O Fascismo, a ginástica sueca e a moca de Rio Maior

O que os fascistas suecos não percebem é o refinamento da cultura portuguesa, a filigrana de liberdade que mãos rudes destruiriam, a paixão pela democracia inacessível a corações gelados. Após quase cinquenta anos de democracia, após outros tantos de ditadura, Portugal evoluiu para outro patamar que rebenta com as escalas suecas: a Democracia Robusta.

por João Cerqueira
Escritor

Graças ao colunista do Público, João Miguel Tavares, os portugueses ficaram a saber que o seu país foi despromovido no ranking mundial das democracias. Um observatório sueco chamado V-DEM Institute considera que Portugal já não é uma democracia plena, colocando-o abaixo da Namíbia. De Liberal Democracy, Portugal passa a Electoral Democracy. Parecendo um pormenor de somenos, o V-DEM Institute comete a maior afronta a Portugal desde o Ultimato Inglês. Porque, segundo os seus critérios, ao deixar de ser uma Liberal Democracy, Portugal não está a garantir uma Justiça independente, leis transparentes, o respeito pela Constituição, uma Administração Pública imparcial, exercendo ainda pressão e censura sobre os Media.

Ora sendo Portugal um dos países mais livres, felizes e bem sucedidos do mundo, torna-se óbvio que este obscuro observatório sueco não passa de um grupo de extrema-direita que tentou destabilizar o governo mais democrático de sempre – como adiante se demonstrará.

O que os fascistas suecos não percebem é o refinamento da cultura portuguesa, a filigrana de liberdade que mãos rudes destruiriam, a paixão pela democracia inacessível a corações gelados. Após quase cinquenta anos de democracia, após outros tantos de ditadura, Portugal evoluiu para outro patamar que rebenta com as escalas suecas: a Democracia Robusta.

Este sistema é demasiado subtil para brutos nórdicos, que apenas podem invejar a sua eficácia. Ao contrário da frágil democracia sueca onde o Fascismo cresce como ervas daninhas, a nossa Democracia Robusta corta o mal pela raiz. Portugal pode orgulhar-se de ter governantes que, não apenas calam jornalistas fascistas, como ainda os ameaçam e descompõem ao telefone, por SMS ou no Twitter. Em Portugal, os jornalistas fascistas – e em verdade os restantes –  quando vêem alguém do governo até lhes tremem as pernas. Tal como no Clube do Bolinha menina não entra, em Portugal a extrema-direita também não entra – ou se já entrou vai corrida.

Acaso na pobre Suécia algum governante teve a coragem de a enfrentar com tanta valentia? São os suecos capazes de evitar que a distribuição de fundos europeus vá para projectos fascistóides? São capazes de impedir que o Banco Central da Suécia ou o Ministério Público sejam ocupados por admiradores de Mussolini? Não! Eles respeitam as regras viciadas da democracia liberal, confiam nas suas leis frouxas, dão rédea solta aos jornalistas – enquanto o Fascismo se exercita na ginástica sueca.

Admitamos que Portugal poderá até não garantir uma Justiça independente, leis transparentes, o respeito pela Constituição, uma Administração Pública imparcial, e exercer pressão e censura sobre os Media. Mas, o que é que isso interessa se, ao contrário dos suecos, aplicámos a moca de Rio Maior no Fascismo?