Novo Banco. “Infelizmente tive razão”, diz Fernando Ulrich

Presidente do Conselho Geral e de Supervisão do Novo Banco garantiu que remunerações e bónus não foram rejeitados pelos reguladores.

O antigo presidente executivo e atual chairman do BPI  disse que “infelizmente” teve razão quanto às necessidades de capital do Novo Banco subsequentes à resolução, considerando a recuperação da instituição uma “história de sucesso”. Para Fernando Ulrich uma “questão relevante” é saber se as perdas no Novo Banco “foram geradas até agosto de 2014”, ou depois. Não tenho elementos para responder com precisão, mas a minha impressão, a minha perceção, a minha sensação, com base na minha experiência e daquilo que fui observando, é que uma parte muito significativa destes 16,4 mil milhões de euros de capital utilizados para cobrir prejuízos, se deveu a decisões tomadas antes de agosto de 2014”, disse o economista.

O antigo presidente executivo do BPI disse que “à tragédia causada pela gestão do banco seguiu-se, a partir de agosto de 2014, uma história de sucesso”. No entanto, Fernando Ulrich considerou que “o esforço de capitalização do banco foi mal e injustamente distribuído”, uma vez que “a participação dos credores deveria ter sido bem maior e a do Fundo de Resolução muito mais pequena”.O responsável considerou ainda que a transmissão de obrigações feita no final de 2015 deveria ter sido maior, algo que “defendia ainda mais o interesse público do que aquilo que foi feito”. E disse: “Admito que tenha havido causas fortes para que não tenha sido da forma que eu gostaria”, concluiu.

Fernando Ulrich disse também que os “principais acionistas” do BES “foram responsáveis porque não controlaram nem supervisionaram adequadamente a atuação dos órgãos de administração”.O gestor disse ainda, sobre as necessidades do Novo Banco, que “visto de agora, junho de 2021”, foi “melhor que o problema tenha sido resolvido gradualmente e por fases” e considerou  também que a regulação e supervisão bancárias atuais “em Portugal e na zona euro são fortíssimas, competentes, independentes e muito intrusivas”. E lembrou: “Se houve coisas que não correram bem no passado, estão ultrapassadas. É um problema resolvido”, afirmou.

Não houve  objeção aos bónus

O presidente do Conselho Geral e de Supervisão do Novo Banco mostrou-se surpreendido com a retenção de 112 milhões de euros na injeção que o Fundo de Resolução (FdR) fez na instituição financeira. “Esta retenção de 112 milhões é muito surpreendente, inesperada, não tem qualquer fundamento e está em violação dos mecanismos contratuais previstos”, disse Byron Haynes,  que esteve ontem de manhã a ser ouvido na Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução.

Em relação às remunerações e bónus na instituição financeira garantiu que os supervisores nunca foram contra. “Estou muitíssimo ciente do interesse público. Acredito que também é a favor do interesse público ter um Novo Banco viável, que invista na economia portuguesa, nos seus clientes e nas PME [Pequenas e Médias Empresas], assim como nas grandes”.Byron Hayes disse também que acredita ser do interesse público “reter e atrair igualmente a melhor equipa de líderes disponível para fazer com que o Novo Banco passe por estes períodos conturbados”.

E salientou: “Temos que manter esta equipa de liderança para continuarmos a orientar o banco com segurança neste caminho de viabilidade”.Ainda na semana passada, o ministro de Estado e das Finanças criticou os prémios atribuídos aos administradores do Novo Banco por não serem adequados nem aceitáveis, considerando que o banco contornou as limitações existentes para o seu pagamento.Em causa está o pagamento de 1,86 milhões de euros em prémios que serão diferidos para 2022, após concluída a reestruturação do banco.