Fernando Medina – Crónica de uma morte anunciada

Quanto mais aparece Carlos Moedas, mais  se torna a alternativa serena, competente e confiável e mais  Fernando Medina desaparece…

Quando se estabeleceu legalmente o limite de mandatos autárquicos, logo nasceu uma prática para contorná-lo por interposta pessoa: os autarcas passaram a sair a meio do último mandato, deixando a presidência da autarquia para um seu delfim. Compreende-se, o poder é dificílimo de atingir e a passagem de testemunho sem ir a eleições afigura-se o caminho mais curto para assegurar a presidência de uma Câmara.  A população, pouco habituada à transparência dos métodos e pouco exigente no escrutínio, tem dado a vitória a quem assim se comporta. Em Lisboa, António Costa, eleito em 2013, e desejando o governo, trespassou a câmara em 2015, a meio do mandato, a Fernando Medina. Este, em 2017, venceu as eleições, mas perdeu a maioria absoluta governando a partir de então com um acordo de coligação com o Bloco de Esquerda.

O mandato autárquico socialista de 2017-2021 em Lisboa foi alinhado com o Governo de António Costa: no auge da geringonça, o PS teve no Bloco de Esquerda e no PCP parceiros leais e submissos que aprovaram orçamentos com língua de palmo. Em Lisboa, esses partidos fizeram tanta oposição quanto fizeram na Assembleia da República, isto é, nenhuma. À direita, a dinâmica das eleições legislativas também se verificou: Assunção Cristas foi saindo de cena devagar à medida que o CDS baixava nas sondagens com a subsequente perda de liderança do partido. O PSD, com um resultado muito fraco nas eleições autárquicas de 2017, raramente esteve à altura do seu papel de oposição. A colagem do executivo socialista lisboeta ao governo nacional, de Medina a Costa, surtiu efeitos.

Foi fazendo caminho a ideia de que os socialistas governariam para sempre a cidade e o país. O pesado orçamento que os socialistas sempre reservam para propaganda, ajudam a explicar o logro. Há muitas clientelas, muita gente paga em muitos lugares, muito comentador ‘independente’ a dizer que está tudo bem, que não há alternativa. Aliás, o próprio presidente da câmara foi transformado em comentador com programas da tv e na rádio. Neste contexto, abafador de qualquer assomo de oposição, qualquer crítica era morta à nascença.

Para vencer as eleições autárquicas de 2017, Fernando Medina prometeu 6000 casas em renda acessível e 14 centros de saúde, entre várias outras benesses que, escusado será dizer, não cumpriu. Ainda assim, tudo parecia encaminhar-se para uma vitória fácil nas autárquicas de 2021.

Só que não. A apresentação do engenheiro Carlos Moedas como candidato de uma coligação de centro-direita deu um rosto à vontade de mudança. Carlos Moedas tem um curriculum irrepreensível, reputação à prova de bala, uma simplicidade no trato que o tornam acessível a toda a gente, um jeito caloroso e sorridente que fazem as pessoas confiarem nele.

Quanto mais aparece, mais Fernando Medina desaparece, e Carlos Moedas se torna a alternativa serena, competente e confiável. Pode dar-se o caso de Fernando Medina já estar morto e não saber…