O que seria de nós sem o fascismo?

Ou somos pró-covid ou anti-covid, ou somos antifascistas ou fascistas, defendemos que tudo é aquecimento global ou que nada é, ou somos pelos palestinianos ou pelos judeus…

Por João Maurício Brás

Umas das operações fundamentais deste tempo foi o esvaziamento do significado dos conceitos, a confusão deliberada de sentido e a dissociação entre o significado e o significante.

O que é hoje um antifascista?

Dia 22 a PSP identificou antifascistas que vandalizaram uma Sinagoga no Porto. Mas os antifascistas não eram contra os fascistas? 

Que uma certa esquerda vandalizou igrejas e proibiu a liberdade religiosa não é novidade, mas vandalizar Sinagogas no século XXI em Portugal? 

Será o Chega?

 O povo judeu é fascista? Há quem queira os judeus num tribunal de Nuremberga por causa do programa de vacinação. Grupos fascistas são proibidos, e porque não são os grupos antifascistas proibidos? Todos os que agem considerando que detêm a única visão correta do mundo no campo da política e que reivindicam a autoridade para punir e silenciar os outros não podem ter lugar numa democracia. 

Os mestres bonequeiros dizem-nos que Portugal, a Europa e o Ocidente estarão sob uma ofensiva do fascismo. Será? O mito do fascismo tem uma finalidade clara: esconder o fracasso de políticos medíocres e a insipidez dos médias subservientes.

Tempos bizarros. Vemos por exemplo o feminismo deste tempo defender a justiça popular, a condenação antes da sentença, onde basta apenas a palavra de uma das partes da contenda. Novamente, os donos exclusivos da virtude e da verdade. Um acusado, mesmo que inocentado em tribunal está desgraçado e totalmente destruído. As sentenças transitam em julgado nas redes sociais e nos média antes de qualquer julgamento e nos crimes da moda já sabemos como as coisas são.

Veja-se a aberração do duplo critério das redes sociais e a parcialidade risível mas perigosa dos ‘verificadores’ tendenciosos de ‘factos’. A mesma palavra ou frase pode ter destinos totalmente diferentes, castigo ou irrelevância, consoante a tonalidade de quem a profere. Se afirmar que «temos que matar o homem branco» é metáfora, se escrever uma peça com o título ‘A beleza de matar fascistas’ (o que será um fascista?) é cultura, se eu afirmar o meu orgulho gay ou o poder negro é afirmação identitária emancipatória e livre. Mas se eu escrever uma peça sobre ‘a beleza de matar esquerdistas’, se afirmar o orgulho hétero ou o poder branco, serei ameaçado e enxovalhado de todos os nomes, e possivelmente terei problemas até do foro legal. E nem falo da sarjeta que são as caixas de comentários dos jornais e das redes sociais, onde a frustração doentia de certas existências apenas destila ódio e destrói o debate de ideias e a troca de argumentos (há exceções dignas, mas são poucas).

São tempos de uma infantilidade e superficialidade mental deliberadamente suscitada para mais fácil se manter um determinado sistema. 

Ou somos pró-covid ou anti-covid, ou somos antifascistas ou fascistas, defendemos que tudo é aquecimento global ou que nada é, ou somos pelos palestinianos ou pelos judeus, ou Trump destruiria o planeta ou salvaria o mundo.

Tornamo-nos mentalmente monotemáticos, histéricos, reativos e maniqueístas. Estamos sempre a ser estimulados e condicionados para respostas pouco pensadas, imediatas e muito polarizadas. Precisamos de pensamento complexo, de voltar até a pensar, de lutarmos contra os que nos querem impor, mesmo de modo subtil, o que devemos dizer e nos obrigam a ver o mundo a preto e branco. Temos que destruir esta ‘idiotocracia’ programada.