Vão-se as barragens, vêm os painéis

Há para todas as dimensões. Sem um plano estratégico associado, sem ninguém perceber onde começam e onde vão acabar, invadindo até zonas dunares, como na orla de Sines, onde se anunciou com toda a pompa e circunstância um megacentro de dados cuja alimentação energética até hoje está por explicar.

Há muita coisa que não bate certo neste país. Uma delas é a moda… das modas. Porque, traduzindo em linguagem popular, Portugal é um país de Marias que vão com as outras.

Não há racional. Simplesmente há, porque é moda. Alguém diz que é assim que deve ser e é assim que se faz lá fora e assim passa a ser cá dentro, apenas porque sim.

O que mais importamos são modas. Que as nossas têm essa originalidade: só são reconhecidas internamente depois de se imporem no exterior. E, portanto, mesmo aquelas que já eram nossas acabam por ser importadas.

Um dos fenómenos de moda mais extraordinário de norte a sul do país é a proliferação de painéis solares.

Não é apenas dos painéis caseiros, que cobrem parte dos telhados das nossas casas, prédios, armazéns ou fábricas – desses não vem mal ao mundo.

O problema são os milhares de hectares – sim, milhares de hectares – que se preparam para cobrir o país de lés a lés, do Alentejo ao Algarve, do Ribatejo ou das Beiras a Trás-os-Montes ou Minho, sem esquecer a Estremadura.

Há para todas as dimensões. Sem um plano estratégico associado, sem ninguém perceber onde começam e onde vão acabar, invadindo até zonas dunares, como na orla de Sines, onde se anunciou com toda a pompa e circunstância um megacentro de dados cuja alimentação energética até hoje está por explicar.

Qual é a estratégia associada ninguém sabe. Pela simples razão de que não existe.

Portugal andou décadas a investir em barragens hidroelétricas, vendendo a argumentação, aliás verdadeira, de que as barragens eram não só uma forma de gerar energia limpa e renovável como também de gerir os caudais dos nossos rios e o abastecimento de água à população.

Não obstante este plano nacional de barragens, veio a moda das eólicas e vá de espalhar gigantescas ventoinhas ou moinhos sem a beleza dos mais antigos e com muito mais impacto visual serras acima e montanhas e montes abaixo. Nem as ilhas escapam.

Logo aí, foi um ver se te avias, porque a poluição visual é coisa que não importa aos ambientalistas e os projetos logo surgiram uns atrás dos outros, uma vez mais sem se perceber qual a necessidade.

Mas foi sol de pouca dura, já que não foi preciso esperar muito para o negócio passar a ser a energia solar e os painéis fotovoltaicos.

E voltamos a não ter estratégia alguma, nem plano que se veja, e lá vamos ter o país coberto de painéis espelhados que os especialistas garantem que não vão produzir alterações climáticas, porque a última geração dos ditos já não reflete calor, garantem, e antes retém toda a energia.

A verdade é que já há um sem número de projetos e há também muito boa gente a planear o abate de eucaliptos para libertar os terrenos para mais uns quantos dos ditos painéis. Julgam que será mais rentável. Veremos.

E se muitos serão escondidos com uma cerca arborizada a tapar os hectares de lençóis espelhados, outros ficarão à vista de toda a gente. Sem falar dos postes de alta tensão que hão de garantir a distribuição.

Com tudo isto, vendem-se as barragens ou readaptam-se para receberem… painéis solares. Exatamente!!!

O Parque Solar de Benban, no Egito, com uma área correspondente a 5200 campos de futebol (uma área de 37 km2), é um dos maiores do mundo, tanto em área como em produção, e as imagens que correm mundo impressionam pela dimensão de tanto painel.

E são imagens desse gigantesco parque solar que surgem associadas a várias notícias que citam estudos de universidades norte-americanas e da NASA que concluem que se uma parte do deserto do Saara fosse coberta com painéis fotovoltaicos seria suficiente para suprir as necessidades mundiais de energia – além de que conduziria a um significativo aumento da pluviosidade em África e aumentaria exponencialmente a vegetação na região, salvando milhões de africanos.

E as mesmas imagens ilustram outras notícias que citam outros especialistas, segundo os quais, a concretizarem-se, esses projetos faraónicos no Saara produzirão efeitos catastróficos noutras partes do globo.

É assim. É tudo uma questão de modas. Como há décadas a do óleo vegetal recomendado em vez do azeite ou a da manteiga vegetal em vez da gordura animal.

Há especialistas para tudo, conforme os tempos e as vontades.

É uma questão de modas. Que não passam disso mesmo. E de interesses. Ou de negócios.

No meio disto tudo, o cidadão é quem paga. E bem. Ou não fosse a energia em Portugal das mais caras da Europa.

Vá lá perceber-se porquê!?

 

PS: A partilha de dados pessoais de ativistas russos pela Câmara de Lisboa com a embaixada da Rússia não é apenas um «erro lamentável» que possa colmatar-se com o anúncio de um processo de averiguações e um «pedido de desculpas público», como pretende Fernando Medina mais seus correligionários do regime. Os direitos, liberdades e garantias são letra morta da Constituição? E depois são os mesmos que se dizem tão preocupados com os direitos do homem na era digital, com entidades censórias e afins. Está o mundo do avesso!