Benfica – o sossego do Governo (e de Costa)!

Costa pode respirar fundo mais uns tempos. Também não iria fazer qualquer remodelação porque enquanto a oposição andar entretida a debater as atuações do ministro A ou B, ninguém o questiona como responsável de os ter nomeado e, sobretudo, de os manter. 

Andava o país a discutir acaloradamente o acidente mortal em que a viatura que transportava o ministro Cabrita se viu envolvida ou as informações dadas às embaixadas pela Câmara Municipal de Lisboa sobre manifestantes, quando foi sobressaltado por uma notícia do Público a referir que 1 milhão de portugueses não tinha médico de família e que no primeiro ano de pandemia se fizeram menos 13,4 milhões de contactos e ficaram por realizar 4,5 milhões de consultas, cirurgias, urgências e internamentos.

Infelizmente, estas notícias sobre a Saúde que refletem a realidade do SNS, nem tiveram tempo de ser verdadeiramente discutidas ou analisadas. No mesmo dia, o Nascer do Sol anunciou que o presidente do Benfica foi detido, depois de buscas efetuadas em diversos pontos do país relacionadas com alegadas fraudes por si cometidas.

Se Luís Filipe Vieira (LFV) estará hoje tranquilo ou nervoso não faço ideia. Mas uma coisa eu sei: desde que a comunicação social só passou a falar de LFV, os políticos ficaram mais descansados. Costa está claramente menos preocupado com tantos problemas no seu Governo dado que ninguém fala de remodelações governamentais e Rio bem pode agradecer a LFV, porque caiu no esquecimento a escolha conturbada dos candidatos para as autárquicas. Até Medina viu acalmar as críticas sobre o atropelo ao RGPD resultante da cedência da identidade de manifestantes a diversas embaixadas.

Sobra o detalhe de, há uns meses, Costa e Medina terem integrado a Comissão de Honra da lista de LFV, causando um enorme rebuliço pelo que foram posteriormente retirados. Mas isso faz parte do passado e, com jeitinho, arruma-se o assunto na ‘gaveta do esquecimento’.

O Benfica consegue assim agradar a gregos e troianos ao absorver as notícias de toda a comunicação social. O importante passou a ser o que LFV comeu ao pequeno-almoço, a que horas saiu da cela, quando foi para o TIC e em que viatura foi. Os anúncios diários de pessoas com covid deixaram de ser o assunto de maior relevância, os ritmos das vacinações serem lentos ou rápidos é secundário. Importante mesmo é dissecar os estatutos do SL Benfica, saber se Rui Costa assume a presidência ou se o presidente da Mesa da Assembleia Geral vai convocar eleições.

Pelo menos uma coisa parece unânime, exceto talvez para o próprio que ainda não pediu a demissão quando escrevo estas linhas: LFV chegou ao fim como Presidente do Benfica (Clube e SAD). Só falta saber quando é que se consubstancia a perda de mandato e por que forma. Bem podem uns líricos perorar o contrário que o assunto está consumado.

Costa pode respirar fundo mais uns tempos. Também não iria fazer qualquer remodelação porque enquanto a oposição andar entretida a debater as atuações do ministro A ou B, ninguém o questiona como responsável de os ter nomeado e, sobretudo, de os manter. Rio, sempre pressuroso a ajudar Costa, até foi explícito quando se falou em pedir a mudança de Cabrita: «Não falo de A ou B, refiro apenas que a equipa (ministerial) está a jogar mal, precisa de ser refrescada». Linguagem futebolística muito apropriada, como prenúncio do tema Benfica!

Portanto, nem vale a pena insistir muito. Estamos em Portugal, um país pouco exigente com os seus governantes ou líderes, como há meses se viu nas eleições do Benfica. ‘Muita parra, pouca uva!’ Alguns opositores a LFV referiram diversos problemas, inclusive situações menos claras, mas os Sócios, sempre soberanos, caucionaram nas urnas as práticas de LFV, surdos a críticas consubstanciadas. Elegeram e pronto!

Razões para isso? Tantas, mas comecemos pelas mais evidentes: em Portugal a visibilidade e notoriedade são essenciais. Olhamos muito pouco, enquanto povo, a realidades estruturais ou mesmo ideais programáticos e votamos em pessoas, sobretudo nos líderes com maior presença nos media. Quando a liderança da oposição se apaga ou é submissa, vota-se nos que se conhece!

LFV não foi campeão dois anos, mas continuou presidente por incapacidade de mobilização da oposição e de um líder galvanizador. Costa tem o Governo à deriva, diversos ministros há muito ultrapassaram o prazo de validade, inclusive Santos Silva até veio mandar recado pelos jornais que gostaria de voltar à atividade profissional, mas o PS continua com cerca de 37-40% nas sondagens, o que lhe permite esta sobranceria.

De facto, isto só é possível porque somos um país de reduzido escrutínio popular. Para haver mudanças tem de haver ‘tempestades’ e das grandes. Sucedeu com Sócrates e a bancarrota que elegeu Passos Coelho, sucedeu com Vale e Azevedo substituído por Vilarinho, sucederá agora no Benfica em que será impossível a continuação de LFV. E com este Governo PS? A resposta é simples: absolutamente tranquilo, à espera da ‘bazuca’, mas adiando a sucessão de Costa para as calendas para evitar a ‘tempestade’ interna!

P.S. 1 – João Leão veio despudoradamente dizer que o caminho deste Governo não passa pela austeridade. Sinceramente, alguém acredita quando sentimos nos bolsos esta pesadíssima carga fiscal, direta ou indireta, absolutamente necessária para alimentar um Estado que imobiliza o desenvolvimento?

P.S. 2 – Este Governo não se enxerga ao pedir certificados ou testes para ir a restaurantes ao fim de semana? Um completo absurdo, uma medida ridícula que convida à imaginação prodigiosa dos portugueses.