Um beco sem saída!

Esta apostasia – ou seja, a rejeição da fé cristã – que começou a ser sentida nos fiéis está cada vez mais próxima de ser sentida no próprio clero. Não deixa de ser curioso que, em alguns casos, o garante da pureza da fé cristã seja o povo e não o clero. O próprio clero…

O cardeal Marx, anterior presidente da Conferência Episcopal Alemã apresentou há uma semana a sua demissão de bispo de Munique. As razões apresentadas na carta enviada ao Papa Francisco dizem respeito à má gestão que a Igreja tem feito das questões ligadas ao abuso de menores. O próprio cardeal escreveu por sua própria pena que a Igreja tinha chegado a um beco sem saída!

Mas o que se está a passar mesmo na Alemanha? O que leva um cardeal, até há pouco tempo, líder do colégio dos bispos alemães, que pretendia mudar a Igreja na Alemanha, mas também a Igreja em todo o mundo, a apresentar a sua demissão.

A Igreja na Alemanha está a atravessar uma fase complicadíssima da sua existência e o seu problema não está ligado ao abuso de menores. Há uns anos, o cardeal Robert Sarah, em Varsóvia, teve a coragem de dizer que existe uma «apostasia silenciosa»: «A Europa construída sobre a fé em Cristo, separada de suas raízes cristãs, está agora em um período de apostasia silenciosa».

Esta apostasia – ou seja, a rejeição da fé cristã – que começou a ser sentida nos fiéis está cada vez mais próxima de ser sentida no próprio clero. Não deixa de ser curioso que, em alguns casos, o garante da pureza da fé cristã seja o povo e não o clero. O próprio clero está a voltar a costas ao Evangelho para aderir a um certo tipo de modernismo que não é salutar na vivência da fé cristã.

Pelo contrário, há vivências do cristianismo vividas e apoiadas pelo próprio clero que são, elas mesmas, contrárias à fé cristã e à pregação do Evangelho. E este é, realmente, o grande problema da Igreja Católica na Europa e no mundo ocidental. O progressivo afastamento das fontes do Evangelho e da obediência da fé de todos os tempos levam ao engano dos fiéis e não ajuda o homem a encontrar-se com Deus e a conhecer-se a si mesmo.

O que está a acontecer na Alemanha é fruto desta apostasia silenciosa. Ela é mesmo formal e pública. Lembram-se de há uns anos atrás, ainda no tempo do Papa Bento XVI, aparecer uma carta assinada por cerca de trezentos teólogos e padres alemães e austríacos a pedir para que houvesse uma desobediência ao Papa em várias matérias (comunhão dos divorciados recasados, ordenação de homens casados e de mulheres, etc.)?

Pois é… habitualmente um cancro não diminui se não se fizer o tratamento adequado e muitas vezes o médico opta por retirar aquele tecido que está a contaminar todo o corpo.

O cancro aumentou! E no tempo do cardeal Marx como presidente da Conferência Episcopal Alemã pensou-se em fazer um sínodo da Igreja que vive na Alemanha. E isso tem lançado uma grande confusão nos últimos anos com lutas dentro das dioceses, com o Papa Francisco a pedir aos bispos que sejam moderados no tratamento das diferentes matérias que estão em cima da mesa.

Imagine-se bem! O Papa Francisco a pedir para ter calma aos bispos, ele que tantas vezes tem pedido aos bispos que falem com clareza o que sentem no coração. Quando foram publicadas as matérias que desejavam decidir para a Alemanha, Francisco chamou o cardeal Marx ao Vaticano para lhe dizer simplesmente que a Igreja alemã não pode decidir sobre matérias que pertencem à Igreja Universal: fim do celibato dos padres, comunhão dos divorciados recasados, casamentos dos casais do mesmo sexo, ordenação de mulheres, etc.

Marx decide não se recandidatar e agora, que está em curso um processo de investigação interna nas dioceses alemãs, pede para sair da diocese por se ver num beco sem saída quanto às questões da pedofilia.

O grande beco sem saída é este em que está metida a Igreja alemã e a Igreja no seu todo. Nós precisamos apenas de saber uma coisa: queremos ser modernos ou queremos ser cristãos? É a única coisa que temos de decidir, não há outra coisa para decidir em nenhum sínodo que a Alemanha ou qualquer outra nação possa vir a fazer. Porque o grande cancro é a desobediência desde a primeira hora da nossa criação.

Podemos ser modernos e cristãos? Sim! Mas não podemos abandonar a fé cristã só para agradar ao mundo moderno que tudo admite, sem buscar a vontade de Deus. Esse é o cancro que deve ser retirado deste corpo – o afastamento progressivo de Deus.