É escandaloso!

Eu nem quis acreditar quando li a notícia…

Eu nem quis acreditar quando li a notícia… Vou transcrever o lead desta notícia que me chegou às mãos para que possamos todos pensar em que sociedade estamos, porque, a ser verdade o que ali se encontra, estamos a atravessar uma crise não apenas civilizacional, mas cultural. Transcrevo e peço que me acompanhem no meu raciocínio: ou estarei enganado, ou então estamos todos a ser enganados nas políticas que se estão a enquadrar.

A notícia reza assim: «Muitos não conseguiram médico de família, não podem viajar, nem rever amigos ou familiares, não conseguem tirar ou trocar a carta de condução, têm dificuldades em arrendar casa. Estão ‘deprimidos’, ‘ansiosos’, ‘stressados’, ‘quebrados’. Mas, dizem, pagam para viver em Portugal, declaram rendimentos às finanças, descontam para a Segurança Social e são ‘parte da força de trabalho’». 

Se vos dissesse já qual é o sujeito desta notícia perderia toda a graça, mas a seu tempo o direi. A seu tempo perceberão o quão ridículo é o pensamento que está por detrás desta notícia que, a ser verdade o seu conteúdo, mais do que ridículo, é preocupante.

Antes de mais, será que a notícia se refere aos jovens portugueses que estão nas condições acima referidas? Sim, há milhares que ainda não têm médico de família, nem podem viajar ou rever os amigos. Arrendar casa? É coisa que nem podem pensar! Tirar a carta? Vive comigo um seminarista que está há um ano para conseguir tirar a carta porque, volta na volta, o Governo manda parar por causa da pandemia. Andam ansiosos? Andam deprimidos e stressados? 

Pagam para viver em Portugal? Mas quem é que vive em Portugal e não paga para viver neste belo país à beira-mar plantado? Digam-me? Quem é que não paga? Talvez alguns consigam fugir aos impostos, mas a máquina está tão bem montada que não dá para não pagar para aqui viver. 

Não conseguem arrendar casa? Mas com a miséria dos ordenados que temos e com as rendas que nos obrigam a pagar, quem consegue, hoje, arrendar casa?

Declarar rendimentos às Finanças? Mas que parvoíce é esta? Eu não declaro os meus rendimentos às Finanças, porque quando abro o portal das Finanças eles é que declaram os meus rendimentos! Imagine-se! Eu só tenho de carregar num botão do portal para declarar que a declaração de rendimentos que as Finanças declaram está correto. 

Descontam para a segurança social? Aqui, todos declaram! Então os que estão com contratos precários nem se fala (um em cada cinco portugueses, ouvi esta semana nas notícias)!

Pode, perfeitamente, referir-se a qualquer jovem português. Qualquer um desses que não tem médico de família, nem viaja, nem vê amigos, não tem poder de alugar uma casa, quanto mais de casar, estão ansiosos, deprimidos, stressados.

Também poderia ser qualquer um dos portugueses que aqui nasceram, aqui sempre viveram e aqui têm a sua ascendência. Mas não! A notícia não está a falar de jovens, nem de velhos, nem de adultos ou adolescentes! 
A notícia diz o seguinte: «Grupo criado por brasileiros pede ao Governo que todos os que têm a sua manifestação de interesse já aprovada pelo SEF sejam regularizados». 

Isto é que nos deve preocupar! Alguém que escolhe um país onde uma parte significativa dos seus habitantes não consegue ter médico de família, nem casa, nem consegue ver amigos e familiares, e que anda deprimida e stressada, apresente como argumento principal para a sua legalização automática o que até agora estivemos a apresentar.

Este não é um problema dos imigrantes que nos procuram. 

Sim, o que foi apresentado na notícia, é um problema de todos aqueles que aqui nasceram e aqui hão de morrer sem casa, sem carta de condução, sem médico de família, stressados, deprimidos, ansiosos. Afinal os que nos procuram já começam a sentir que aqui, em Portugal, todos somos iguais e todos sofremos por igual as mesmas patologias desta cultura. 

Muitos vieram à procura de uma vida melhor, mas é só isto que temos para lhes dar… as nossas dores!