Novo Banco: Promessa de virar a página cumprida

Sete anos depois da resolução, o Novo Banco apresentou pela primeira vez lucros de 137, milhões. CEO ao Nascer do SOL garante ‘momento de viragem’ ocorreu no final de 2020 e fala em ‘reestruturação sem paralelo’.

Uma mudança de paradigma era a promessa do presidente do Novo Banco para este ano e que está a ser cumprida. O peso da herança do Banco Espírito Santo que arrastou as contas para o vermelho até ao final de 2020 parece ter chegado ao fim. Essa viragem já se tinha verificado nos três primeiros meses do ano ao apresentar lucros de 70,7 milhões de euros, mas que ganha maior dimensão, depois de ter apresentado um resultado líquido de 137,7 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano.

Este lucro recorde e também histórico surge sete anos depois de o banco ter sido alvo de resolução com a instituição financeira liderada por António Ramalho a a ocupar o terceiro lugar da tabela em termos de resultados positivos junto dos cinco maiores bancos. O ranking é liderado pela Caixa Geral de Depósitos com lucros de 294 milhões, seguida pelo BPI com 185 milhões de euros. Já o Santander aparece em quarto lugar com 81,9 milhões e em quinto o BCP, com 12,3 milhões.

Feitas as contas, os cinco maiores bancos lucraram cerca de quatro milhões de euros, ao mesmo tempo, perderam 240 agências e 1.474 trabalhadores entre o primeiro semestre de 2020 e o mesmo período deste ano.

Até agora, o Novo Banco já consumiu 3.293 milhões de euros de dinheiro público ao abrigo do mecanismo de capitalização. No entanto, a instituição financeira revela que o Fundo de Resolução lhe deve 277,4 milhões de euros dos 598 milhões de euros solicitados. e, como tal, garante que vai acionar os mecanismos legais para receber esse valor. 

Recorde-se que em junho, o Fundo de Resolução considerou que só devia pagar 429 milhões de euros devido a divergências com o Novo Banco (relacionadas com a provisão para a venda da sucursal em Espanha, a valorização de ativos e prémios atribuídos aos administradores) e revelou que só pagou 317 milhões de euros (ver cronologia). Relativamente a 2020 (ano em que teve prejuízos de 1.329 milhões de euros), o Novo Banco tinha pedido ao Fundo de Resolução 598 milhões de euros para se capitalizar, ao abrigo do mecanismo acordado com o Estado português em 2017. O pagamento desse valor cabe ao Fundo de Resolução bancário (entidade da esfera do Estado).

 

Raio-X

O Novo Banco justifica os lucros do primeiro semestre com a margem financeira que registou um crescimento de 13,1% face ao período homólogo. E também com os resultados de operações financeiras (que aumentaram 129,1 milhões), «contribuindo para uma melhoria do produto bancário comercial».

Já as imparidades para crédito totalizaram os 84,7 milhões, que incluem 35,2 milhões de imparidade para riscos relacionados com a covid-19, apresentando, no entanto, uma redução de -69,9% ou -196,4 milhões face ao período homólogo.

A instituição financeira fechou o semestre com um rácio de malparado de 7,3%, que compara com o de 8,9% que apresentava no final do ano passado, além de apresentar agora um rácio de cobertura de créditos em incumprimento de 78,4%. No entanto, há ainda uma percentagem abrangida por esta modalidade. «Em junho de 2021 totalizavam 5,6 mil milhões de euros (contra 6,9 mil milhões em dezembro de 2020), representando cerca de 22% da carteira de crédito a clientes, juntamente com 1,3 mil milhões de euros de linhas de crédito garantidas concedidas a empresas, dos quais cerca de 97% já desembolsados».

A entidade liderada por António Ramalho reduziu 112 trabalhadores e fechou 10 agências no primeiro semestre, segundo as contas apresentadas. Em junho, o grupo Novo Banco tinha 4.448 funcionários em Portugal, menos 112 do que em dezembro do ano passado.

O caso do Novo Banco (que entre final de 2014 e 2020 reduziu 2.200 funcionários) tem um programa de propostas de reformas antecipadas e rescisões por mútuo acordo (que garantem acesso a subsídio de desemprego), segundo fontes dos trabalhadores.