“Somos um grupo de risco, mas encarados como cidadãos de segunda”, diz dirigente sindical da PSP

Depois de Eduardo Cabrita ter pedido esclarecimentos à task force sobre a vacinação da PSP, Pedro Carmo, da Organização Sindical dos Polícias, garante que “a incompetência é do Executivo que não procedeu ao processo completo”.

Cerca de 60% dos polícias encontram-se vacinados com a primeira dose da vacina contra a covid-19. Esta informação foi avançada ao i pelo gabinete de imprensa da Polícia de Segurança Pública (PSP).

No entanto, na ótica de Pedro Carmo, presidente da Organização Sindical dos Polícias (OSP/PSP), o problema prende-se com a gestão governamental e não com as decisões do diretor nacional da PSP Magina da Silva. “A incompetência é do Executivo que não procedeu ao processo completo dos elementos que querem ser vacinados. Somos um grupo de risco, mas encarados como cidadãos de segunda. O diretor nacional fez o melhor que conseguiu com aquilo que tinha”, explica o dirigente, adiantando que a vacinação “ficou a meio”, tendo sido vacinados “10 dos 20 mil membros do efetivo”. Os profissionais que trabalham no Campus de Justiça, na Divisão de Trânsito da PSP e que exerceram funções durante o fim de semana do festejo da Liga dos Campeões, no Porto, são algumas das pessoas que não terão sido inoculadas.

Contudo, em declarações ao i, o comandante José Eduardo de Sousa Luís, do núcleo de comunicação estratégica da task force da vacinação, esclarece que “todas as listagens de efetivos das forças de segurança que chegaram à task force para vacinação já se encontram, na sua esmagadora maioria, vacinados com a primeira dose”. Neste sentido, importa referir que, no passado mês de fevereiro, numa nota enviada às redações, o grupo de trabalho anteriormente referido elucidou que “tentas as atuais limitações conhecidas na disponibilidade global de vacinas, a administração das mesmas a estes dois grupos tem sido efetuada à razão de 90% das vacinas disponíveis para cidadãos do primeiro grupo (’salvar vidas’) e 10% para o segundo grupo (’resiliência do Estado em período de pandemia’)”.

Porém, Carmo frisa que “quando houve o reforço de patrulhamento, o pessoal administrativo andou a fazer serviço de rua”, destacando que “a título de exemplo, não são todos os professores que correm tanto risco como esta classe”, pois “andam numa escola com mil alunos e dão aulas a 300, imaginemos, e os polícias têm de lidar com milhares de pessoas diariamente, estando mais expostos ao vírus”. Ainda assim, o sindicalista constata que acredita na percentagem veiculada pela PSP, evidenciando que “foi feito um bom trabalho tendo sido dada prioridade aos mais velhos mas, depois, as vacinas acabaram” porque “mais uma vez, o Executivo esqueceu-se da PSP”.

“No âmbito dos planos de vacinação dos grupos profissionais prioritários e de contingência da PSP para o contexto de saúde pública, cerca de 60% dos Polícias encontram-se já vacinados com a 1.ª dose da vacina. Decorridas três semanas dessa primeira toma, encontra-se em fase final a ministração da 2.ª dose”, diz a PSP ao i. “Os meus colegas estiveram numa mancha humana enorme no Porto, muitos deles, sem vacinas. São situações permitidas de qualquer maneira e nem sequer se pensa no risco que corremos”, desabafa Carmo, referindo-se à intervenção desta força de segurança na Invicta. É de lembrar que, no início da semana, um membro do Corpo de Intervenção da PSP explicou ao i que, durante três dias, as instruções foram muito claras: só deviam intervir quando alguém corria perigo de vida para não estarem debaixo dos holofotes da comunicação social. Por isso, Carmo adianta que “a realidade é que o Governo se focou na economia, os ajuntamentos aconteceram e a polícia, lá no meio, só conseguiu fazer intervenções complicadas, até porque a opinião pública se vira sempre contra a mesma quando age”.

“Há sempre colegas que são agredidos e, mais uma vez, o nosso risco não é tido em conta”, lamenta o dirigente que afirma ter contactado a direção nacional duas vezes sobre o processo de vacinação, não obtendo resposta, e reconhecendo que “há falta de vontade do Governo em valorizar as forças de segurança”.

É de mencionar que o ministro da Administração Interna Eduardo Cabrita disse esta quarta-feira que pediu esclarecimentos ao coordenador da task force, o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, sobre os motivos que levaram a que todos os polícias não tenham sido vacinados no prazo anunciado, final de maio. “O coordenador da task force disse que seriam todos [os polícias] vacinados até ao fim de maio isso não foi possível. Já pedimos esclarecimentos ao coordenador porque é que isso não se concretizou ao contrário do que tinha anunciado”, declarou no Parlamento.

“A prioridade dos polícias com funções operacionais, definida internamente desde o início deste processo, continua a ser estritamente seguida. Os demais Polícias e pessoal sem funções policiais encontram-se integrados no plano geral de vacinação, que se encontra em execução”, conclui a PSP, em resposta ao i.