Banca lucra mais de três milhões por dia

Apesar das provisões, a Caixa Geral de Depósitos, o Santander Totta, o BCP e o BPI lucraram 573 milhões no 1.º semestre, um aumento face a igual período do ano passado.

Banca lucra mais de três milhões por dia

Num cenário de pandemia e mesmo com as provisões feitas pelas instituições financeiras, os quatro maiores bancos a operar no mercado nacional – Caixa Geral de Depósitos, Santander Totta, BCP e BPI – apresentaram no total lucros na ordem dos 573 milhões de euros no primeiro semestre. Feitas as contas, estes quatro bancos lucraram cerca de 3,1 milhões de euros. O_valor representa um ligeiro aumento face aos resultados em igual período do ano passado, altura em que apresentaram resultados de 540,5 milhões de euros, o que deu uma média de lucro de três milhões de euros por dia.

Mais uma vez, o campeão dos resultados é a Caixa Geral de Depósitos, que apresentou um resultado positivo de 294 milhões de euros, uma subida de 18% face a igual período do ano passado, apesar de ter constituído imparidades em 90 milhões de euros numa base «preventiva».

O banco liderado por Paulo Macedo explica que esta evolução é sobretudo «consequência da boa performance dos resultados de operações financeiras, que dispararam 210% para 122 milhões de euros, sendo que os proveitos core mantiveram tendência negativa»: a margem financeira caiu 8,5% para 480 milhões de euros, sendo compensada parcialmente pelo aumento das comissões, que subiram 9% para 310 milhões de euros.

Os empréstimos subiram 2,7% para 49,2 mil milhões de euros até junho, com a Caixa a destacar a nova produção de crédito hipotecário de 65% neste período, «resultando na liderança do mercado com uma quota de nova produção de 24,4%, até maio de 2021». O banco justifica esta subida expressiva da nova produção com baixa produção no segundo trimestre de 2020, devido ao confinamento.

Já os depósitos de clientes aumentaram 4,5 mil milhões de euros (+6,3%), «impulsionado pelo aumento da taxa de poupança das famílias e demonstrando a confiança e vinculação dos clientes na Caixa».

O banco público revelou ainda que a 30 de junho contava com 5473 milhões de euros em moratórias, uma redução superior a 500 milhões de euros face a janeiro. Em causa, estão 57.263 operações, uma redução de 9.807 face ao início do ano.

Por sua vez, as linhas de crédito covid-19 ascenderam a 2.098 milhões de euros, quando em 31 de janeiro estavam em 1.266 milhões de euros. As linhas de garantia pública representaram 1.258 milhões de euros e as de garantia FEI (Fundo Europeu de Investimento) 800 milhões de euros.

Também o número de trabalhadores foi cortado. Nos primeiros seis meses do ano assistiu-se a uma redução de 135 trabalhadores, 72 por reforma ou pré-reforma e 27 por rescisão por mútuo acordo, disse Paulo Macedo, durante a apresentação de resultados.

De acordo com o CEO, no início do ano, a Caixa contabilizou 325 pedidos de trabalhadores para sair do banco. Ainda assim, Macedo garante que não tem perspetivado um número definido de saídas de trabalhadores ou um objetivo concreto. «É algo que tendencialmente acontece. Uma parte das pessoas quer aproveitar as condições de saída. A Caixa terá que fazer antecipação [de saídas] como os outros bancos, que o fazem para se tornarem mais competitivos», referiu.

 

Lucros também sobem

Também o BPI registou lucros de 185 milhões de euros no primeiro semestre, quatro vezes mais do que no mesmo período de 2020. De acordo com João Pedro Oliveira e Costa, a contribuir para os lucros esteve o aumento do produto bancário, mas também a redução de imparidades anteriormente registadas para fazer face a perdas devido à crise.

No fim de junho, o BPI tinha um saldo em balanço de 75 milhões de euros de imparidades não alocadas que tinham sido constituídas em 2020, com destaque ainda para contribuição do Banco de Fomento de Angola (BFA, de que o BPI é acionista) para os lucros do primeiro semestre.

«São resultados muitíssimo satisfatórios, mantemos uma solidez económica e financeira», disse, remetendo para a subida do produto bancário e do crescimento da atividade comercial e do crédito, a par da diminuição das imparidades de crédito.

Feitas as contas, o produto bancário registou um crescimento de 11,5% para 350 milhões de euros na primeira metade do ano. Foi sobretudo ajudado pelo aumento das comissões em 11% para 130 milhões de euros, enquanto a margem financeira (diferença entre juros cobrados nos empréstimos e juros pagos nos depósitos) subiu 3,2% para 227 milhões de euros.

Já a carteira de crédito aumentou 5,9% para 26,5 mil milhões de euros — mais 1,5 mil milhões num ano – também os depósitos subiram mais 10% para 27,5 mil milhões de euros.

Mas ao contrário da maioria dos bancos, a instituição financeira liderada por João Pedro Oliveira e Costa não tem previsto nenhum plano de redução de pessoal. «O foco não são os custos», caso contrário, o caminho seria «definhar». Ao mesmo tempo, o responsável afastou qualquer eventual aquisição.

