Rui Rio: uma demissão anunciada?

Por Judite de Sousa Vasco Pulido Valente falava no ‘centrão’ para se referir ao espaço político ao centro do xadrez político português. Esse espaço está hoje praticamente todo ocupado pelo PS. O mérito é de António Costa que, com as suas políticas, conquistou a função pública e privilegia os partidos à sua esquerda no diálogo…

Por Judite de Sousa

Vasco Pulido Valente falava no ‘centrão’ para se referir ao espaço político ao centro do xadrez político português. Esse espaço está hoje praticamente todo ocupado pelo PS. O mérito é de António Costa que, com as suas políticas, conquistou a função pública e privilegia os partidos à sua esquerda no diálogo pós-‘geringonça’. 

O contexto da pandemia acabou por centrar o discurso político no problema do covid levando a uma unanimidade de todas forças políticas à volta das questões relacionadas com o combate ao vírus. Excluindo um outro caso, há um ano que não se fala de outra coisa que não seja a saúde pública e agora, mais recentemente, o plano de vacinação. Sendo assim, seria e tem sido muito difícil fazer oposição ao Governo. Qualquer que fosse o líder do PSD, o espaço de afirmação política alternativa ficou muito condicionado pela crise pandémica. 

Agora, que tudo se encaminha para a nova realidade, é chegado o tempo do PSD dizer o que quer para o país e mostrar as suas diferenças em relação aos socialistas. Rio tem o tempo a passar rapidamente para encontrar um rumo que represente uma oposição sólida e consistente. As eleições autárquicas serão uma prova de fogo e alguns antecipam problemas sérios para Rui Rio. Como o Presidente da República enfatizou é inevitável uma leitura nacional dos resultados autárquicos. O caso mais eloquente foi o de António Guterres que deixou a chefia do Governo depois de um desaire autárquico. Tendo em conta estas variáveis, coloca-se no horizonte a sucessão de Rui Rio. As críticas já se fazem ouvir de vários lados o que coloca sob pressão a liderança do PSD que tem pela frente um caminho estreito. 

Um dos problemas portugueses, no que aos partidos diz respeito, é que as lideranças em exercício não preparam segundas linhas para lhes suceder. Os partidos são máquinas muito fidelizadas ao chefe e à máquina aparelhística. Quando o chefe sai, raramente quem o substitui tem aresta para assumir a responsabilidade com competência da governação. Sendo assim, há quem fale num eventual regresso de Passos Coelho. Aguardemos o que dirá no seu livro, que está anunciado, mas tenho sérias dúvidas que esse seja o seu intento. Por razões políticas e, talvez, pessoais. Ainda está bem presente na memória coletiva o período da troika e as duras medidas de austeridade impostas pelo governo PSD/CDS. Mas que os tempos pós-autárquicos poderão ser de mudança, isso poderá ser uma realidade. O tempo está a contar.