A malapata de Eduardo Cabrita

Já vem de longe a boa fama da Polícia Judiciária portuguesa em operações de resgate de crianças desaparecidas – seja por fugirem de casa ou por serem vítimas de crimes, mais frequentemente rapto ou homicídio – e de apuramento da verdade em casos semelhantes. E raros são os casos que ficam por resolver ou em…

O pequeno Noah, de 30 meses (dois anos e meio), foi resgatado com vida ao fim de 35 horas desaparecido entre montes, riachos, poços, mato, pinhais, cercas, ravinas e tantas outras armadilhas e um sem número de privações e questões ainda por esclarecer.

O que mais importa é que foi encontrado com vida e bem de saúde e já está com a família. Tudo o resto o tempo se encarregará de aclarar e trazer à luz do dia.

Foi um sucesso a operação das forças de segurança, da proteção civil, de investigação e das dezenas de voluntariosos e solidários populares, portugueses e estrangeiros, que nunca desistiram nem interromperam as buscas até ao feliz desfecho final.

Já vem de longe a boa fama da Polícia Judiciária portuguesa em operações de resgate de crianças desaparecidas – seja por fugirem de casa ou por serem vítimas de crimes, mais frequentemente rapto ou homicídio – e de apuramento da verdade em casos semelhantes. E raros são os casos que ficam por resolver ou em que nem sequer é encontrada a vítima, como os de Maddie ou de Rui Pedro.

Mas esta operação, coordenada pela GNR e acompanhada pela PJ, merece reconhecimento de todos, não apenas pelo resultado, mas pela forma como foi conduzida, com a prestação de informação à comunidade na medida certa: exclusivamente o essencial sobre o andamento das buscas e averiguações, para acautelar e não prejudicar nem umas nem outras.

Sem excessos e sem dramatismos e especulações escusadas, nem aproveitamentos dos costumeiros emplastros.

Ora, quando assim acontece, há que saber reconhecer também as responsabilidades políticas inerentes, que não existem só quando as coisas correm mal.

No mesmo dia, aliás, a mesma GNR foi célere na deteção e detenção de um grupo de imigrantes que se preparava para reabastecer de combustível a partir da praia de Aljezur uma suspeita embarcação deixada ao largo.

E ainda no mesmo dia ficou a saber-se que Portugal continua entre os países mais seguros do mundo (só atrás da Islândia, Nova Zelândia e Dinamarca) no estudo do Instituto para Economia e Paz.

Eduardo Cabrita tem sido massacrado semana após semana por sucessivas aselhices na tutela da Administração Interna, seja por erros próprios do ministro, por ação ou omissão dos serviços dependentes do seu Ministério ou até por erros alheios mas pelos quais acaba a dar a cara. O mais grave dos quais foi, sem dúvida, a indecorosa tentativa de desresponsabilização do Estado no caso da morte de um cidadão ucraniano às mãos de inspetores do SEF, cuja responsabilidade política é do ministro, que manteve incólume no seu posto, durante meses, a diretora dos serviços que nada fez perante o apuramento de factos de gravidade extrema.

Em plena campanha para as eleições presidenciais, com a sua manifesta inabilidade para comunicar, Eduardo Cabrita convocou uma conferência de imprensa para anunciar a sua não demissão e lembrar ao Presidente Marcelo – que expressamente sugerira a incapacidade do ministro da Administração Interna para continuar no exercício das respetivas funções – que foi ele, com os seus resultados na prevenção e combate aos incêndios a partir de 2018, que lhe permitiu a recandidatura, uma vez que fora o próprio chefe de Estado a subordiná-la à não reedição de tragédias como as dos incêndios de 2017.

Assunção de responsabilidades políticas não faz parte da cultura democrática do país e menos ainda do Governo e do PS chefiados por António Costa.

O que se passou no caso de Ihor Homeniuk é inaceitável. Como é inacreditável o que se passou na Câmara de Lisboa liderada por Fernando Medina em matéria de desrespeito pelos direitos., liberdades e garantias dos cidadãos no caso que fica conhecido por ‘Russiagate’.

O comportamento de delação pidesca da Câmara de Lisboa a embaixadas e Governos estrangeiros, cedendo-lhes (e está provado que o fez também em relação ao MNE russo) dados pessoais – como nomes, moradas e números de telefone – de ativistas no exercício dos seus mais basilares direitos de manifestação é indesculpável.

Por mais procedimentos que possam ser invocáveis, nada o justifica, sobretudo à luz das tão recentes e rígidas normas de proteção de dados.

Continuar a falar-se de Eduardo Cabrita como se fosse uma exceção neste Governo e no PS de António Costa é como bater no ceguinho ou no gordinho de quatro olhos que é sempre a vítima de bullying e da crueldade do resto da criançada.

Eduardo Cabrita é desastrado e cometeu erros gravíssimos. Mas não é o único neste nosso Estado.

Longe disso, infelizmente.

E tem resultados bem visíveis, que em muitos outros não se vislumbram de todo.

Mas, além do mais, tem um azar dos Távoras. Ou não terminasse a semana com um acidente de viação no regresso de uma deslocação a Portalegre – o automóvel em que seguia o ministro despistou-se e colheu mortalmente um trabalhador das obras de manutenção na A6.