É proibido proibir

É o tempo em que vivemos, onde assistimos a autos de fé que nos arrepiam a espinha. Não só em Portugal como no mundo inteiro. Ainda esta semana uma conhecida atriz americana foi obrigada a penitenciar-se em público pedindo desculpa ao mundo por ter participado num baile de debutantes

Reconheçamos: tudo isto começa a cheirar mal e ninguém gosta de viver numa lixeira. Até 1974, a esquerda tinha o monopólio da palavra liberdade, algo que tenta que seja verdade nos dias de hoje, embora tudo não passe da maior mentira do século XXI. Comecemos pelo último grito de liberdade dos socialistas: não estando o país em estado de emergência, o Governo determinou que algumas ruas da capital estejam fechadas em vésperas de Santo António. Ainda não se percebeu por que carga de água é que as autoridades nos podem proibir de frequentar determinadas ruas, mas é mesmo assim. O Governo decide e o povo acata ordeiramente. Nada disso se passou nos festejos do Sporting ou na final da Liga dos Campeões, mas os Santos Populares podem estragar tudo… Até os especialistas perguntam em nome de quem é que decidem as proibições se não nos dão os dados que fundamentaram essas decisões. Enfim.

É o tempo em que vivemos, onde assistimos a autos de fé que nos arrepiam a espinha. Não só em Portugal como no mundo inteiro. Ainda esta semana uma conhecida atriz americana foi obrigada a penitenciar-se em público pedindo desculpa ao mundo por ter participado num baile de debutantes que, supostamente, teria sido criado nos idos de 1800 para «reforçar os valores da elite sobre a classe trabalhadora». Ellie Kemper pediu desculpa e quase que se autoflagelou por ter participado no baile de 1999!

Voltando às proibições e mostrando como a esquerda do é proibido proibir está morta – agora os únicos resquícios dizem respeito a algumas questões fraturantes como a legalização da canábis. Para lá disso, querem proibir tudo: fumar-se em locais públicos, andar a mais de 30 km por hora na maioria das estradas, mandar as pessoas para casa mesmo não estando em estado de emergência… São tantas as proibições que não vale a pena estar sempre a recordar o facto de não se poder chamar pai a quem nos fez…

Continuando a falar em liberdade, o Executivo nomeou Pedro Adão e Silva para comissário dos festejos dos 50 anos do 25 de Abril, mas cuja organização já começou a trabalhar e só terminará a sua atuação em 2026, dois anos depois dos 50! Para o cargo foi escolhido um apparatchik rosa, que terá a ajudá-lo uma vasta equipa. É uma vergonha esta distinta lata de se fazer uma comissão que começa muito antes da festa e acaba muito depois de se terem recolhido as canas.

Uma breve pesquisa no Google sobre os 40 anos do 25 de Abril levou-me a uma notícia da TVI: «O ano de 2014 assinalará os 40 anos do 25 de Abril de 1974 e a revolução dos cravos será celebrada com eventos culturais e conferências, promovidos pela Presidência da República, o Parlamento ou os partidos.

A PR já anunciou que vai assinalar o 40.º aniversário do 25 de Abril de 1974 com uma conferência internacional, centrada ‘no espírito da democracia, a cultura de compromisso e os desafios do desenvolvimento’.

A conferência, que integra os Roteiros do Futuro da PR, tem como tema as Rotas de Abril, convida os portugueses a refletirem ‘sobre os novos caminhos que se pretendem trilhar, de forma a concretizar o espírito que presidiu à instauração da democracia em Portugal’.

João Lobo Antunes será o comissário da conferência.

Na AR, o gabinete da presidente, Assunção Esteves, disse à Lusa que o programa concreto das comemorações ainda não está definido, mas adiantou que sendo o 40º aniversário serão ‘mais extensas e intensas’. A ideia é ‘estendê-las ao longo de uma semana’ e incluir cinema, exposições, concertos e teatro abertos ao público, assim como um ‘ciclo de conferências com universidades e centros de reflexão e ideias’, num programa que está, ‘como habitualmente, sob condição de consenso entre os grupos parlamentares’». Tudo muito parecido com os mais de cinco anos de festejos anunciados! Ah! Repare-se que o comissário escolhido era um ilustre médico que tinha sido mandatário de Jorge Sampaio e de Cavaco Silva, mostrando o seu desapego às cores partidárias.

vitor.rainho@sol.pt