Christine Ourmières-Widener. A apaixonada por aviação para pôr a TAP a voar

A especialista francesa em engenharia aeronáutica foi ex-CEO da companhia aérea britânica Flybe. Esteve ainda na direção da City Jet e passou pela Air France/KLM. Assume agora as rédeas da TAP e já veio admitir que tem pela frente ‘muitos desafios no plano de reestruturação’ e uma empresa em verdadeira revolução. Promete um diálogo com trabalhadores mas poderá…

Ter um currículo internacional era a exigência do Governo para a nova liderança da TAP. O nome de Christine Ourmières-Widener surge desta forma, com a responsável a acenar com  uma promessa: «Iremos emergir mais fortes, com um fortíssimo foco nos nossos clientes, uma ânsia incisiva de abraçar desafios e de executar mudanças e inovações, um respeito e envolvimento de todos os stakeholders, com uma visão partilhada de um negócio renovado e de sucesso, o orgulho de Portugal, e, claro, uma vontade de tomar decisões arrojadas».

A gestora francesa assume-se como uma «apaixonada pela indústria da aviação», na qual entrou há 30 anos. Com uma vasta experiência no setor da aviação, a nova responsável pela companhia aérea portuguesa já foi presidente executiva de uma sociedade de leasing, CEO da britânica Flybe – uma das mais importantes companhias aéreas regionais da Europa, entre 2017 e 2019, período em que fez parte do conselho da Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata) e managing diretor da O&W Partners. Anteriormente desempenhou funções de direção da City Jet, tendo passado pela Air France/KLM. Ao mesmo tempo, apresenta-se como especialista em processos de transformação e reestruturação, ou seja, enquadra-se que ‘nem uma luva’ na fase em que a TAP está.

E o trabalho não é fácil. A nova equipa, em que a gestora tem um papel relevante, vai ter de executar o plano de reestruturação da empresa, proposto à Comissão Europeia em dezembro do ano passado e que ainda não contou com luz verde por parte de Bruxelas. Entretanto, a TAP tem vindo a avançar com algumas medidas, entre elas a redução de estrutura. Não só de frota, estando a renegociar contratos, mas principalmente de pessoal. Para já, foram rescindidos contratos com mais de 1.800 trabalhadores e continua em cima da mesa um despedimento coletivo que deverá afetar cerca de 200 colaboradores. Uma tarefa que vai passar agora para as mãos de Christine Widener caso a rescisão por mútuo acordo não veja a luz do dia.

Também caberá à gestora francesa evitar a todo o custo que o Governo seja obrigado a injetar até 3.700 milhões de euros até 2024. Um número que está previsto no plano de reestruturação, no pior cenário. 
Para o executar, a gestora francesa Christine Widener terá a seu lado Ramiro Sequeira como diretor de operações. Também fazem parte da nova equipa executiva da TAP João Weber Gameiro, que fica responsável pelo departamento financeiro, Alexandra Reis e Sílvia Mosquera.

Nascida em Avigon, no sul de França, há 56 anos, Ouirmières-Widener é formada em engenharia aeronáutica e tem um MBA pela francesa Essec Business School. Mas apesar da sua vasta experiência há quem aponte para a sua tarefa difícil. Uma dessas vozes é a do CEO da Ryanair. Michael O’Leary elogia a experiência da gestora francesa, mas considera que terá pela frente a tarefa difícil de conduzir a reestruturação enquanto gere a pressão do Governo e dos sindicatos. «É uma pessoa muito talentosa. É muito boa e eficiente». 

Mas deixa um alerta: «Gerir a TAP é um desafio monumental por causa de toda a interferência do Governo e dos sindicatos, que não estão muito disponíveis a fazer cedências. Sem reformas e reestruturação, a TAP não pode sobreviver».

Alertas que não parecem surpreender a nova CEO. Numa mensagem aos trabalhadores, Christine Ourmières-Widener não hesita: «Estou bem ciente de que a covid-19 tem sido e continuará a ser um desafio para a nossa indústria, que o último ano foi particularmente difícil para a TAP e para os seus trabalhadores, e que estamos a viver um momento crucial para a TAP, que vamos superar juntos, tal como outros desafios do passado. É por isso que acredito ser muito importante darmos continuidade à estratégia geral e à implementação do plano de reestruturação».
E deixa também uma mensagem promessa aos trabalhadores: comunicar «com mais pormenor, nos próximos meses, as diferentes etapas» do plano de reestruturação.