Hospitais de Lisboa já receberam instruções para reforçar Cuidados Intensivos

Hospitais estão a reforçar as camas dedicadas à covid-19. Região tem 64% dos doentes internados com covid-19 no país mas unidades ainda não tiveram de cancelar cirurgias. Enfermarias cheias com outros doentes preocupam.

A orientação foi transmitida aos hospitais da região de Lisboa na semana passada pela Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva e pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo: “face à evolução epidemiológica, com crescimento do número de casos de covid-19 e covid-19 críticas”, a recomendação aos hospitais foi que passassem ao “nível seguinte” do plano de contingência em matéria de vagas para doentes com covid-19 em cuidados intensivos (UCI), lê-se numa comunicação a que o i teve acesso.

Ao todo, foi proposto aos hospitais que passassem de uma lotação de 71 camas de UCI afetas à covid-19 para 92, reduzindo as camas de UCI para doentes não-covid de 204 para 177. O total continua a ser de 275 camas para doentes críticos na região de Lisboa, pelo que nesta altura não foi ainda pedido que fossem abertas camas adicionais às que estão a funcionar. O esforço distribui-se por todos os hospitais. O eixo do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (que abrange também o Garcia de Orta, Barreiro-Montijo, Setúbal e Cascais) passa de 24 para 32 camas de UCI afetas à covid-19; o eixo do Lisboa Central (que abrange S. José, Curry Cabral, Médio Tejo, Vila Franca de Xira e Hospital de Santarém) de 24 para 30 e o eixo do Centro Hospitalar Lisboa Norte, que além do Santa Maria inclui o Hospital Beatriz Ângelo, o Dr. Fernando Fonseca, na Amadora, e o Centro Hospitalar do Oeste também de 24 para 30.

Ao que o i apurou, a alocação de mais camas para doentes com covid-19 já estava a ser seguida pelos hospitais, em alguns casos excedendo já o proposto, mas a orientação serviu de baliza para um reforço uniforme na região. A esta altura, a maioria dos doentes internados com covid-19 pertence à região de Lisboa e Vale do Tejo e ainda não ultrapassam a capacidade que estava inicialmente ativada em matéria de cuidados intensivos, mas a perspetiva é que isso possa acontecer nos próximos dias. Na grande Lisboa, a capital continua a ter a incidência mais elevada, tendo já atingido os 372 casos por 100 mil habitantes a 14 dias, mas o aumento dos diagnósticos verifica-se em toda a área metropolitana.

64% dos doentes internados na região de Lisboa A Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo confirmou ontem ao i que estavam internados nos hospitais da região no domingo (data do último balanço) 286 doentes com covid-19, 223 em enfermaria e 63 em cuidados intensivos. Representam a esta altura 64% dos doentes 407 doentes internados com covid-19 no país. A nível nacional, há mais doentes internados com covid-19 neste momento do que havia há um ano, mas em junho de 2020 a situação em Lisboa já era já de maior sobrecarga, com mais de 300 doentes com covid-19 hospitalizados.

Agora são mais doentes de faixas etárias mais novas, sendo o maior grupo na faixa etária dos 40 aos 49 anos, ao que o i apurou, 20% dos doentes internados no total na região de Lisboa. As faixas etárias dos 50, 60 e 70 somam, cada uma, uma fatia de 16% a 17%.

Em relação ao ano passado, junto com o menor peso de doentes mais velhos, destaca-se a diminuição da mortalidade. Há no entanto casos de pessoas vacinadas internadas e o aumento da incidência a nível geral já está também a refletir-se em mais casos entre octogenários, que na última semana voltaram a passar os 200 casos no país, o que não acontecia desde abril, revelam os dados divulgados pela DGS por faixa etária, que o i analisou.

Nos jovens, o relato feito ao i é que os quadros são menos graves, mas continua a haver situações de descompensação rápida também nas faixas etárias mais jovens. E com o aumento da incidência, volta aos hospitais o “frio na barriga” dos últimos meses, descreveu ao i fonte hospitalar. Neste momento, uma das preocupações é não ter de voltar a cancelar cirurgias não urgentes e que, em caso de serem necessárias transferências, esse seja um processo ágil.

O Hospital de Santa Maria, Amadora-Sintra e Beatriz Ângelo confirmaram ontem ao i que se verifica um aumento paulatino dos doentes internados, não tendo ainda sido necessário cancelar a atividade não urgente, nomeadamente cirurgias. O Hospital de Santa Maria adianta que nos últimos dois meses teve mesmo máximos de atividade desde o início da pandemia. Em maio, o número de cirurgias superou mesmo os níveis de 2019.

Os hospitais estão a responder dentro dos planos de contingência preparados. Uma preocupação também comum nos hospitais é que neste momento as enfermarias têm uma elevada ocupação com outros doentes não-covid, mais descompensados, pelo que um aumento muito significativo das necessidades de internamento de doentes com covid-19 implicaria um esforço maior. Ao mesmo tempo que se vai entrar num período de férias. Suspende-las de novo este ano é um cenário as fontes hospitalares ouvidas pelo i afastam para já. Já esperado é que, como acontece habitualmente no verão, a retoma de atividade cirúrgica possa ser menor do que foi possível nos últimos dois meses, sendo o tempo que vai demorar a controlar a epidemia em Lisboa a nova incógnita.

Questionada ontem pelo i sobre se estão previstas medidas adicionais, a Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo garante que possui capacidade instalada, salientando que em caso de necessidade o SNS funciona em rede. “No que diz respeito às UCI, a situação é acompanhada diariamente pela ARSLVT e pala CARMNI (Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva) e em função dessa análise são tomadas medidas para ajustar a disponibilidade de camas”, indicou a ARS.