Causas da inevitabilidade ruína portuguesa

O controlo económico dos setores do Estado que essa gente explorava, encontra-se agora na posse de interesses estrangeiros. Essa foi a razão da sua queda.

por João Maurício Brás

Este texto é devedor da leitura de uma reflexão de um bom amigo (PB), e destaca um capítulo decisivo para compreendermos a nossa miséria económica, social, política e cultural.

Há mais de cinco séculos que elites medíocres – mas astutas – com conivência do poder político têm destruído o país e mantido a sua população num estado de pobreza que não é apenas económica, mas também mental e cultural, gerando circuitos de servilismo e dependência que tornam sucessivas gerações incapazes de autonomia, empreendedorismo a sério e sentido de exigência cívica.

Nos últimos anos, desde o governo de Passos Coelho, uma série de pessoas que detinham uma parte significativa do poder em Portugal têm sido incomodados judicialmente. O desfecho desses casos ainda é uma incógnita. Trata-se, segundo a generalidade da imprensa, de pessoas que a tudo tinham acesso, fossem empréstimos incompreensíveis e sem garantias razoáveis, a leis estranhamente favoráveis e que gozavam das portas escancaradas do poder político. O trânsito entre a política e a economia e as finanças é muito frequente. Estas pessoas, considerando as consequências dos seus negócios, que se pautam em prejuízos de centenas de milhões de euros para Portugal, agora incobráveis, foram nocivas para o real crescimento e desenvolvimento do país. Este tipo de pessoas e o seu tipo de negócios só foi possível com um determinado tipo de Estado e de políticos (a história da falência de bancos privados e de quem tomou essas decisões é ainda outra história inacreditável)

A ironia é que a queda destas pessoas nos últimos anos se deve de modo involuntário a Passos Coelho, que não provocou a situação de modo deliberado, antes foi obrigado a alienar muito património nacional, tal o desespero e miséria a que tínhamos chegado pelo endividamento e o empobrecimento endémico, pelos negócios incompreensíveis e pelo ‘trabalho’ dos nossos empresários exemplares. O país foi vendido ao desbarato, não havia alternativa. Esses ‘ativos’ que foram vendidos eram em parte a matéria de que se alimentavam os donos disto. Foram os créditos do Estado que permitiram a muita gente financiar os seus inacreditáveis negócios. Com a venda das infraestruturas do Estado o destino de um certo tipo de pessoas, os nossos melhores, seria inevitável.

Tudo isto se passou sempre com o conhecimento e beneplácito de gente que sabia e tinha obrigação de agir e não agiu, seja dos média, dos políticos e até da justiça. A essência do modelo de negócio desta gente era a exploração do Estado. Cito o que refere esse meu amigo: «Usarem os seus recursos para suprirem as dívidas dos seus grupos empresariais, a troco de manterem uma estrutura económica ruinosa, aparentemente necessária ao interesse nacional – este era o seu logro, que durou anos e ano». Estas pessoas, para enriquecerem, fizeram o que bem lhes apetecia, e assim empobreceram ainda mais o país e os portugueses, hipotecando o futuro destes por décadas e décadas. O controlo económico dos setores do Estado que essa gente explorava, encontra-se agora na posse de interesses estrangeiros. Essa foi a razão da sua queda.

Poder político, mediático, reguladores, e até muitos setores da justiça desconheciam isto? Foi a nossa vida a crédito e o facto de termos que vender tudo que nos trouxe finalmente alguma decência? Estando mais pobres, estamos finalmente mais limpos?