Banca. Despedimentos em massa

Depois de o Santander é a vez do BCP a anunciar saída de trabalhadores. Ao que o Nascer do SOL apurou são cerca de três mil rescisões. A este número há que juntar as reestruturações do Novo Banco e Montepio.

A banca continua a emagrecer os seus recursos. Depois de o Santander Totta ter anunciado despedimentos foi agora a vez do BCP seguir o mesmo caminho. Ao que o Nascer do SOL apurou, em cima da mesa estarão cortes na ordem dos três mil trabalhadores só nestes dois bancos, mas há mais.

Em abril, a entidade liderada por Pedro Castro e Almeida revelou ter chegado a acordo para a saída de 68 trabalhadores no primeiro trimestre do ano, no âmbito da reestruturação do banco, no entanto, anunciou que prevê eliminar mais 100 a 150 postos de trabalho «cujas funções se tornaram redundantes».

Um número que fica aquém do que foi revelado pelo presidente do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) que, em entrevista ao i, garantiu que as provisões feitas pelo banco para os despedimentos não é para abranger entre 100 a 150 pessoas, mas trata-se de «um processo muito, mas muito maior». Paulo Marcos chegou mesmo a dizer que o que está à vista é apenas «uma ponta do icebergue».

Um número que não cai bem nas contas do presidente da estrutura sindical, uma vez que, entende que não estamos a falar de uma empresa em dificuldades. «Estamos a falar de uma empresa que tem rácios de capital elevados, absolutamente ímpar no padrão europeu. É uma empresa que tem níveis de rendibilidade muito interessantes, apesar dos custos de contexto que a banca enfrenta em Portugal. É uma empresa incrivelmente eficiente, onde os depósitos e os créditos cresceram, o nível de moratórias baixou, onde o crédito em incumprimento é baixo. E nos últimos cincos anos deu cerca de dois mil milhões de euros em dividendos ao acionista espanhol, remunerou muito adequadamente o investimento do capital espanhol feito em Portugal», disse ao i.

Aliás, esta situação levou o SNQTB a convocar uma série de manifestações, que acabaram por ser canceladas após a primeira paralisação depois de o Santander ter manifestado alguma abertura em negociar. Ainda assim, Paulo Marcos deixou a promessa: «Face aos contactos mantidos nas últimas horas, o sindicato mantém a sua total disponibilidade para prosseguir o diálogo construtivo com o Banco Santander, que seja do interesse de todos os stakeholders», realçando que «o cancelamento da manifestação não significa, contudo, que este sindicato prescinda do recurso a outros instrumentos para salvaguardar os direitos dos trabalhadores do banco».

Número intensifica-se

A agravar estes números está o recente anúncio dos sindicatos (Mais Sindicato, SBC e SBN ) ao revelar que o BCP pretende reduzir o quadro de pessoal até mil trabalhadores. Uma situação que, de acordo com os mesmos, foi transmitida por Miguel Maya como uma decisão «necessária para a sustentabilidade do banco» e para garantir a competitividade face à concorrência. E adiantam que os trabalhadores vão ser contactados pela instituição financeira nas próximas duas semanas, departamento a departamento, sendo o tipo de proposta decorrente da situação de cada um.

Já de acordo com o SNQTB, o que foi transmitido pelo banco é que este processo de redução irá arrancar por um processo de reestruturação, com redução do quadro de pessoal, composto por propostas de rescisão por mútuo acordo (RMA) e de reforma antecipada. «No processo de propostas de RMA e de reforma antecipada não poderá existir qualquer pressão sobre os trabalhadores para que as aceitem, se essa não for a sua livre vontade. É fundamental o exercício do direito à reflexão e informação. A livre opção do trabalhador exige um período de reflexão e obtenção de informação sobre a proposta que lhe tenha sido apresentada. E o SNQTB rejeita quaisquer medidas unilaterais de redução do quadro de pessoal, bem como o anúncio antecipado da possibilidade de virem a ser adotadas pelo BCP. Reiteramos: não pode existir qualquer pressão sobre os trabalhadores», diz a estrutura liderada por Paulo Marcos.
No entanto, as três estruturas sindicais (Mais Sindicato, SBC e SBN) lembram que «apenas os trabalhadores com 57 ou mais anos serão elegíveis para reforma, mas podem, também, ser contactados para uma rescisão por mútuo acordo (RMA). No caso das RMA, o BCP propõe 1,4 da remuneração mensal efetiva (RME). Os trabalhadores que ponderem esta possibilidade, devem saber desde já que não terão direito a subsídio de desemprego. Se o processo correr bem do ponto de vista do banco, poderá não ser necessário chegar às mil saídas».

Mais cortes

O Banco Montepio também não fica alheio a esta tendência. No início do ano, a instituição financeira obteve a autorização da tutela para poder despedir 400 trabalhadores até setembro de 2023, no âmbito do estatuto de empresa em reestruturação. Os mesmos três sindicatos garantiram que o banco liderado por Pedro Leitão «apresentou um projeto de reestruturação que contempla um plano alargado de reformas antecipadas e de rescisões de contratos de trabalho por mútuo acordo que irá decorrer até 2021», mas sem quantificar quantos funcionários irão sair da entidade bancária. É certo que a instituição financeira tem revelado que «está a ajustar processos e a estudar a sua dimensão, tal como foi partilhado com os colaboradores e as respetivas estruturas».

Um caminho seguido pelo Novo Banco que, apesar de afastar os 1.500 despedimentos avançados pela Comissão de Trabalhadores, adiantou ainda que «o Novo Banco prevê uma redução média para os próximos três anos em linha com a redução anual que se tem vindo a concretizar, designadamente em 2020», adiantando que no último ano saíram cerca de 250 trabalhadores da instituição, o que eleva o total de trabalhadores que saíram do Novo Banco para cerca de 870 nos últimos três anos.

Recorde-se que os dados mais recentes da Associação Portuguesa de Bancos (APB) revelam que há 46.711 colaboradores no setor da banca, num total de 148 instituições de crédito.