Pandemia põe travão na erradicação da fome

2030 é o ano em que é apontado em que a fome deveria estar erradicada. Nações Unidas e OCDE alertaram para obstáculos provocados pela pandemia.

A erradicação da fome até 2030 é um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas – a chamada Agenda 2030 – definidos em 2015. A meta, no entanto, está cada vez mais longe, segundo alerta um relatório conjunto da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). A pandemia é considerada a principal culpada do atraso nos esforços por atingir este objetivo. O causador deste agravamento é, além das dificuldades sentidas no setor da agricultura e da alimentação, a diminuição do rendimento disponível e o aumento dos preços dos produtos alimentares, o que “tornou mais difícil para muitas pessoas o acesso a alimentos saudáveis”, diz o relatório.

As diferenças sentem-se ainda mais em países com baixo rendimento. Na África subsariana, região onde se calcula que 224,3 milhões de pessoas foram vítimas de desnutrição entre 2017 e 2019, “espera-se que a disponibilidade de alimentos por habitante aumente apenas 2,5% durante a próxima década e que alcance as 2.500 calorias diárias em 2030”, pode-se ler no relatório. Uma realidade que é específica das regiões do globo com baixos rendimentos, ao passo que, segundo garante o relatório, “a disponibilidade média global de alimentos por pessoa aumentará 4% nos próximos dez anos, atingindo pouco mais de 3025 kcal (quilocalorias por dia em 2030”, principalmente em países com rendimentos médios.

 

Crescimento quase nulo

Segundo as Nações Unidas e a OCDE, os próximos 10 anos deverão ver a produção agrícola mundial aumentar em cerca de 1,4% anuais.

Ainda assim, há uma luz no meio da escuridão: os preços dos produtos alimentares deverão tornar-se cada vez mais baixos na próxima década, anulando o crescimento que se fez sentir no segundo semestre de 2020, em parte causado pela pandemia da covid-19 e pelo aumento de importações que se fez sentir na China. A diminuição dos preços será também uma consequência do crescimento que se tem feito sentir na produtividade.

 

Proteínas… nem para todos

Já sobre o consumo de proteína animal, o relatório realça diferentes conclusões para diferentes estratos: para os países com altos rendimentos, o consumo de proteína animal deverá estabilizar, registando-se uma substituição da carne vermelha por aves e laticínios, o que se justifica, em certos casos, com questões ambientais.

Já nos países de rendimento médio a pecuária e a pesca continuarão a ser as principais fontes dos produtos alimentares. “A disponibilidade de proteínas animais per capita vai aumentar 11%, reduzindo a diferença de consumo com os países de rendimento elevado em 4%, para 30 gramas por pessoa por dia em 2030”, concluiu ainda o relatório.