O nome, podem chamar-lhe o que quiserem…

Obrigado aos militares de Abril e Novembro. Obrigado, in extremis, a Mário Soares e aos que estiveram com ele…

«Acha que eu tinha alternativa?».

Stephen King, respondendo à pergunta por que escolhera escrever sobre temas tão macabros

 

1. Só há uma maneira honrada e útil de comemorar os 50 anos do 25 de Abril, que corresponda à esperança que trouxe para o povo autêntico e o país real. Essa maneira seria os partidos, todos, todos os políticos e as elites, fazerem publicamente mea culpa, e levarem ao país e às escolas vozes livres que explicassem as virtudes da verdadeira liberdade, a alegria, a criatividade que ela poderia inspirar, o progresso que permite – como se verificou onde realmente floresceu. E todos assumirem quanto e como foi a liberdade desperdiçada em todos estes anos quase perdidos.

Antes, fora um Governo autocrático apoiado num partido único subserviente e no poder militar, que não deixou os portugueses emanciparem-se e o país desenvolver-se, e adiou o futuro. Hoje é a oligarquia dos partidos, a mediocridade dos Governos e dos políticos, a hipertrofia do Estado que sorve os parcos recursos do país, a realidade de um atraso e dependência que se agravaram e arrastam.

2. Há dias, um amigo falou-me do debate que está a travar com alguém sobre se o 25 de Abril foi uma revolução ou um golpe de Estado.

Enfrentando a argumentação ‘académica’ do especialista, que dá para tudo e o seu contrário, o meu amigo opôs-lhe a visão da criança que vê o rei ir nu. O 25 de Abril foi um golpe militar, não foi uma revolução. Nem mesmo na movimentação popular subsequente, que não foi popular nem revolucionária, nunca se libertando da canga de elites políticas irresponsáveis ou fanáticas. E as apregoadas ideias e práticas ‘novas’ que devia ter trazido já não eram revolucionárias nem novas: tinham mais de duzentos anos. E não se admirava o grande Mário Soares, real fundador da democracia, com o facto de ela se ter aguentado «com tão poucos democratas»? E hoje são ainda menos.

3. Se quisermos perceber o que é uma revolução, veja-se a série da televisão francesa (canal História) A Revolução Francesa. E para compreender porquê e como aconteceu, a muito bem documentada série policial, passada em finais do reinado de Luís XV e no de Luís XVI, nas vésperas da revolução, O Comissário Le Floch.

Foi ‘revolução’ pela movimentação global crescente que a determinou, mutação nos ideários e na realidade política, tudo novidade, alastrado à Europa inteira. E compreendemos por que teria de acabar no banho de sangue em que acabou.

4. Em Portugal não havia felizmente nada para que acontecesse algo idêntico, como hoje se percebe bem. E o melhor da mudança que o golpe do 25 de Abril trouxe, a liberdade, foi o 25 de Novembro e os políticos que o coorganizaram que o salvou. ‘Melhor’ que foi sendo minado e bloqueado.

Se Marcello Caetano tivesse sido outro, se Spínola fosse diferente, se, diz-se, a GNR não tivesse sido paralisada, teríamos outros a serem aplaudidos nos estádios, em vez da malta toda, como eu também, aos gritos no Carmo. Depois, claro, foi Lisboa e outras cidades a pulularem de revolucionários e antifascistas. Por isso os de hoje me enjoam tanto.

5. Obrigado, portanto, aos militares de Abril e Novembro. Obrigado, in extremis, a Mário Soares e aos que estiveram com ele. Mas onde estão hoje tantos deles?