Prisioneiros da Geografia… e da História

Para o Padre Anselmo Borges e o Doutor Nogueira da Silva 1.Basta olhar para o mapa. Um para o mapa: um exército inimigo que domine o Tibete chegará ao ‘coração da China’ a brincar. (E em que país ‘amigo’ se refugiou o Dalai Lama?). E no Tibete nascem os três grandes rios que dão 90%…

Para o Padre Anselmo Borges e o Doutor Nogueira da Silva

1.Basta olhar para o mapa. Um para o mapa: um exército inimigo que domine o Tibete chegará ao ‘coração da China’ a brincar. (E em que país ‘amigo’ se refugiou o Dalai Lama?). E no Tibete nascem os três grandes rios que dão 90% da água que os chineses consomem. Tibete, as ‘fontes da China’.
Basta saber História: só nas duas maiores invasões da China morreram 100 milhões de chineses. E as invasões foram recorrentes num passado de 3000 anos.
‘Branco é, galinha o põe’. A China nunca abandonará o Tibete. (E a quem o entregaria? À Índia, aos EUA?)

A China irá dar, isso sim, mais autonomia ao Tibete, como a dará a todas as regiões. Precisa disso para a interação entre elas, fundamental para o seu desenvolvimento, como Deng viu. Tal como aconteceu na Europa, ‘naturalmente’ fracionada em nações (não só pela geografia), fator determinante no ‘Milagre europeu’.
Dará mais autonomia se… os EUA (e a decadente Europa, que arrastam) deixarem de interferir como têm feito em Hong Kong, por exemplo. Se… a América e a Europa perceberem como devem (con)viver com o desenvolvimento exponencial da China e a sua reemergência internacional. Que não é uma peripécia passageira, mas um dado, uma condição que é imperativo integrar rapidamente.
 
A ligação à China é cada vez mais desejada pelos tibetanos. E isto porque o Tibete foi desde sempre um Estado teocrático esclavagista – exotismo muito apreciado, claro, pelos ‘libertadores’ ocidentais bem instalados nas suas poltronas. E os tibetanos que se lixem! 
E hoje? Hoje é uma região em grande desenvolvimento, a beneficiar do enriquecimento e da presença da China no mundo. Uma linha férrea – impensável, a 5000 metros de altitude – permite uma ligação quatro vezes por dia entre Lhasa e Pequim, isto é, ao mundo!

A imensa região que vai do planalto tibetano à fronteira com os Estados islâmicos, ao Cazaquistão, é a fronteira vulnerável da China. Depois é o Xijiang, onde começava a antiga Rota da Seda e hoje passa a nova Rota que liga o comércio chinês ao Paquistão e ao porto de águas profundas que aí estão a construir. Xijiang onde, desde há muito, os talibãs tentam infiltrar-se. E a seguir a Grande Muralha, a barreira artificial começada a construir no tempo do primeiro imperador. 
Será preciso tanta especulação, tantos comentadores, para saber o que foi o ministro chinês dizer aos talibãs (depois de os EUA assumirem que iriam sair)? «Não se atrevam a entrar na China». Abençoado!
Para saberem mais, leiam Prisioneiros da Geografia, de Tim Marshall (que é da Saída de Emergência e não da Gradiva…). Mas não se esqueçam de acrescentar ao título o que acrescentei aqui: …e da História.

2.Alguns amigos compreenderam o artigo O Fato de Xi Jinping. Dois deles fizeram-me uma observação arguta. Na recente visita ao Tibete, o Presidente chinês usou ao pescoço uma estranha estola branca. Confirmei com amigos ‘chineses’: nunca algum chinês, dirigente ou não, usou tal artefacto. O Padre Anselmo Borges explicou-me a origem da estola e do seu uso: na Roma Antiga era símbolo do poder imperial, e foi adotada depois pela Igreja Romana como símbolo da autoridade… sagrada dos bispos! O Doutor Nogueira da Silva lembrou-me o resto: a iminência da escolha do novo Dalai Lama. É preciso dizer mais?