Como seria de prever, os milhões da ‘bazuca’ de Bruxelas inundaram as capas dos jornais, rivalizando com as medalhas olímpicas conquistadas. Poucas, mas celebradas como se fossem muitas, dada a modéstia das nossas ambições.
Elegem-se novos heróis com uma facilidade extrema, o que corresponde à imensa necessidade de elevar o ‘moral das tropas’ para consumo interno.
Com bronze, prata ou ouro, tivemos o Presidente e o primeiro ministro em competição para serem os primeiros a felicitar os atletas que subiram ao podium.
No meio de tanta euforia, entre os milhões da ‘bazuca’ e as medalhas de Tóquio, o ritmo de novos casos de infetados com covid, acompanhado de mais óbitos, já não suscita as mesmas emoções, enquanto o país ‘se liberta’ nas bancadas dos estádios, nas ruas dos bairros castiços, ou nas praias cheias de gente.
À sorrelfa, vão surgindo, contudo, outros episódios, que ilustram o reforço do ‘lastro’ do PS para se perpetuar no poder, aproveitando a cumplicidade de uns e a preguiça de outros.
Passada a fervura, já ninguém fala das nomeações controversas para o BdP, TdC ou PGR, enquanto noutras frentes se esbanjam milhões em ajustes diretos.
Desde o ‘método japonês’ para servir a logística da vacinação, até ao novíssimo Banco de Fomento, conclui-se que o Governo, apesar do seu imenso staff, não dispõe de competências para acudir a quase nada.
À margem do Tribunal de Contas, privilegiam-se, assim, multinacionais de consultores, que devem achar este país um paraíso…
É compreensível, portanto, que o primeiro-ministro se tenha sacrificado em adiar as férias, com o nobre objetivo, segundo o Expresso, de deixar «quase metade da ‘bazuca’» já atribuída. Haja Deus…
Com a direita encostada às ‘boxes’, incapaz de afirmar-se como alternativa, e as esquerdas comunistas paralisadas na órbita do poder, o PS pode celebrar tranquilo a ‘mexicanização’ do regime em próximo congresso, como previu, aliás, Poiares Maduro.
Em contrapartida, Rui Rio descobriu, luminosamente, que não obstante o relatório da comissão de inquérito ao Novo Banco considerar a resolução do BES (no governo de Passos Coelho), uma «fraude política», tal não passava de um «pormenor», insuscetível de travar a aprovação do documento pelo PSD.
Ficamos entendidos. Doravante, se alguém classificar a liderança de Rio como uma ‘fraude politica’ tal é apenas um ‘pormenor’ irrelevante…
António Costa é um ‘sortudo’. Saiu-lhe ‘a rifa premiada’ com um líder da oposição que não podia ser mais amigo…
Por isso, o PS sente-se cada vez mais à-vontade para favorecer a sua ‘corte de fiéis’, no setor publico ou empresarial do Estado, promovendo, expeditamente, quem for detentor do cartão partidário.
Quem duvide, basta olhar para a Carris, controlada pela ‘teia socialista’, que domina as principais áreas da empresa, desde que Fernando Medina a colocou no perímetro municipal.
Reabilitados os mais conhecidos ‘operacionais’ de Sócrates, o PS passou a recompensar, paulatinamente, os boys e girls no mundo do trabalho.
Se a ‘receita’ da municipalização da Carris e do Metro agravou os défices e a dependência partidária, a renacionalização da TAP, com os prejuízos acumulados, é a nova rota para o desastre.
Para manter a nossa companhia aérea ‘de bandeira’ a voar, adiando o seu definhamento, dissipam-se milhões, enquanto se mascaram reestruturações, e se promove uma deriva surreal, reclamando a insolvência da Groundforce em tribunal. É uma originalidade vinda de uma empresa tecnicamente falida …
Mas nada disto agita a modorra estival dos portugueses, ‘salvos’ do confinamento pelas vacinas, e ‘libertos’ das contas de mercearia pela ‘bazuca’, que há de alimentar o país por uns tempos e deixar-nos depois tão ou mais pobres do que dantes. E que importa?…
Pelo meio, o Presidente da República aproveitou o cinquentenário da CGTP para condecorar a central sindical, sob proposta do governo, como membro honorário da Ordem do infante D. Henrique.
Note-se que esta Ordem «destina-se a distinguir quem houver prestado serviços relevantes a Portugal, no país e no estrangeiro (…)».
É algo que assenta que nem ‘uma luva’ nesta ‘correia de transmissão’ do PCP. Se o socialista Salgado Zenha fosse vivo, corava de vergonha, depois de tanto ter lutado, durante o PREC, contra a unicidade sindical que a CGTP queria impor aos portugueses.
É natural, por isso, que o líder da UGT, Carlos Silva, se sinta ‘mal-amado’ por António Costa, a quem acusa de ser «um homem difícil de consensos».
Percebeu-o, afinal, antes de Rui Rio, que jura agora ter partido «para uma etapa diferente», supõe-se que para fazer aprovar leis que abrem a porta a novas censuras e ao acesso a ‘mails’ sem mandato de um juiz…
Nota em rodapé – Este Pátio fecha para férias. Reabre a 4 de setembro.