas de espetáculos é às 22h30 – e reabertura de novos setores como bares são alguns dos temas sobre os quais se aguardam decisões e calendário.

Para já, e na próxima semana em concreto, nada muda na maioria do país. As más notícias são para os concelhos que estão acima desse patamar, em particular para Arganil, que recua mais uma casa no desconfinamento e volta a estar sujeito às regras que vigoraram entre 5 e 19 de abril. Na prática, não só o comércio e restaurantes continuam a ter de estar fechados ao fim de semana a partir das 13h – o que passa também a ser a realidade na Golegã (recua) e se mantém em Montalegre e Odemira – como o recuo em Arganil obriga a fechar lojas com mais de 200 m2, salas de espetáculos e deita por terra festas de casamento e batizados. Só a partir de 19 de abril passaram a ser autorizadas festas com 25% da lotação (no resto do país já podem ter 50% da lotação).

Dos dez concelhos que tinham ficado sinalizados na semana passada, seis recuperaram. Foi o caso de Albufeira, que não chegou assim a recuar no desconfinamento. Mas permanecem na lista de concelhos em alerta, no Algarve, Tavira e Vila do Bispo e, no Norte, Vila Nova de Paiva. A que acrescem então Lisboa, Chamusca, Salvaterra de Magos e Vale de Cambra. O Governo não divulgou a incidência em cada um destes concelhos, dados que serão publicados hoje pela Direção Geral da Saúde.

Ao i, o presidente da Câmara Municipal de Arganil (ver ao lado) mostra-se perplexo com a decisão, sublinhando que o concelho tem neste momento 15 casos ativos de covid-19 e viu serem confirmados nos últimos 14 dias 33 novos casos. Como têm 11 mil habitantes, dá uma incidência de cerca de 300 casos por 100 mil habitantes, acima de 240 casos por 100 mil habitantes, mas metade do que era há uma semana.

Segundo o i apurou, na capital a incidência supera já os 150 casos por 100 mil habitantes, o que, atendendo à população de 500 mil habitantes, significa que em Lisboa foram detetados nos últimos 14 dias mais de 700 novos casos de covid-19. Na semana passada o concelho de Lisboa não ficou sinalizado por estar, nos dados usados pelo Governo na avaliação semanal, com uma incidência de 118 casos por 100 mil habitantes. No sábado, já eram 135 casos por 100 mil habitantes.

Só à segunda avaliação consecutiva com mais de 240 casos por 100 mil habitantes, com as atuais regras, é que se colocaria o cenário de recuo no desconfinamento e o Governo não decidiu diferenciar as regras nas freguesias acima desse patamar (Santa Maria Maior, Misericórdia e Arroios).

Para já, as medidas em Lisboa assentam no reforço da testagem, antecipada nas escolas e que esta sexta-feira sai para a rua, de manhã junto de estafetas e táxis e à noite em locais de maior concentração como a 24 de Julho, São Pedro de Alcântara e Cais do Sodré.

Teletrabalho obrigatório Sendo uma das medidas do estado de calamidade, prolongado em conselho de ministros até 13 de junho, o teletrabalho vai manter-se obrigatório pelo menos até esta data.