Férias

por Nélson Mateus e alice Vieira

Querida avó,

Num ápice chegámos a agosto.
Depois de duplamente vacinado, e de ‘certificado na mão’, está na hora de uns merecidos dias de descanso.

Este ano vai ser  ‘vá para fora cá dentro’.

A situação no estrangeiro não está melhor do que por cá. Como tal, peguei no carro e meti-me ao caminho.

Agora lembrei-me da canção do Mário Gil: «Pelos caminhos de Portugal/ Eu vi tanta coisa linda/ Vi um mundo sem igual».

Primeira paragem: Braga. Uma cidade onde já vim imensas vezes. Coração da região minhota, é uma cidade que nos proporciona uma viagem pela história de vários tempos.

Sabes que adoro espaços que contem histórias. Não podia ter escolhido melhor local para ficar, um Hospital. Ou melhor, um hotel que foi em tempos um hospital.

O Vila Galé Collection Braga nasce da reabilitação do antigo hospital de São Marcos, um imóvel de interesse público (propriedade da Santa Casa da Misericórdia), datado de 1508 e edificado no local onde existia uma ermida dedicada a São Marcos, uma albergaria e um convento templário. Respeitando a vertente histórica e arquitetónica, este hotel mantém a estrutura existente e recupera alguns elementos como os tetos abobadados originais. O hotel tem vários apontamentos que nos remetem para a utilização anterior do edifício. Tem uma janela que dá para a Igreja de São Marcos. Os doentes do hospital ouviam as missas através desta janela.

Não vais acreditar! Conheci uma funcionária, da receção do hotel, que nasceu neste edifício, quando ele era hospital. A mãe dela era aqui enfermeira.

Efetivamente o passado e o presente andam de mãos dadas! Só num espaço como este fazemos uma viagem pela História. É como entrar numa máquina do tempo que nos leva do tradicional ao moderno.

Agora vou meter-me ao caminho.

Dia 7 inauguramos a tua Exposição na Ericeira.

Até lá vou aproveitar para descansar e conhecer Portugal.

Bjs.

Cuida-te.

Querido neto,
Quando os meus filhos eram pequenos e vivíamos — como eu agora — aqui na Ericeira, quando chegava agosto fazíamos as malas e marchávamos para a Costa Nova. Dizia o meu marido que a Ericeira era onde morávamos, a praia devia ser noutro lugar.

E durante muitos anos fomos para lá. Não só porque era — e é… — uma praia espetacular, com o oceano de um lado e a ria do outro, como era a terra do Mário e tínhamos lá muitos amigos. Os palheiros (nome que se dá às moradias de madeira às riscas), a comida …tudo fazia daquela terra um paraíso.

Mas o tempo foi passando e, de repente, quando eu chegava e perguntava por este e por aquele, a resposta era sempre a mesma: «Ah, já morreu!».

Nunca mais lá voltei.

E já que falaste em Braga. É uma cidade de que gosto muito. Lembro-me de ainda estar no Diário de Notícias e aproveitar a minha folga para ir a escolas de Braga. Para não faltar no outro dia, tinha de sair no comboio das 6 da manhã e ia a pé até à estação. Não se ouvia nada, via-se o nascer do sol, era lindíssimo. E nunca me esqueci de um dia em que eu tinha estado o dia inteiro numa escola, e chegara derreada ao hotel. Sentei-me no bar, o empregado olhou para mim e só disse:

«Ballantynes, 12 anos».

E foi remédio santo.

Nos anos 50 não se viajava muito. Eu tinha uma velha tia que vivia em Torres Novas, a Tipetá, como era conhecida, e às vezes ia de viagem com a família. Então levava um lápis e um caderno e anotava todos os nomes das terras por onde passava. E depois ríamos muito com os nomes de algumas delas.

Devias experimentar fazer isso, ias divertir-te imenso! Olha, já aqui perto da Ericeira: conheces a Bandalhoeira? É uma aldeia tão bonita, com gente tão simpática que vale mesmo a pena lá ir e tomar uma bica no Café do Pixarreta.

Fica bem — e aos fins de semana não te esqueças de levar o teu atestado de vacina, senão não entras nos restaurantes.

Bjs