Em política o silêncio é uma mensagem

Um silêncio contido num olhar pode ter um significado mais eloquente do que uma expressão de amizade ou de amor. Isto é tão verdade que até pode chegar a ser perturbador. 

O silêncio é uma das muitas formas da arte de saber viver. Muitas vezes, precisamos de estar em silêncio para nos reencontrarmo-nos, para meditarmos sem ruído, para tentarmos decifrar o fluir da nossa vida. O silêncio é para o ser humano tão necessário como as palavras. Há momentos em que não conseguimos expressar os nossos sentimentos em palavras. Ou pensamentos. Ou tão só acontecimentos que vamos vivendo e que precisamos de compreender no silêncio da nossa interioridade.

Um silêncio contido num olhar pode ter um significado mais eloquente do que uma expressão de amizade ou de amor. Isto é tão verdade que até pode chegar a ser perturbador. Acontece que nem sempre é assim. Explico-me. É muito difícil aceitar ou entender os silêncios dos que têm responsabilidades políticas. 

A política convive mal com o silêncio. Quase sempre não dizer nada ou um simples «não comento» implica ausência de comunicação e comunicar sobre atos, decisões, sucessos e fracassos é uma obrigação dos atores políticos por muito que isso lhes custe em circunstâncias difíceis que fogem do seu controlo por inépcia ou imprevisibilidade ou outro tipo de contingência. 

Perante os acontecimentos após a final da Liga dos Campeões no Porto, surgiram muitas perguntas e escassas respostas. Era ou não de prever que as ruas iriam ser invadidas por uma multidão de adeptos entregues às comemorações e às bebidas? Era ou não de prever que as regras da Direção-Geral da Saúde impostas aos portugueses não iriam ser cumpridas? Era ou não de prever que a tal ‘bolha’ de que falou a ministra da presidência não iria acontecer?

Muitos erros ao permitir-se milhares de pessoas no Estádio do Dragão quando é proibida a assistência aos jogos da liga portuguesa e mesmo da Taça de Portugal. Perante tudo isto, que explicações foram dadas? Como foram esclarecidos os cidadãos eleitores? O que deverão pensar? A verdade é que ninguém apareceu para dizer fosse o que fosse. Más notícias, faz-se silêncio. Voltam-se as costas à espera que no dia seguinte já poucos se lembrem e o assunto passe. Umas vezes é assim; outras não. Em política, o silêncio é uma mensagem. Quer queiram, quer não.