A responsabilidade de Eduardo Cabrita

Há cerca de uma semana que o ministro da administração interna não sai das páginas da imprensa e das aberturas dos telejornais. Não fosse o escândalo Berardo, a exposição e vulnerabilidade de Eduardo Cabrita seriam muito maiores.

Por Judite de Sousa – Jornalista

A imagem televisiva de Marcelo Rebelo de Sousa e Eduardo Cabrita um ao lado do outro à porta da Polícia Judiciária é penosa. E reveladora do que está bem e do que está errado no exercício das funções públicas e na necessária transparência com que se enfrentam os casos mais melindrosos que exigem explicações. 

Há cerca de uma semana que o ministro da administração interna não sai das páginas da imprensa e das aberturas dos telejornais. Não fosse o escândalo Berardo, a exposição e vulnerabilidade de Eduardo Cabrita seriam muito maiores. O que aconteceu então? Algo de grave: um homem morreu num acidente em que esteve envolvida a viatura em que seguia o ministro. Uma situação tão delicada quanto esta não pode passar em claro como se nada fosse. Se existem responsabilidades elas têm que ser conhecidas. E assumidas. 

O Presidente encarou os jornalistas e respondeu que a matéria de facto deveria ser investigada. Questionado ao lado de Marcelo sobre o incidente, Eduardo Cabrita falou não falando dizendo que não era o momento para comentários. Esteve bem o Presidente. Esteve mal o ministro. 

Do meu ponto de vista, António Costa não irá mexer no Governo antes das eleições autárquicas. Estamos a pouco mais de dois meses e no centro das preocupações volta a estar a crise pandémica, agora na quarta vaga e com tendência para o aumento de novos casos, novas medidas de confinamento num cenário de muitas incertezas. Neste quadro, não há espaço para ruído político por muito imperativo que seja dar um novo fôlego à governação. Um dado parece, no entanto, configurar-se: independentemente dos resultados e das leituras políticas das autárquicas, outubro irá pôr à prova a capacidade e a agilidade de António Costa em afastar os ministros mais desgastados, em encontrar novas soluções e credibilizar o executivo para enfrentar os problemas da pandemia e da situação económica que vão subsistir por tempo imprevisível.