A caminho da República Socialista de Portugal

Parece óbvio que os Jogos Olímpicos de Tóquio deviam ter sido adiados, pois a festa sem público não tem qualquer interesse. Além disso, os casos de covid vão acabar por desvirtuar a verdade desportiva. 

1.Os britânicos chamaram-lhe o Dia da Liberdade e mal Boris Johnson ordenou a abertura das discotecas foi a loucura total. Ao ver essas imagens lembro-me do que se escreveu em plena pandemia, quando o mundo estava quase todo confinado e até as águas de Veneza se transformaram em cristalinas – passe o exagero. Nessa altura muitos diziam taxativamente que o mundo nunca mais seria igual. As discotecas tinham as noites contadas e só os mais novos é que poderiam pensar entrar em tais antros. Como se viu no Reino Unido, na Hungria ou na Islândia, nada mudou. As pessoas querem é esquecer-se da covid e aproveitar para viver tudo outra vez, calculo que agora com muito mais força. O que se aproxima são os novos loucos anos 20, agora do século XXI. Assim a covid o permita…

2. Parece óbvio que os Jogos Olímpicos de Tóquio deviam ter sido adiados, pois a festa sem público não tem qualquer interesse. Além disso, os casos de covid vão acabar por desvirtuar a verdade desportiva. E é sobre a verdade desportiva que ando há uns meses para escrever, e ontem ao ler a entrevista de Patrícia Mamona ao Expresso fiquei ainda com mais vontade. A nossa campeã de triplo salto coloca o dedo na ferida de uma forma muito clara e explica por que defende que o «desporto tem pátria e deve mantê-la».

Quem está mais familiarizado com o fenómeno sabe que há países, alguns dos quais da antiga URSS, em que os seus atletas não imaginam o que diz o hino, naqueles que há letra, e só vestem a camisola nacional porque lhes pagaram para isso. Indo direto ao assunto: cheguei a ver equipas de futsal de países do Leste em que os jogadores eram todos brasileiros naturalizados. Isto faz algum sentido? No futebol, por exemplo, a FIFA, o organismo máximo da modalidade, só deixa os craques jogarem por dois países diferentes se não o tiverem feito numa das equipas principais. Se só o fizeram nas camadas jovens, quando chegam a sénior podem optar por outro país.

Mas o que se passa nas modalidades olímpicas é completamente diferente: há países que ‘compram’ atletas para estes empenharem as suas cores. «Há muitos atletas que mudam de nacionalidade só por razões monetárias, conheço quem já o tenha feito três vezes. E quando as razões são fúteis, sou contra», disse a campeã portuguesa.

Mamona vai ainda mais longe: «Quando um português ganha, representa o país e tudo o que faz Portugal ser Portugal (…) Ouvir e sentir o hino mexe muito». Resumindo, não faz sentido os países naturalizarem atletas à pressão só para ganharem medalhas. Outra coisa completamente diferente é alguém que nasceu fora mas está verdadeiramente integrado na sociedade que o acolheu. Sabe o hino e tornou-se cidadão nacional por mérito próprio e não por terem comprado a sua participação.

 

P. S. Sou só eu que estou com a impressão de que estamos cada vez mais próximos da Albânia de Enver Halil Hoxha? Ontem, da parte da manhã, a televisão pública deve ter batido todos os recordes de governantes nos seus serviços noticiosos. O primeiro-ministro teve mesmo honras de direto durante largos minutos e até o seu patinho feio, Eduardo Cabrita, interrompeu a sequência do noticiário para entrar em direto da Madeira para dar os sentimentos aos familiares dos bombeiros mortos. Com todo o respeito pelas famílias, agora fazem-se diretos com ministros para estes darem as condolências? E o que dizer do espaço concedido a António Enver Halil Costa? Já se perdeu de todo a noção do ridículo? Ou será que o primeiro-ministro quer pôr em prática na comunicação social o que José Sócrates tentou? Há quem diga que sim…

 

vitor.rainho@sol.pt