Alegado rei da heroína da Austrália marcado para morrer após armadilha com app

Ayik recomendou uma app de mensagens a cúmplices, sem saber que o FBI estava do outro lado da linha.

Hakan Ayik, de 42 anos, considerado um dos maiores traficantes de heroína na Austrália, pode estar em maus lençóis. No seguimento da operação internacional Trojan Shield (ver texto ao lado), que resultou na detenção de mais de 800 pessoas, acusadas de crimes que vão desde homicídio, a sequestro, tráfico de droga e armas, veio a público que Ayik, inadvertidamente, foi um dos grandes responsáveis pela popularização do ANOM, uma aplicação supostamente encriptada, que afinal fora criada pelo FBI. Subitamente, o alegado traficante ganhou muitos inimigos, à procura de vingança, é um homem marcado para morrer. “Dada a ameaça que ele enfrenta, faria melhor em entregar-se a nós o mais depressa que conseguir”, recomendou Reece Kershaw, comissário da Polícia Federal Australiana, em conferência de imprensa.

É difícil imaginar o choque de Ayik quando descobriu que, afinal, os telemóveis com a app ANOM que recebeu, e que recomendou aos seus cúmplices, tinham-lhe sido oferecidos por agentes à infiltrados. O alegado traficante, conhecido como o “gangster do Facebook” na imprensa australiana, devido à apetência por demonstrar o seu estilo de vida luxuoso online, tornou-se alvo da Trojan Shield, “devido ao seu posicionamento no submundo”, explicou um dos investigadores ao Australian Telegraph. “Ele era um alvo ótimo como alguém que em quem confiavam e que conseguiria distribuir esta plataforma com sucesso”.

De momento, pensa-se que Ayik, criado num subúrbio de Sydney, cujos pais eram imigrantes turcos, esteja há anos escondido na Turquia, fugido da justiça australiana, que o mantém há mais de uma década na sua lista de criminosos mais procurados. No entanto, isso não o impediu de se exibir rodeado de carros desportivos e prostitutas, ostentando a sua musculatura titânica e relógios com diamantes engastados, sendo visto em Hong Kong, Bombaim e Abu Dhabi, acabando por ser localizado em Istambul, pelos jornais australianos The Sydney Morning Herald e The Age.

Pensa-se que Ayik seja um dos dirigentes do chamado “Aussie Cartel”, que trafica o equivalente a mais de 1,2 mil milhões de euros em droga anualmente para a Austrália. Mas a sua boa vida pode estar prestes a acabar. “Se olhar para Ayik e o seu envolvimento, essencialmente ele foi o principal patrocinador do ANOM entre cartéis e nos meios criminosos”, explicou o superintendente da Polícia Federal Australiana, Jared Taggart, citado pelo Australian Telegraph. Talvez publicitar esse facto seja uma estratégia para obrigar o alegado traficante a entregar-se, por medo dos seus cúmplices. Ou talvez eles já tivessem noção do papel que Ayik teve. “Este aparelhos apareceram em todo o lado… é quase uma árvore familiar, e provavelmente poderias traçar o rasto de quase todos os aparelhos até ele”, continuou Taggart.