Unesco retira Liverpool da lista de património mundial

O órgão da ONU diz que os anos de desenvolvimento na área das docas vitorianas, causaram uma “perda irreversível” do seu valor histórico 

Liverpool perdeu o seu lugar na lista de patrimónios mundiais, depois da Unesco o ter “culpado” do “excessivo desenvolvimento” que levou a uma “perda irreversível” do valor histórico das suas docas vitorianas. A decisão foi anunciada por Tian Xuejun, presidente do Comité de Património Mundial da Unesco, numa conferência virtual realizada na China na passada quarta-feira, dia 24 de julho, onde se concluiu que o “valor universal excepcional” da orla de Liverpool foi destruído por novos edifícios, incluindo o novo estádio do clube de futebol Everton. 

Já em 2012, a cidade inglesa tinha sido alertada pela Unesco, para o desenvolvimento que mudou “significativamente” o horizonte da cidade e que este estava a destruir o seu “valor patrimonial”. A agência da ONU disse que empreendimentos como o Liverpool Waters, que transformaram terras outrora abandonadas, levaram a uma "séria deterioração e perda irreversível" do valor universal excepcional da área, juntamente com "perda significativa de sua autenticidade e integridade”. Estes factos, fizeram-na perder as características que a levaram à inclusão na lista, em 2004 e, a proposta de construir o novo estádio de futebol à beira-rio, na doca de Bramley-Moore, veio aumentar a ameaça. 

Liverpool é considerada património mundial desde 2004, ao lado do Taj Mahal e da Grande Muralha da China, como reconhecimento pelo seu papel de “grande potência comercial durante o império britânico e pela beleza arquitetónica de sua orla”. Essa “etiqueta” oferece aos lugares históricos o acesso a fundos de conservação da ONU e proteção sob as convenções de Genebra em caso de guerra.

A decisão é “um golpe humilhante” para a cidade e coloca Liverpool como terceira cidade a perder o status em quase 50 anos – os outros locais excluídos foram o Santuário de Oryx Árabe de Omã,em 2007, e o vale do Elba em Dresden, na Alemanha, em 2009. 

A decisão foi recebida com contestação pelos líderes da cidade de Liverpool. Joanne Anderson, a “mayor” da cidade, afirmou em comunicado estar “extremamente desapontada e preocupada” e prometeu que o conselho consideraria interpor um recurso. “Já faz mais de uma década desde a última vez que a Unesco visitou a cidade para vê-la com seus próprios olhos e é incompreensível que a prefira ver o cais de Bramley-Moore como um terreno abandonado ao invés de um novo estádio de futebol reluzente, que atrai centenas de milhares de visitantes”, declarou, acrescentando que o património mundial nunca esteve em “melhores condições”.

Grupos do património histórico descreveram esta “mudança” como um momento de “vergonha” para o Reino Unido e acusaram o governo de não fazer o suficiente para proteger os seus sítios históricos ou intervir em nome de Liverpool quando a Unesco ameaçou retirá-lo da lista. Henrietta Billings, diretora do Save Britain's Heritage, disse que ser destituído do status de património mundial foi um “constrangimento nacional” e que Liverpool falhou pela abordagem do governo de “devolver e esquecer” para proteger os bens culturais.