Dia da Cerveja. Queda na produção, aumento da exportação

Desde sempre e, aparentemente, para sempre amada. Fresca, loira ou morena, com tremoços ou marisco. É dia de celebrar a cereveja e, de preferência, com o copo na mão.

Celebra-se hoje o Dia Internacional da Cerveja e isso merece um brinde. Criado em 2007 em Santa Cruz, na Califórnia, o Dia da Cerveja expandiu-se a mais de 50 países no mundo e é celebrado de este a oeste do globo de copo na mão. Em Portugal, no ano passado as exportações subiram 9%. Mas significará isso que os portugueses estão a beber mais? Se disse que sim, errou.

Devido à pandemia, as vendas internas caíram 15%, informou a Associação Cervejeiros de Portugal – com os bares e as discotecas fechadas, além dos cafés, cervejarias e restaurantes, também não seria de esperar outra coisa…

De acordo com a associação o ano de 2020 foi totalmente atípico (até no setor das bebidas alcoólicas). Uma vez que o consumo de cerveja – tanto em Portugal como no mundo – é geralmente feito num ambiente social, não é um dado chocante que com a pandemia o mesmo tenha sofrido um decréscimo abrupto. 

Em 2020 terão sido produzidos em Portugal 659 milhões de litros de cerveja. Embora este número pareça elevado, saiba que é uma queda de mais de 7% em relação ao ano anterior. No mercado doméstico foram vendidos cerca 470 milhões de litros, sendo que a exportação foi de 194 milhões de litros.

Apesar da queda no consumo, as exportações subiram e a Associação de Cervejeiros explica a razão para isso: A abertura dos mercados, especialmente no segundo semestre do ano. 

A história “Jesus Cristo Bebia Cerveja” é o título de um romance de Afonso Cruz mas podia muito bem ser uma história verídica. O processo através do qual é feita esta bebida já é conhecido desde há 6000 anos antes de Cristo. Se conhecemos Baco como o Deus do Vinho devíamos igualmente conhecer Ninkasi, a Deusa da Cerveja ou Ramsés, o seu Faraó.

Ninkasi é a deusa dos sumérios, o primeiro povo a habitar a região da Mesopotâmia (atual zona do Iraque). A eles foram-lhes atribuídos grandes feitos como as primeiras noções do heliocentrismo, a domesticação dos animais e a invenção da cerveja. Desta altura, encontraram-se inscrições feitas em pedra relativas a um cereal que se utilizava na produção da bebida. 

No tempo de Ninkasi quem produzia a cerveja eram os padeiros, devido às matéria primas utilizadas. A cevada era deixada de molho a germinar, sendo depois moída e com ela feitos bolos aos quais se adicionavam levedura. Após cozidos e desfeitos os bolos eram colocados em jarras com água e deixados a fermentar. Se quiser beber uma cerveja feita a partir de um bolo, ainda pode, no Egito, basta pedir uma Bouza.

Já neste país, no século III, o escritor Ateneu de Náucrates escreveu que a cerveja tinha ali sido inventada para servir quem não tinha como pagar por vinho. O faraó Ramsés (1184-1153 a.C.) ficou apelidado de faraó da Cerveja por ter doado aos sacerdotes do Templo de Amón 466 308 ânforas de cerveja oriunda das suas cervejarias – isto equivalia a cerca de um milhão de litros.

A muitos se atribui a invenção da cerveja, não sendo de estranhar, uma vez que é uma bebida querida de quase todos os que conhecemos. Que atire a primeira casca de tremoço quem nunca se sentou numa esplanada com amigos a beber uma fresquinha. 

Modernidade Se avançarmos até 1040 encontramos a primeira cervejaria como hoje a conhecemos. Encontramo-la na Baviera, na Alemanha, e foi fundada por monges beneditinos. A Weihenstephan Brewery é hoje propriedade do Estado Alemão e nela funciona o centro de ciência da Universidade Técnica de Munique. 

A verdade é que a Alemanha merece que lhe seja feito um brinde: não só é o primeiro país da época moderna a produzir cerveja como também o organizador do maior e mais antigo festival de cerveja do mundo, o Oktoberfest.

A primeira edição decorreu em 1810 para celebrar o casamento do Príncipe Luís I da Baviera e Teresa da Saxônia e Hildburghausen. As festividades foram um sucesso tão grande que até hoje se tornaram num evento de celebração mundial. Em mais de 200 anos de existência, o Oktoberfest foi cancelado pouco mais de 20 vezes: uma delas no ano passado e outra este ano.

Em 2019 foram mais de seis milhões os visitantes que rumaram até Munique para desfrutar de alguns dias do festival que dura cerca de duas semanas e ocupa 42 hectares. Foram bebidos cerca de oito milhões de litros de cerveja cujo litro custou entre 10,80 e 11,80 euros (dependendo das marcas).

Em Portugal Voltando a Portugal, mas não ainda aos dias de hoje, podemos apontar para a Cervejaria Trindade, em Lisboa, como a primeira fábrica a produzir. O ano é 1836 e depois dessa rapidamente começaram a surgir outras pequenas fábricas. 

Em 1934 nasce a Sociedade Central de Cervejas (SCC), onde se unem a Companhia Produtora de Malte e Cerveja Portugália, a Companhia de Cervejas Estrela, a Companhia da Fábrica de Cerveja Jansen e a Companhia de Cervejas de Coimbra. Um ano mais tarde, as cervejas Trindade juntam-se à Sociedade, que atinge os 5,1 milhões de litros produzidos. 

Pertencente também à SCC é a Sagres, criada em 1940, que superou em 2008, pela primeira vez em 20 anos, a rival direta Super Bock. Esta última foi criada primeiro – em 1927 – e apesar de, durante muitos anos fazer parte do grupo Unicer, em 2017 o mesmo foi rebatizado com o nome da cerveja. Em 1941 é criada a Imperial, um nome que ainda hoje é usado para denominar cerveja servida do barril.

A Super Bock e a Sagres são, desde a sua criação e até aos dias de hoje, as cervejas de garrafa mais consumidas pelos portugueses. 

Atualmente, são mais de 100 as cervejas artesanais produzidas no país. A Associação Cervejeiros de Portugal criou um guia, que pode ser consultado no seu site, onde dá a conhecer aos portugueses, aquilo que de melhor se produz no país em termos de cevada. 

12 litros por português De acordo com dados do Eurostat, foram produzidos em 2020 pela União Europeia cerca de 32 mil milhões de litros de cerveja com álcool, aos quais se juntam mais 1,4 mil milhões de cerveja sem ou com menos 0,5% de álcool. A Alemanha está no lugar da frente no que toca a produção, enquanto que os Países Baixos lideram a exportação e França a importação.

Em termos de consumo de álcool, num sentido mais lato, Portugal consome, segundo dados da OCDE publicados em maio deste ano, 12 litros por pessoa por ano: Depois de uma análise feita a mais meia centena de países, relativamente aos lusitanos concluiu-se que “os homens consomem em média 19,4 litros de puro álcool per capita por ano, enquanto as mulheres consomem 5,6 litros”. Entre os países da OCDE, a média está nos 10 litros. 

O mesmo estudo indica que 26,6% dos adultos portugueses “embriagam-se pelo menos uma vez por mês”, sendo isto o equivalente a mais de 80% de uma garrafa de vinho ou a 1,5 litros de cerveja numa só ocasião. 

Ainda de acordo com estas estatísticas, a OCDE adianta que, no que toca a jovens de 15 anos, 13% das raparigas e 14% dos rapazes já esteve embriagado pelo menos duas vezes na vida.