Região de Lisboa vai passar todas as linhas vermelhas

Portugal é o terceiro país europeu onde a variante, 60% mais transmissível, se torna dominante, depois de Reino Unido e Rússia. Ministério da Saúde remete decisões para o Conselho de Ministros.

A região de Lisboa deverá passar nos próximos dias o patamar dos 240 casos por 100 mil habitantes, sendo que na prática, por haver habitualmente ao fim de semana uma quebra nos diagnósticos e reporte por parte dos laboratórios, já terá chegado a esse patamar, que junto com um RT acima de 1,20 coloca a região na zona de vermelha da matriz de risco adotada pelo Governo e faz com que Portugal volte a ser dos países europeus com maior incidência semanal de novos casos, só atrás da Rússia e do Reino Unido – países onde a variante indiana também já é dominante, o que agora está confirmado em Lisboa.

Nos últimos sete dias, foram diagnosticados na região de Lisboa mais de 5 mil casos de covid-19 e o país registou mais de 7 mil novos casos, quase três vezes mais do que chegaram a ser quando se registou o mínimo de incidência a nível nacional no início de maio. No caso de Lisboa, são oito vezes mais, com a incidência ontem já acima dos 210 casos por 100 mil habitantes a 14 dias. Os internamentos continuam a aumentar a um ritmo lento, mas pelo menos na região de Lisboa a estimativa feita pelos peritos é que se chegue à linha vermelha de ocupação em unidades de cuidados intensivos esta semana. A nível nacional, foi fixado como patamar de alerta haver 245 doentes com covid-19 internados em UCI, sendo o limiar de 88 doentes na região de Lisboa, a partir do qual pode ser necessária maior logística para abrir camas, desviar equipas ou fazer transferências.

Na última sexta-feira, o relatório de monitorização das linhas vermelhas divulgado pela DGS dava também conta de um aumento dos casos isolados e com rastreios epidemiológicos fora do prazo de 24 horas, entre os dias 10 e 16 de junho 17% dos casos. Como os diagnósticos aumentaram significativamente de uma semana outra, fazendo as contas ao que representam as percentagens disponibilizadas pela DGS e o INSA passou-se de 485 para 1054 casos com inquéritos atrasados numa semana. A linha vermelha estabelecida em março foi de que os inquéritos dentro do prazo deviam manter-se acima dos 90%, o que não acontece há três semanas, sendo o valor na última semana de 83% à conta da situação em Lisboa.

Variante indiana domina O Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge revelou ontem que os dados preliminares das amostras de Sars-CoV-2 analisados geneticamente confirmam que a prevalência da variante delta, antes designada de variante indiana, é superior a 60% em Lisboa e Vale do Tejo, sendo ainda inferior a 15% na região Norte. Como o i avançou na semana passada, os especialistas que dão apoio técnico ao Governo já tinham indicação de que a variante indiana era dominante em Lisboa, com base na monitorização feita numa ferramenta desenvolvida com a rede de laboratórios Unilabs, no início do ano usada precocemente para detetar a expansão da variante inglesa (alpha), associada então a uma falha na amplificação do gene S nos testes moleculares PCR usados no diagnóstico de covid-19. Nas últimas semanas, tornou-se cada vez mais frequente, nomeadamente em Lisboa, haver resultados em que já não havia esta falha do gene S, o que indiciava que outra variante, com elevada probabilidade a indiana, já representava mais de 50% dos novos casos em Lisboa. No início de maio, eram cerca de 10%. O INSA adiantou este domingo que os dados genéticos agora obtidos sugerem que “apenas 2,5% dos casos associados à variante Delta apresentam, ainda, a mutação K417N”. Em causa a variante indiana com uma mutação adicional, que começa a ser designada de Delta Plus, que no início do mês foi uma das justificações usadas por Inglaterra para retirar Portugal da lista verde de viagens turísticas.

Na altura, as bases internacionais de compilação de análises de sequenciação mostravam que estavam confirmados 90 casos destes em todo o mundo, 12 em Portugal e 36 em Inglaterra. Trata-se de uma mutação que também já tinha sido identificada na variante sul-africana, e que tem sido motivo de vigilância mais apertada por poder significar menor eficácia vacinal, o que ainda está em estudo. Segundo o INSA, este resultado sugere que a variante Delta com esta mutação adicional “não ganhou expressão relevante em Portugal”.

Segundo a iniciativa internacional Gisaid, que visa a partilha rápida de informação sobre vírus e onde se inclui nos últimos meses a monitorização da SARS-CoV-2, Portugal é o terceiro país europeu onde a variante delta se torna dominante, depois do Reino Unido e da Rússia. Isto porque apesar de a variante ser dominante em Lisboa, é em Lisboa que tem havido a grande maioria os casos no país. A plataforma reconstrói a expansão desta variante, que terá começado a circular na Índia em julho de 2020. Na Europa, o primeiro foco comunitário identificado foi no Reino Unido, e houve várias introduções em dezenas de países.

João Paulo Gomes, responsável pela monitorização da evolução genética do SARS-Cov-2, defendeu ontem na SIC que é preciso acelerar a vacinação e propôs que um pequeno retrocesso no desconfinamento nos ajuntamentos na noite de Lisboa. O Governo remeteu na semana passada novas avaliações para quando houvesse estes dados do INSA, sendo que com as atuais regras o que está previsto é que concelhos duas semanas consecutivas acima dos 240 casos por 100 mil habitantes, voltem a ter horários de fecho às 15h30 ao fim de semana, o que aconteceu em Sesimbra. Na semana passada, Lisboa já estava com uma incidência superior a 300 casos por 100 mil habitantes a 14 dias, mas como era a primeira avaliação neste patamar, este fim de semana foi normal, exceto a circulação de circular para fora da AML que vigorou até à madrugada desta segunda-feira. Questionado ontem pelo i sobre se serão antecipadas medidas para a Área Metropolitana de Lisboa, o Ministério da Saúde remeteu a avaliação e eventuais decisões para o conselho de ministros desta semana.