A lição de Reguengos

Um vídeo filmado em Reguengos, mostrando desacatos provocados por homens de etnia cigana – atirando mesas e cadeiras a pessoas sentadas numa esplanada, e depois atropelando três delas – é revelador quanto à inadaptação daquela comunidade a certas regras desta sociedade.

O leitor lembra-se de como surgiu André Ventura no palco da política?  A dizer, na qualidade de candidato do PSD à Câmara de Loures, que a comunidade cigana tinha de cumprir as regras a que todos estavam obrigados – e que naquele concelho isso não acontecia.

Ora, como reagiram os outros partidos a estas declarações?

Chamando-lhe todos os nomes: «fascista», «racista», «xenófobo», etc.

E onde está Ventura agora?

É líder de um partido que em muitas sondagens aparece em terceiro lugar, à frente do BE, PCP e CDS.

Significa isto que os insultos não resultaram.

Ao diabolizarem Ventura, em vez de o ‘matarem’, os adversários deram-lhe oxigénio.

Quando é que os políticos portugueses aprendem a lidar com este fenómeno?

Depois de André Ventura ter falado dos problemas com a comunidade cigana, os outros partidos deveriam ter feito uma coisa óbvia: verificar se as críticas tinham ou não fundamento.

E, se tivessem, tentarem resolver o problema.

Mas preferiram matar o mensageiro.

E com isso só o valorizaram – porque, pelos vistos, a mensagem tinha um fundo de verdade.

Devo dizer que tenho simpatia pelos ciganos.

Admiro o modo como têm conseguido preservar a sua cultura, os seus hábitos, os seus costumes, não se vergando ao peso da maioria.

Isso é muito louvável.

Num mundo em que a globalização tende a uniformizar tudo, os ciganos teimam em ser diferentes.

Mas isso não lhes dá o direito de não cumprirem as regras da sociedade em que vivem.

Um vídeo filmado em Reguengos, mostrando desacatos provocados por homens de etnia cigana – atirando mesas e cadeiras a pessoas sentadas numa esplanada, e depois atropelando três delas – é revelador quanto à inadaptação daquela comunidade a certas regras desta sociedade.

Mas mais grave do que isso foi o comportamento das forças da ordem: dois guardas da GNR passaram calmamente junto ao local da pancadaria, parecendo não darem por nada.

Um deles até se desviou para não chocar com um desordeiro.

Admito que os guardas não tivessem meios para intervir naquele conflito.

Mas, se não tinham, deviam ter. Os guardas deveriam estar equipados para intervir num evento tão comum como uma cena de pancadaria na via pública.

Acontece que o problema é mais grave e mais profundo do que parece.

A PSP e a GNR começam a ter medo de intervir em certas situações.

E isso tem uma razão de ser: nos últimos tempos têm-se multiplicado as condenações de elementos de forças de segurança.

Num dia são agentes da PSP acusados de violência sobre presos numa esquadra, no dia seguinte é um guarda da GNR condenado por ter morto alguém em fuga, dois dias depois são agentes do SEF julgados pela morte de um emigrante.

Perante isto, é natural que os guardas comecem a pensar duas vezes antes de agir.

Até porque, na maior parte das vezes, são só eles a pagar as favas; os seus superiores não sofrem nada.

Há muito tempo que venho alertando para a delicadeza com que é necessário tratar os alegados abusos de autoridade por parte das forças policiais.

É claro que os agentes prevaricadores devem ser responsabilizados e punidos pelos abusos que cometam.

Mas isso tem de ser feito com pinças, sem grande alarido, para não passar para a sociedade a ideia anacrónica de que os criminosos andam à solta e os polícias são condenados.

Simultaneamente, é preciso evitar que os próprios agentes sejam tomados pelo receio das consequências que para eles possam resultar de intervenções mais musculadas.

É que, se isso acontecer, começará a perder-se a autoridade do Estado.

Mas o conflito de Reguengos envolveu outra questão escaldante: a presença de homens de etnia cigana.

E aí, os agentes corriam um outro risco: as possíveis acusações de racismo.

É sabido que hoje qualquer intervenção repressiva da Policia contra não-europeus é passível de exploração política por parte de partidos e associações que atuam nessa área.

O BE, concretamente, adora este tipo de acontecimentos para poder acusar a Polícia de racismo e xenofobia.

Ora, neste quadro, é perfeitamente natural que os agentes de segurança se retraiam.

Aliás, eles devem receber instruções rigorosas dos seus chefes para as cautelas que devem ter neste tipo de situações – e isso funciona como fator de inibição.

Tudo isto junto – eventual falta de meios, receio de processos disciplinares por atuação desproporcionada, acusações de racismo – terá contribuído para os guardas da GNR terem fechado descaradamente os olhos a uma violenta cena de pancadaria entre homens de etnia cigana e clientes de um bar em Reguengos.

Tenho a certeza que a divulgação das imagens do confronto representou mais umas centenas ou milhares de votos para André Ventura.

Ainda esta semana chegou-me às mãos uma ‘Exposição’ feita por uma IPSS, o Centro Social Paroquial de Mateus, a várias autoridades municipais, que acaba assim: «Estamos cansados, para não dizer exaustos, das incongruências destes nómadas que entretanto se sedentarizaram nas proximidades dos nossos edifícios infernizando as nossas vidas quotidianas, a nossa atividade profissional, prejudicando veementemente o desenvolvimento das respostas sociais envolvidas».

E queixas destas há por todo o país às centenas.

Se os partidos do sistema continuarem por este caminho, a fechar os olhos à realidade, vão ver onde irão parar.

Enquanto continuarem a tentar tapar o sol com a peneira, a atacar o mensageiro em vez de levarem a sério a mensagem, André Ventura continuará a crescer.