Julho com mais do dobro das mortes do mês passado

Desde o início do mês já morreram em Portugal 191 pessoas com diagnóstico de covid-19, a maioria idosos.

Os mais jovens têm representado a maioria dos casos de covid-19 mas o aumento de infeções que se viveu nos últimos dois meses em todo o país estendeu-se aos mais velhos e julho já regista mais do dobro das mortes do mês passado, tendo superado os 155 óbitos que se verificaram em julho de 2020, na altura sem vacinas mas com a epidemia mais sob controlo. Até este sábado, contabilizavam-se 191 óbitos associados à covid-19 desde o início do mês, depois de 76 mortes em junho e 49 mortes em maio, o mês com menos óbitos desde o início da pandemia. A maioria das vítimas mortais este mês, mais de 90%, tinham mais de 60 anos de idade, como se verifica desde o início da pandemia. Entre elas, 96  idosos com mais de 80 anos.

Houve proporcionalmente menos vítimas mortais do que quando o país tinha níveis de incidência idênticos, o que tem sido atribuído à vacinação, mas continuam sem ser divulgados dados a nível nacional sobre quantas mortes se verificaram entre pessoas vacinadas, informação que o i tem solicitado à Direção Geral da Saúde sem resposta.

Henrique Oliveira, investigador do Instituto Superior Técnico, alertou este fim de semana que voltou a aumentar a taxa de letalidade entre idosos, que reduziu substancialmente desde o início da vacinação, admitindo que tal possa estar relacionado com maior severidade da variante delta ou com algum desvanecimento imunitário dos idosos. Avaliações mais detalhadas por parte da Direção Geral da Saúde e dos especialistas que são ouvidos regulamente pelo Governo são esperadas esta terça-feira, na reunião do Infarmed, que será o ponto de partida para um novo plano de desconfinamento para os próximos meses e novas medidas.

Os diagnósticos parecem estar a abrandar mas o último relatório de linhas vermelhas disponibilizado na sexta-feira pela DGS e pelo Instituto Ricardo Jorge revela que a proporção de testes positivos para SARS-CoV-2 foi de 5,2%, continuando a subir ligeiramente e acima do limiar de 4% definido como patamar de segurança, o que indicia que apesar de o número de testes, a malha de deteção não está tão apertada como quando o país começou a desconfinar e chegou a ser inferior a 2%. Em contrapartida, o balanço dá conta de um aumento da percentagem de casos rastreados e isolados, outra malha de controlo da epidemia que tinha estado a baixar.

O número de internamentos continua a subir, tanto em enfermaria como em UCI, mas lentamente. O INSA e a DGS reconhecem também que embora o atual risco de infeção nos grupos mais velhos seja menor do que o da população em geral, o incremento do número de casos no grupo etário acima dos 80 anos pode vir a condicionar um aumento de número de internados e eventualmente do número de óbitos nas próximas semanas. Como o i noticiou nas últimas semanas, apesar do predomínio de casos entre jovens, o número de infeções entre idosos tem vindo a aumentar e as projeções indicam que o país passe os 200 óbitos este mês. Chegou a haver apenas 100 casos em idosos com mais de 80 anos no início de maio por semana e são agora cerca de 500.

Diagnósticos abrandam

Nos últimos sete dias, e depois de semanas de aumento sucessivo, já houve menos diagnósticos do que nos sete dias anteriores. Registaram-se 22 374 novos casos entre sábado e sábado, o balanço ontem possível, menos 400 casos do que na semana anterior, fruto da descida de diagnósticos em Lisboa e no Algarve, onde o pico de notificações parece já ter sido atingido. A incidência cumulativa, o indicador que tem sido usado nas tomadas de decisão e que reflete os diagnósticos nos últimos 14 dias, deverá assim começar a descer, mas continua acima da linha vermelha dos 240 casos por 100 mil habitantes em todo o país, sendo mais elevada em Lisboa (509 casos por 100 mil habitantes ontem) e no Algarve (944 casos por 100 mil habitantes), calculou o i.

Na reunião do Infarmed, uma das propostas em cima da mesa, apurou o SOL, será a subida dos patamares de risco como no ano passado, quando se considerava em risco “extremamente elevado” concelhos com mais de 960 casos por 100 mil habitantes, estando nas mãos do Governo decidir se adota ou não uma nova matriz de avaliação, quando e qual.

Com a atual, não se vislumbra a curto prazo um levantamento das restrições na maioria dos concelhos no vermelho e onde vigoram medidas mais apertadas, como o recolher obrigatório a partir das 23h. Na avaliação da última semana, divulgou a DGS na sexta-feira, Albufeira permanecia como o município com maior incidência e ainda a subir: 1553 casos por 100 mil habitantes. Seguem-se Sines, Portimão, Loulé e Lagos, São Brás de Alportel e Pedrógão Grande, estes seis concelhos com uma incidência cumulativa a 14 dias superior a 960 casos por 100 mil habitantes. Faro, Porto e Lisboa, onde parece haver uma estabilização, continuavam no patamar dos 800 casos por 100 mil habitantes, muito acima da atual linha vermelha.