Quatro em cada dez dos proprietários de imóveis inquiridos na III edição do Barómetro “Confiança dos Proprietários” da Associação Lisbonense de Proprietários (ALP) afirma ter rendas em atraso.
Destes, 34,8% têm entre três e seis meses de renda em atraso, 31,5% acumulam perdas de dois a três meses, e 21,3% tem mais de meio ano de rendas em atraso.
De acordo com o estudo da ALP, “o nível de incumprimento mantém-se inalterado face à anterior edição” referente a janeiro deste ano.
Contudo, apesar da situação ser “preocupante”, refere a associação em comunicado, três quartos dos inquiridos (74,4%) não tenciona instruir na Justiça um processo de despejo. A esmagadora maioria (59,7%) diz que o faz por solidariedade com as dificuldades que a pandemia trouxe aos inquilinos, enquanto 22% admite não recorrer aos tribunais devido à morosidade dos processos.
Na avaliação do impacto da pandemia no imobiliário, a opinião dos proprietários questionados encontra-se dividida entre um terço dos respondentes (33,6%) que considera que o mercado imobiliário estabilizou e os preços vão estagnar e uma parcela de 28,6% de inquiridos que afirmam que o imobiliário sofre, acima de tudo, de uma falta de confiança anterior à pandemia.
Em relação ao impacto da pandemia nos preços dos arrendamentos, as respostas dividem-se: 36,4% consideram que os preços vão estabilizar e 35,5% consideram que irão diminuir.
Quando questionados sobre que preços vão praticar em novos contratos a celebrar no segundo semestre de 2021, três quartos (76,5%) dos proprietários inquiridos respondem que vão manter os preços inalterados. Mas a percentagem de proprietários que pretende aumentar os preços (12,6%) é maior do que a percentagem daqueles que indicam que vão diminuir os valores praticados (10,9%).
Dada a conjuntura, quase dois terços dos proprietários (64,4%) referiram não ter confiança na evolução do mercado imobiliário no segundo semestre deste ano. Mas a possibilidade de o Governo aumentar a carga fiscal sobre o património assume-se como o maior receio manifestado pelos proprietários urbanos (expresso por 65,5%).
“Os proprietários sentem-se reduzidos a contribuintes que são forçados a manter os cofres cheios com receitas milionárias, acima dos mil milhões de euros, respetivamente, em sede de IMI e IMT, mesmo em contexto de pandemia e com níveis de incumprimento dos inquilinos muito graves. É por isso que o receio de um aumento de impostos emerge como a maior preocupação dos proprietários auscultados no estudo da ALP”, comenta Iolanda Gávea, vice-presidente da ALP, em comunicado.
Neste sentido, os proprietários portugueses assinalam três principais medidas a implementar para estimular a confiança no mercado e no Estado: diminuir a carga fiscal sobre a propriedade imobiliária (80,9% das respostas), promover uma efetiva reforma da justiça e combater eficazmente a sua morosidade e ainda a criação de uma base de dados de inquilinos incumpridores, que respeite a legislação de proteção de dados em vigor, mas que funcione como uma garantia adicional de cumprimento contratual no arrendamento urbano (ambos os itens a registar 69,1% das respostas).
Na opinião da dirigente associativa, esta base de dados de inquilinos incumpridores não se trata de uma “lista negra”, mas é uma forma de “reconquistar a confiança dos proprietários” no mercado, defende.
O Barómetro da ALP reuniu mais de duas centenas de proprietários, dos quais quase três quartos são associados da ALP (75,5%). A nível etário, 61,4% dos inquiridos tem idade compreendida entre os 55 e os 75 anos, “demonstrando a senioridade dos proprietários nacionais”, denota a associação.
Mais de metade (48,6%) dos inquiridos detém imóveis na Área Metropolitana de Lisboa e a maioria de 58,6% é proprietária de um a cinco imóveis.