Censos. Portugal perde população pela primeira vez em 50 anos

As únicas regiões do país que conquistaram novos residentes, entre 2011 e 2021, foram a Área Metropolitana de Lisboa e o Algarve. O Corvo, nos Açores, está cada vez mais pequeno: tinha 430 habitantes em 2011 e, agora, são apenas 386.

Somos menos e concentramo-nos no litoral. Estas são as duas conclusões principais dos Censos, cujos resultados preliminares foram divulgados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). De acordo com mesmos os dados, há 10.347.892 pessoas a viver em Portugal, menos 214 mil do que há dez anos, número que equivale a uma redução de 2%.

É de referir que este fenómeno de decréscimo populacional só tinha ocorrido entre 1960 e 1970, uma década de forte emigração. Por exemplo, entre 1958 e 1974, cerca de um milhão de portugueses instalaram-se em França.

Entre estes mais de dez milhões de habitantes, 4.917.794 são homens (48%) e 5.430.098 mulheres (52%). As mulheres só não estão em maioria em sete dos 308 municípios: Odemira, Ferreira do Alentejo, Mourão, Grândola, Monchique, Corvo e Lajes das Flores.

Ainda que o saldo migratório tenha sido positivo na última década, não foi suficiente para contrariar o saldo natural negativo (diferença entre nascimentos e óbitos). Por isto, verifica-se que algumas regiões sofreram perdas expressivas, enquanto outras conseguiram contrariar a tendência.

Lisboa e Algarve na linha da frente As únicas regiões do país que conquistaram novos residentes, entre 2011 e 2021, foram a Área Metropolitana de Lisboa (49 257 – 1,7%) e o Algarve (16 489 – 3,7%). Já 35% das pessoas vivem na região Norte que, em conjunto com a Área Metropolitana de Lisboa (AML), acolhe mais de metade dos cidadãos nacionais.

Dos 31 municípios que concentram aproximadamente 50% da população residente em Portugal, os 10 mais populosos são Lisboa, com 544.851 habitantes, Sintra (385.954), Vila Nova de Gaia (304.149), Porto (231.962), Cascais (214.134), Loures (201.646), Braga (193.333), Almada (177.400), Matosinhos (172.669) e Oeiras (171.802).

Os outros 21 concelhos mais populosos são Amadora (171.719), Seixal (166.693), Gondomar (164.255), Guimarães (156.852), Odivelas (148.156), Coimbra (140.796), Vila Franca de Xira (137.659), Santa Maria da Feira (136.720), Maia (134.959), Vila Nova de Famalicão (133.590), Leiria (128.640), Setúbal (123.684), Barcelos (116.777), Funchal (105.919), Viseu (99.693), Valongo (94.795), Mafra (86.523), Viana do Castelo (85.864), Paredes (84.414), Torres Vedras (83.130) e Vila do Conde (80.921).

É no litoral que vive a maior parte da população, principalmente junto à capital, na medida em que a AML concentra 28% dos habitantes em território nacional, tendo ganho 49 mil habitantes em dez anos. 

Odemira foi o município que ganhou mais gente na última década, quase 3500 pessoas, o equivalente a um aumento de 13,3%, em grande medida devido à imigração – ainda no passado mês de maio, a Lusa veiculou que, de acordo com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) mais de 9600 imigrantes viviam legalmente no concelho de Odemira em 2020, tendo maioritariamente origem no Nepal e na Índia, seguindo-se Bulgária, Tailândia e Alemanha -, seguindo-se Mafra (12,8%), Palmela, Alcochete e Vila do Bispo (com valores entre os 9,6% e os 8,8%).

Naquilo que concerne os dez concelhos mais populosos, Braga foi aquele que somou mais população nesta janela temporal, registando uma subida de quase 12 mil residentes (6,5%), segue-se Cascais (3,7%) e Sintra (2,1%).
Abordando a outra face da moeda, o Alentejo foi a região onde a desertificação populacional mais se agravou, constatando-se uma redução de 52 mil residentes (6,9%).

