Medina afasta ida para o Governo

Escolha de independente para número dois sugere que Fernando Medina, em caso de vitória, levará o mandato até ao fim.

O facto de Fernando Medina, candidato à Câmara de Lisboa pela coligação Partido Socialista-Livre, ter escolhido a independente Inês Lobo para sua número dois afasta as possibilidades de ingressar no Governo socialista antes do final do mandato, em 2025. Considerando que para ingressar no Governo teria de entregar a presidência da Câmara a uma independente, parece altamente improvável que o faça.

No PS, há mesmo quem interprete a ‘nomeação’ de Inês Lobo como uma forma de Medina mostrar ao partido que não está interessado em entrar na corrida à sucessão de António Costa na liderança do partido, no curto prazo, colocando-se assim à margem de uma possível disputa com Pedro Nuno Santos.

Para os socialistas, depois do caso Russiagate – e da entrega de dados pessoais de ativistas russos à embaixada e ao Governo da Federação Russa –, Fernando Medina redifiniu as suas ambições pessoais, deixando uma eventual candidatura a secretário-geral do PS para mais tarde, dedicando os próximos anos em exclusivo à cidade. A leitura dos seus mais próximos é que, após o ciclo ganhador de António Costa, o próximo líder socialista – e Pedro Nuno Santos é apontado como o mais provável – atravessará um período menos favorável. E Medina ficará, assim, mais resguardado, para lutar pela liderança do partido num segundo momento e num ciclo mais favorável (de regresso ao poder).

Para já, Medina entrega a Inês Lobo a sempre polémica pasta do Urbanismo (cujo responsável anterior era Manuel Salgado, entretanto constituído arguido no processo que envolve o licenciamento do novo Hospital da CUF, em Alcântara). Trata-se de uma reconhecida arquiteta lisboeta, comissária de Portugal na Bienal de Veneza e «fascinada pela obra pública». Distinguida com diversos prémios, foi vencedora do AICA/MC/Millennium BCP, atribuído pela Associação Internacional de Críticos de Arte em parceria com o Ministério da Cultura, devido ao seu «percurso profissional ímpar», em 2017. É professora na Universidade Autónoma de Lisboa e já expôs na Fundação Calouste Gulbenkian.

Medina acolherá ainda Rui Tavares, que abandonará a sua candidatura pelo Livre e ingressa na lista de coligação, a quem destinará a vereação dos Direitos Humanos. 

Já a Assembleia Municipal terá outra mulher como cabeça de lista: Rosário Farmhouse, um nome reconhecido como capaz de cobrir as causas do BE relativamente aos imigrantes e que também tem boa penetração na Igreja.

Já pela porta da saída passará José Sá Fernandes, vereador do Ambiente, Clima e Energia e Estrutura Verde. Em abril, Sá Fernandes já dizia ao Expresso: «Acho que tenho ainda muito para dar, mas é o momento de me afastar. Ao longo destes 14 anos, aconteceram muitas coisas e há um ciclo. Tem de haver outros e, para já, devo ficar de fora para ganhar outro olhar».

À Câmara Municipal de Lisboa estão anunciadas dez candidaturas: Fernando Medina (coligação PS-Livre), Carlos Moedas (coligação PSD/CDS-PP/PPM/MPT/Aliança), Beatriz Gomes Dias (BE), João Ferreira (CDU), Bruno Horta Soares (IL), Nuno Graciano (Chega), Tiago de Matos Gomes (Volt), João Patrocínio (Ergue-te) e Manuela Gonzaga (PAN).