Portugal poupou 5,3% do PIB com juros mais baixos dos empréstimos

Mecanismo europeu prevê “ambiente operacional difícil” da banca portuguesa devido aos “desafios” criados pela crise da covid-19.

Entre 2011 e 2019, Portugal poupou cerca de 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB) por ter beneficiado de juros mais favoráveis dos empréstimos europeus concedidos no âmbito do programa de ajustamento. A garantia foi dada pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), que acrescentou: as condições “mais favoráveis” dos empréstimos durante a crise financeira “geraram poupanças orçamentais para os países sob programas de ajustamento”.

E, para chegar a esta conclusão, o MEE compara as taxas de juro dos empréstimos europeus com aquelas que os Estados-membros sob programa de ajustamento – Portugal, Grécia, Irlanda, Chipre e Espanha – teriam enfrentado nos mercados. As contas basearam-se nas taxas de juro estimadas a 10 anos para cada país no momento do pagamento das tranches e o custo atual dos empréstimos europeus.

Feitas as contas, comparando com os outros países que estiveram sob resgate, Portugal fica a meio da tabela. A Grécia poupou 43,2% do seu PIB e o Chipre teria gastado mais 11,9% caso se tivesse financiado nos mercados no pico da crise. Já a Irlanda e a Espanha apresentaram poupanças de 2,3% e 1,2% do PIB.

Ambiente difícil O Mecanismo Europeu de Estabilidade considera ainda que os bancos em Portugal terão de enfrentar um “ambiente operacional difícil” devido aos “desafios” criados pela crise da covid-19, atenuados agora pelas moratórias e pelo alívio na supervisão. “O uso extensivo de medidas de apoio governamental e de tolerância na supervisão, a grande percentagem de empréstimos sob moratória — especialmente para empresas não financeiras –, bem como os esforços continuados para diminuir o nível de crédito malparado reduziram o rácio” destes empréstimos, refere.

No entanto, adianta que, “no futuro, os bancos [em Portugal] terão de fazer face a um ambiente operacional difícil” e dá uma explicação: “a rentabilidade dos bancos enfrenta desafios decorrentes da constituição de provisões para perdas” e o “sistema financeiro português ainda não passou pela onda de consolidação bancária interna verificada noutros países da zona euro”, justifica o MEE.

A pandemia de covid-19 levou a uma recessão económica de 7,6% de 2020, após um crescimento de 2,5% em 2019, devido a uma queda acentuada do consumo privado e das exportações devido ao aumento das medidas de contenção e da incerteza relacionada com a doença.

Fazendo um retrato sobre os efeitos da pandemia na banca portuguesa, o MEE indica que “a pandemia travou a recuperação do setor bancário e reduziu as métricas de rentabilidade, embora a moratória dos empréstimos tenha servido de amortecedor”, numa alusão às medidas adotadas devido à crise.

O ano passado foi, assim, marcado por “uma forte contração económica”, bem como por um “défice substancial” devido ao “esforço orçamental discricionário” e ainda por um “défice comercial que aumentou à medida que as importações ultrapassavam as exportações”, elenca a estrutura.