Os violadores

Sem se saber ao certo o que aconteceu, uma multidão juntou-se frente à Câmara Municipal a pedir a condenação exemplar dos ‘violadores’.

Quatro homens portugueses foram detidos sob suspeita de terem violado duas mulheres em Gijón, Espanha, e dois deles ficaram em prisão preventiva. A história, segundo li, começou com um contacto feito através da internet entre um português e uma jovem espanhola, tendo ficado combinado um encontro num bar de Gijón. Supostamente ela levaria uma amiga e depois seguiriam para um hotel.

Um esquema normal de prostituição, portanto.

Entretanto, no quarto de hotel acabariam por estar quatro homens e duas mulheres, e terão mantido relações sexuais.

De manhã cedo, as raparigas deixaram o hotel e dirigiram-se a uma esquadra de Polícia, alegando que tinham sido violadas.

Ninguém sabe ao certo o que se passou naquele quarto de hotel. Só os protagonistas. Mas um vídeo posteriormente divulgado mostrava uma das mulheres a deixar o local com ar calmo, como se saísse normalmente de casa. Não aparentava angústia, nem aflição, nem nervosismo. 

O advogado dos portugueses, um espanhol, também diria que as raparigas não ostentavam quaisquer marcas de violência, naturais num caso de sexo não consentido.

Contudo, sem se saber ao certo o que se tinha passado, e apenas com base nas acusações das mulheres, juntou-se uma manifestação à frente da Câmara Municipal de Gijón, com gente aos gritos exigindo a condenação exemplar dos ‘violadores’. E o próprio alcaide da cidade e uma representante do Governo fizeram declarações contra os portugueses, pedindo mão pesada da Justiça. 

Em qualquer suspeita de crime, os envolvidos têm direito à presunção de inocência. Mesmo naqueles em que as prisões são precedidas de longas investigações policiais. Mas nestes casos isso não existe. Nem é necessária qualquer investigação para as pessoas se manifestarem e os responsáveis políticos se pronunciarem. Bastam as alegações de uma das partes. 

Este caso faz lembrar outro ocorrido em Las Vegas em que uma mulher, de nome Kathryn Mayorga, foi com Cristiano Ronaldo para um quarto de hotel e depois o acusou de violação, exigindo uma principesca indemnização. 

Repito: não sei – ninguém sabe, senão os próprios – o que se passou no quarto de hotel em Gijón. Mas conheço histórias semelhantes que não passaram de tentativas de extorsão. As raparigas aliciam homens, vão com eles para o quarto – e depois alegam que os homens as forçaram a ter sexo. Mas cabe na cabeça de qualquer pessoa normal que um homem e uma mulher que não se conheciam antes se metam voluntariamente num quarto de hotel com outro objetivo que não seja terem relações sexuais?

Agora há quem defenda que todo o sexo não consentido é violação. Mesmo entre marido e mulher. E acrescentam: «O ‘não’ de uma mulher é não; não é ‘sim’ nem ‘talvez’». 

Ora, é preciso lembrar que estamos a falar de pessoas adultas. Não estamos a falar de crianças nem de adolescentes. Uma mulher adulta, quando vai com um homem para o quarto, sabe muito bem o que isso significa. Tudo o resto que se diga sobre o assunto é mistificação ou má-fé. 

Nos tempos que correm estamos a assistir a novas formas de extorsão. Nos EUA, Ronaldo foi vítima de um gesto oportunista e caiu numa armadilha. Provavelmente aconteceu o mesmo aos portugueses em Espanha.

Aproveitando-se das novas investidas do feminismo, do enorme mediatismo que é dado às acusações, mesmo não provadas, de assédio sexual e de violação – que o Me Too exponenciou brutalmente –, certas mulheres sabem que tudo o que disserem sobre os homens será valorizado e tudo o que os homens disserem em sua defesa será desprezado. E com esta certeza vão procurando tirar partido de certas situações.

Mas cuidado: o feitiço pode voltar-se contra o feiticeiro.

O alcaide de Gijón terá tido a melhor intenção ao acusar os portugueses. A representante do Governo espanhol pode ter tido a melhor intenção ao culpar os portugueses. As manifestantes que gritaram palavras de ordem contra os homens e de apoio às mulheres podem ter sido levadas pelas melhores intenções. 

Todos acharão que, defendendo as mulheres contra os homens, independentemente do que tenha acontecido, estão do lado certo. Estão contra os predadores e a favor das vítimas.

Sucede que, com este caso e outros semelhantes, as acusações de violação começam a banalizar-se. 

A violação é um crime gravíssimo, que deixa nas vítimas marcas profundas. Mas qualquer dia uma mulher é mesmo violada e já ninguém liga.

Com estas acusações feitas com ligeireza, os movimentos feministas estão a prejudicar as verdadeiras vítimas.