O BPI chegou a junho com 4.562 trabalhadores, menos 60 em relação ao final do ano passado, e com 386 unidades comerciais, entre balcões (326), centros premier (25), um balcão móvel e centros de empresas (34).

 

Santander com quebra

O resultado líquido do Santander Totta ascendeu a 81,4 milhões de euros, uma redução homóloga de 52,9%, no primeiro semestre do ano. De acordo com a instituição financeira, foi constituída uma provisão no valor de 164,5 milhões de euros (líquida de impostos), para fazer face ao processo de reestruturação do banco.

Em cima da mesa está a saída de 685 trabalhadores. No espaço de um ano, assistiu-se a uma redução de 398 postos de trabalho, totalizando 5765 trabalhadores no fim de junho. Em relação às agências assistiu-se a um corte de 108 agências no mesmo período, totalizando agora 368 balcões no mercado nacional.

Ainda assim, o banco diz que estes resultados «continuam a refletir a situação de pandemia e os respetivos efeitos sobre a atividade económica em geral» e recorda que, apesar da queda dos lucros, o banco «manteve uma posição sólida de liquidez e níveis de capitalização bastante elevados», referindo ainda «face ao semestre homólogo, um crescimento ligeiro da margem comercial, fruto da boa evolução das comissões, que mais do que compensa a redução de margem financeira».

No final do junho, as moratórias abrangiam cerca de 43 mil clientes, no montante global de 6,1 mil milhões de euros de crédito (14% da carteira total), o que corresponde a uma redução de 28% face ao valor registado em dezembro de 2020, com o vencimento da moratória privada, no final de março. As linhas de crédito com garantia do Estado cifraram-se em 1,6 mil milhões, abrangendo cerca de 14 mil clientes.

As comissões dispararam 11%, para 203 milhões de euros e os resultados de operações financeiras aumentaram 61% para 147,5 milhões de euros, contribuindo para que o produto bancário tenha subido 8,7% para 716,6 milhões de euros. Já o total de crédito a clientes foi de 43,4 mil milhões de euros, equivalente a um aumento de 3,0% face ao período homólogo, destacando-se o crescimento do crédito à habitação em 5,9%.As quotas de mercado de novos empréstimos de crédito a empresas e habitação (valores acumulados a maio) situaram-se em 22,6% e 21,4%, respetivamente.

Por seu lado, os recursos de clientes ascenderam a 45,6 mil milhões de euros, um incremento de 5,9% face ao mesmo período do ano passado, evolução determinada pelo aumento de 4% em depósitos e de 15,6% em recursos fora de balanço.

 

BCP tomba

Com piores resultados esteve o BCP, com os lucros a tombarem mais de 80% no primeiro semestre do ano, para 12,3 milhões de euros, penalizado pelo reforço das provisões para os riscos legais com o caso dos empréstimos em francos suíços na Polónia e com os custos de reestruturação. Trata-se de um agravamento de 84% face a igual período do ano passado. Em relação à reestruturação, que passará pela saída de cerca de mil trabalhadores – através de reformas antecipadas ou rescisões por mútuo acordo (sem acesso a subsídio de desemprego) –, a instituição financeira liderada por Miguel Maya aponta para custos na ordem dos 87 milhões de euros. No entanto, este plano de saídas levará a poupanças anuais de 35 milhões de euros, esclareceu o CEO durante a apresentação de resultados.

O gestor disse que esta reestruturação «não tem a ver com pandemia» e que já estava previsto fazer, devido aos hábitos dos clientes. Neste momento, o banco conta com 6937 trabalhadores nos seus quadros, menos 217 do que há um ano. E menos agências: encerrou 35 e tem agora 458 balcões.

 

Em contraciclo

Ao contrário das outras instituições financeiras, o Banco Montepio continua a apresentar perdas, apesar de ter reduzido o seu prejuízo para 33 milhões de euros no primeiro semestre, valor que compara com um resultado líquido negativo de 51 milhões de euros apurado no período homólogo. Estas perdas incorporam um custo de 23 milhões de euros relacionado com as contribuições obrigatórias do setor bancário, Fundo de Garantia de Depósitos, Fundo de Resolução e Fundo Único de Resolução.

No final de junho, o crédito líquido de imparidades fixou-se em 11.658 milhões de euros, mais 80 milhões de euros do que o apurado em 31 de dezembro de 2020. Já os depósitos de clientes contabilizaram 12.623 milhões de euros, uma subida de 121 milhões de euros face ao valor registado no final do ano passado, destacando-se os depósitos de particulares com 76%.

Os custos não recorrentes relacionados com a implementação do plano de ajustamento do quadro de colaboradores e com a alienação de ativos não estratégicos somaram 4,1 milhões de euros, enquanto as comissões líquidas foram, neste período, de 55 milhões de euros, «praticamente ao nível do valor contabilizado em idêntico período de 2020».

Entre outubro de 2020 e junho de 2021, o Montepio encerrou 57 balcões. E no final do primeiro semestre, o banco integrava 3.666 colaboradores, menos 296 do que no período homólogo.