“Viemos para San Diego sem garantias”

Afonso Amaro tem 36 anos e está desde 2013 na Califórnia. Não perde tempo com planos hipotéticos e diz que «a vida vai acontecer como tiver que ser».

Nasceu em Lisboa, mas cresceu em Santarém. Voltaria para a capital portuguesa pouco antes de integrar a faculdade, a Universidade Lusófona, onde se licenciou no curso de Aptidão Física e Saúde, na vertente de nutrição e desporto. No final de 2010, com 25 anos, deixou Portugal e começou a trabalhar no Royal Caribbean, uma empresa de cruzeiros, a partir de Miami. «Em Portugal fiz quase todos os trabalhos que existiam. Sempre trabalhei muito em tudo, desde bares, eventos, restaurantes… Desde que comecei o curso trabalhei muito, também na área do desporto, fui treinador de futebol, de ténis, trabalhei em ginásios…», conta. No final daquele ano, depois de ter trabalhado «numa discoteca qualquer da moda no Algarve», sentiu que estava «saturado». «Tinha uma boa vida, aproveitava a vida, com muitos amigos. Mas tinha sempre dois ou três trabalhos e não andava muito para a frente, só andava para o lado, não tinha fundos nenhuns para guardar para o futuro», confessa. Com vontade de viver uma nova experiência acabou por entrar no mundo dos cruzeiros. «Não sei bem por que razão fui para os cruzeiros, para ser sincero, mas era a hipótese mais segura de ir trabalhar para fora», diz, quando tenta recuar quase 11 anos. Durante cerca de dois anos integrou o departamento de desporto do Royal Caribbean, onde geria o entretenimento ligado a essa área. «Por exemplo, esse cruzeiro tinha duas ondas de surf estáticas, duas paredes de escalada e várias outras diversões – geríamos todo o entretenimento desportivo do barco», explica. Foi durante este tempo que Afonso Amaro conheceu a sua mulher, com quem viria a mudar-se entretanto para San Diego, Califórnia. Estão há 8 anos nos Estados Unidos (desde 2013)_e atualmente o português trabalha na área audiovisual, com destaque para o vídeo e a fotografia. «Sou freelancer para companhias, marcas, pessoas e trabalho também numa empresa aqui, em San Diego, onde crio conteúdo fotográfico e de vídeo para os seus produtos», adianta.

Afonso recorda a mudança para os EUA, que, à semelhança do que havia acontecido aquando da sua entrada do mundo dos cruzeiros, foi feita sem motivos principais. «A minha mulher é de Chicago. Na altura, decidimos ir para San Diego sem garantia de trabalho, mas já não tínhamos mais paciência para trabalhar em cruzeiros», revive. «Basicamente, eu desde que estivesse perto do mar estava bem, então fomos para a Califórnia».

Já em 2017, Afonso, juntamente com a mulher e com o cão da família, embarcaram numa nova aventura e decidiram partir numa viagem grande à volta dos EUA numa carrinha. Até então, o português havia estado a trabalhar e a gerir uma escola de surf. Foi, aliás, durante esta viagem que ganhou a paixão pela fotografia e pelo vídeo. «Foi nessa altura que algumas marcas me começaram a contactar: eu fotografava e criava conteúdos para eles. E desde então não parei», lembra.

Afonso Amaro vive a 10 minutos da praia e tem o hábito de surfar antes do trabalho. A Ocean Beach e a Sunset Cliffs são duas das praias que costuma frequentar: «Tanto eu como a Sarah trabalhamos a partir de casa. Todas as semanas são diferentes, eu tenho as minhas sessões fotográficas e de vídeo, mas quando não estou a fazê-las estou a editar. Quando tenho tempo livre vou passear com a minha filha. E costumo fazer surf de manhã».

Nascida no verão de 2020, a filha do casal ainda não teve oportunidade de conhecer a família paterna, e Afonso admite que esta é a parte mais complicada de viver longe: «O meu pai e os meus irmãos ainda não conheceram a minha filha. Essa é sem dúvida a parte mais difícil». Voltar a Portugal não está de fora dos planos, mas por enquanto também não é opção. «Agora temos outras consequências para os nossos atos. É sempre uma possibilidade e penso nisso muitas vezes… Já não vejo o meu pai há dois anos e também já não vejo os meus irmãos há muito tempo, tenho muitas saudades. O mais importante é estar com a família e tenho muitas saudades disso e de Portugal. Mas também estamos muito bem aqui, na casa onde estamos, na comunidade onde estamos, sentimo-nos bem aqui com o nosso estilo de vida. O plano perfeito nunca vai existir, mas, se houver uma possibilidade de ir para Portugal em que as coisas estejam muito bem, isso nunca vamos pôr de lado», assegura. Apesar de ter acompanhado a participação de Portugal no Euro 2020, admite que desde que se mudou para os EUA_perdeu o hábito de acompanhar os jogos de futebol. Benfiquista desde criança, ir ao estádio chegou a fazer parte das rotinas, mas neste momento não vê um jogo do Benfica pelo menos há três anos. «Do Benfica e de qualquer outro clube», justifica, com o fuso horário como principal argumento de defesa.

Nos tempos livres, a praia, as caminhadas, o surf e os acampamentos são as principais distrações do casal. «Nunca fomos muito de ir a restaurantes e ao cinema. A Califórnia é dos estados, se não o estado mais caro dos EUA», remata.