Portuguesa encontrada morta em casa no Reino Unido contactou a polícia sete vezes num ano

Queria denunciar as agressões do seu companheiro, mas os pedidos de ajuda não foram suficientes e a jovem foi encontrada morta em casa. Duas das sete chamadas foram feitas no dia 8 de abril, dia em que morreu.

Uma portuguesa de 23 anos a viver no Reino Unido ligou sete vezes à polícia durante um ano. Queria denunciar as agressões do seu companheiro, mas os pedidos de ajuda não foram suficientes e a jovem foi encontrada morta em casa. Duas das sete chamadas foram feitas no dia 8 de abril, dia em que morreu.

De acordo com uma investigação do jornal New York Times (NYT), que teve acesso a um relatório sobre o caso conduzido por um gabinete independente para a conduta policial e que denuncia várias falhas por parte da polícia britânica, a primeira chamada aconteceu em maio de 2019. A jovem estava grávida do segundo filho e, na altura, disse à polícia que o seu parceiro tinha ameaçado que a iria matar, que era violento e "excessivamente ciumento". No entanto, não quis apresentar queixa.

A publicação revela que a jovem queria ajuda, mas não queria invocar a lei. Segundo a mãe da vítima, que vivia em Inglaterra desde 1999, esta esperava que o companheiro mudasse. Mas não mudou, e os desentendimentos do casal foram-se agravando com o abuso de drogas do homem.

Nos meses seguintes, registaram-se mais três chamadas. Na quarta chamada, realizada em novembro de 2019, a jovem revelou que o namorado a empurrou e imobilizou e que retaliou em sua defesa. Segundo o relatório independente, um agente da polícia "deu conselhos a ambas as partes".

No mês seguinte, a 29 de dezembro, foi efetuada outra chamada. Queixou-se que o companheiro a tinha atingido na cara e agredido de forma tão violenta que mal podia respirar no dia de Natal e que, no dia seguinte, tinha empurrado a sua cabeça contra uma parede. Foi considerada “histérica” pelas autoridades.

Nesse dia dois agentes foram destacados à casa do casal – quatro horas após a chamada devido "a falta de meios" – e, no local, o responsável admitiu que o casal tinha "problemas de comunicação" e disse não estar "preocupado".

A sexta chamada aconteceu na manhã de 8 de abril, no dia em que viria a morrer. A jovem disse que o companheiro a tinha atirado para a cama e apertado o seu pescoço, deixando marcas, e que a ameaçou de morte antes de sair de casa. Nesse dia concordou em apresentar queixa e confessou “ter perdido a conta” às vezes que o companheiro a agrediu.

O homem acabou por ser detido horas depois. Estava “em lágrimas” no momento da detenção e acabaria por ser libertado no mesmo dia devido a uma diretiva que ditava que a polícia não poderia deter muitos suspeitos como forma de evitar a propagação de covid-19. O homem, descrito como “arrependido” e que não aparentava ser “uma ameaça” para a polícia, prometeu não se aproximar da vítima.

No entanto, cerca de 20 minutos enviou uma mensagem à companheira através das redes sociais e duas horas depois estava novamente no seu apartamento.

O suspeito foi libertado às 18h04 sem supervisão policial e cerca de cinco horas depois, a jovem fez a sua sétima e última chamada. Pediu ajuda e disse que o companheiro a tinha agredido novamente.

Segundo o relatório, o agente que atendeu a chamada não verificou a morada da vítima nem o seu nome, não tendo assim conhecimento dos outros pedidos de ajuda. O agente só viria a entender a gravidade da situação no final da chamada, quando se deparou com um aviso da polícia sobre a morada da vítima. A jovem acabaria por morrer nessa noite.

A portuguesa sofria de uma condição cardíaca diagnosticada em 2015 e os exames realizados após a morte concluíram que as agressões poderão ter espoletado a falência cardíaca. O agressor não foi acusado de homicídio involuntário, uma vez que um cardiologista contratado pelos seus advogados revelou que o problema cardíaco poderia ter sido resultado das agressões ou apenas de uma discussão verbal.

O suspeito foi sentenciado a 10 meses de prisão por agressões graves e já se encontra em liberdade.