Verão Azul

 Existe uma série muito famosa no início dos anos 80, que me ficou na memória de adolescência

Por Nélson Mateus e Alice Vieira

Querida Avó,

Esta semana começa o Verão.

Não é a minha estação do ano preferida.

Claro que gosto do verão, das idas à praia, as memórias das férias, as refeições mais leves (ou não), os gelados e tudo o resto. 

Mas isso só é bom mesmo quando se está de férias. O resto do tempo que temos que trabalhar, com o calor, é infernal. Já para não falar nas noites mal dormidas. 

Como nunca tive família emigrada, férias com os ‘avós da terra’, e nunca fui de andar de prancha na mão, nem isso me deixa com saudades do verão. 

No entanto, existe uma série muito famosa no início dos anos 80, que me ficou na memória de adolescência. 

Recordas-te da Verão Azul? 

O que eu gostava desta série ‘à moda dos Cinco’ em versão espanhola. Todos os sábados à tarde lá estava eu de frente à TV, para ver as aventuras do grupo de sete amigos, que se junta durante as férias de verão na costa sul da Espanha. Com idades entre os 8 e os 17 anos o grupo convivia com uma pintora e um marinheiro, os adultos da série. Tal como nos livros da Enid Blyton, o grupo é levado a resolver mistérios complicadíssimos.

A série também abordava temas como a adolescência, a gravidez, a ecologia, o namoro, a diferença de gerações, o álcool, drogas e tabaco…

Ou seja, um argumento excelente para os adolescentes, como eu era na época, e para os seus familiares.

Lembras-te do ‘Piranha’? Um gorducho sempre envolvido em problemas que acabavam por ser resolvidos pelo grupo. 

Bem fazes tu que passas o verão na Ericeira, onde o mar é mais azul e onde o ‘inverno vai passar o verão’.

Assim foges ao calor insuportável da capital.

São tantas as memórias que tu tens da Feira do Livro com um calor insuportável.

Sabes que em Nerja (local na Andaluzia onde foi gravada a série) existe o roteiro ‘Verão Azul’ e uma rotunda com o barco do ‘Chanquete’ (o velho marinheiro)?

Um dia damos lá um salto.

Este ano, para mim, é mais o ‘vá para fora cá dentro’.

Bjs

Querido neto,

Antes de mais começo por te confessar que nunca vi nenhum episódio dessa série de que falas. Nesse tempo o meu filho tinha 12 anos e andava por esse país fora em torneios de xadrez, não lhe ficava muito tempo para a televisão. A minha filha, com 13, sempre foi muito mais de se enfiar no sofá a ler. Eu também via muito pouco. O meu marido deve ter visto, claro, mas nós raramente falávamos de televisão.

Portanto, estamos conversados.

Ao contrário de ti, eu gosto muito do verão.

E eu sempre passei o verão em sítios de pouco calor. Quando os meus filhos eram pequenos e vivíamos na Ericeira — íamos passar o Verão à Costa Nova, perto de Aveiro. 

É uma praia lindíssima. Uma vez eu estava lá sozinha, a acabar de escrever o Lote 12—2º Frente.  Precisava de estar num sítio onde ninguém me incomodasse. E eu costumava ir contando à minha filha como é que a história estava a decorrer. Não tinha telefone (telemóveis nem eram sonhados) por isso vim ao café e pedi para telefonar. Os pescadores estavam nas mesas a jogar dominó numa barulheira infernal.

Quando ela atendeu, atirei logo:

– Olha, é só para te dizer que matei a tia.

E ela, tão dentro da história como eu, só disse:

– Mataste a tia? Porquê?

– Sei lá porquê… Acho que não tinha outra solução senão matá-la…

– E agora?

– E agora que é que queres que faça? Não a posso ressuscitar! E, se queres que te diga, acho que fiz muito bem.

E, de repente, noto que há um silêncio sepulcral no café e toda a gente está a olhar para mim…

Lá desliguei o telefone, lá lhes expliquei que estava a falar de um livro que estava a escrever, e a personagem é que tinha morrido, entenderam bem? A personagem!!

Acho que até eu sair eles não estavam muito convencidos.

E eu corri para casa, com medo de ter a polícia à porta…

Ora diz lá se isto não tem mais graça que a Verão Azul?

E como diria o outro, se fores à praia ‘put the cream’!

Bjs