Segue-se a Madeira com menos 6,2%. Dos 308 municípios nacionais, 257 perderam população e somente 51 aumentaram o número de habitantes. O panorama é negro no Corvo, nos Açores, o concelho menos populoso de Portugal, que está cada vez mais pequeno. Em 2011 tinha 430 pessoas, agora são 386, isto é, deu-se uma perda superior a 10%.

Neste sentido, há municípios que perderam mais habitantes do que quaisquer outros: Barrancos (-21,8%), Tabuaço (-20,6%), Torre de Moncorvo (-20,4%), Nisa (-20,1%) e Mesão Frio (-19,8%). Porém, também Lisboa e o Porto conheceram esta realidade, perdendo, respetivamente, 8 e 5 mil pessoas, isto é, tendo menos -1,4% e -2,4%. Apesar de pertencerem à lista dos concelhos mais populosos, Matosinhos (-1,6%) e Oeiras (-0,2%) veem agora a sua população emagrecer também.

Contudo, tal não se liga diretamente à quantidade de alojamentos, pois, desde 2011, os municípios que registaram esta redução mais acentuadamente foram Madalena, Vizela, Lousada, Campo Maior e, surpreendentemente, Odemira, apesar de ser o município que somou mais novos residentes. 

Perceciona-se que existem 1,7 alojamentos por edifício em Portugal, sendo este número igual àquele que foi apurado em 2011. A Área Metropolitana de Lisboa contabiliza 3,3 alojamentos por edifício, sendo a região com a média mais alta.

O número de alojamentos destinados à habitação aumentou em 221 municípios portugueses (72% do total de municípios, com Madalena (Açores), Vizela, Lousada, Campo Maior e Odemira a registarem os aumentos mais significativos no número de alojamentos, com valores situados entre os 13,5% e os 6,3%.

Em contrapartida, Tarouca, Penela, Coruche, Mação e São Vicente foram os municípios onde se registaram as descidas mais abruptas, com o número de alojamentos a variar entre os -10,5% e -4,6%.

Agregados familiares só diminuíram no Alentejo O número de agregados familiares reportados em 2021 aumentou em 2,7% e alcançou os 4.156.017. Contudo, o número médio de pessoas que compõem esses agregados diminuiu: eram 2,6 pessoas em 2011, agora são 2,5. Esta tendência verifica-se em todo o país, mas as regiões com agregados maiores continuam a ser os Açores (2,8 pessoas) e a Madeira (2,6 pessoas). Além destes, somente o norte está acima da média.

Ainda assim, o número de agregados familiares aumentou. A título de exemplo, no Algarve, , o aumento no número de agregados domésticos foi superior a 6%, mas diminuiu no Alentejo em 3,6%.

A fase de recolha dos Censos 2021 foi executada por 15 mil pessoas e decorreu entre 5 de abril e 31 de maio e “contou com a participação empenhada da população, permitindo a conclusão da maior parte dos trabalhos em apenas seis semanas depois da data do momento censitário (dia 19 de abril)”, destacou Francisco Lima, presidente do conselho diretivo do INE.

Frisando o “elevadíssimo nível de adesão por parte dos cidadãos”, o INE declarou que “99,3% das respostas da população” chegaram por via digital. Há dez anos, era traduzido em cinco línguas, mas neste foi em 11 idiomas, segundo Mariana Vieira da Silva, ministra do Estado e da Presidência.

No encerramento da sessão de apresentação dos primeiros resultados, a ministra salientou a importância destes dados para “tomar decisões” e “minimizar os impactos da crise social e económica” inerentes à pandemia de covid-19. “Neste contexto de incerteza em que vivemos, precisamos como nunca de informação, atempada, para desenhar políticas públicas”.

Está prevista uma sessão intermédia de apresentação de mais resultados provisórios em fevereiro, sendo os resultados definitivos dos Censos 2021 conhecidos no quarto trimestre de 2022.