Turismo. Agosto no bom caminho

Cansados de confinamentos e de férias estragadas, os portugueses decidiram, este ano, aproveitar o país. De norte a sul, há muitos hotéis que já estão esgotados e os responsáveis do setor têm boas expectativas para este verão.

O bom tempo está aí, aliado ao mês de agosto, aquele em que tradicionalmente os portugueses mais tiram férias. E, mesmo com a pandemia da covid-19, o setor do turismo dá finalmente sinais de franca recuperação. Basta uma breve pesquisa pelos sites de reservas de hotéis online para perceber que, um pouco por todo o país – e principalmente para a segunda quinzena do mês – as vagas já são muito reduzidas, com destaque para os hotéis de 4 e 5 estrelas, em especial no Douro e no Algarve. 

No Six Senses Douro Valley, em Lamego, as reservas até ao final do mês de agosto já não estão disponíveis porque este luxuoso hotel já está cheio. O mesmo acontece na Quinta do Vallado Wine Hotel, no Peso da Régua, e na Quinta da Pacheca Wine House Hotel, também em Lamego.

Mais a sul, em Porches, Armação de Pêra, o Vila Vita Parc Resort & Spa, um dos resorts mais imponentes do país, tem este fim de semana lotação completa.

Já para o fim de semana de 20 a 22 de agosto, um dos mais luxuosos hotéis algarvios, o Conrad, ainda tem vagas, apesar de não serem muitas. E a preços que, claro está, não são para todas as carteiras. Um fim de semana a dois com pequeno-almoço incluído poderá ficar por mais de 1.600 euros. Aliás, na zona algarvia, 96% dos alojamentos dos sites de marcação de hoteís já estão indisponíveis para esse fim de semana.

O mesmo acontece na região do Alentejo, onde 90% dos alojamentos também já não têm reservas para o próximo fim de semana.

Mas como estarão as várias regiões do país a perspetivar este mês de agosto que chega praticamente sem restrições?

«Podemos já confirmar com alguma segurança que até esse fim de semana há um aumento de procura significativa pelo Algarve», começa por dizer ao Nascer do SOL, João Fernandes, presidente do Turismo do Algarve. No entanto, para já, esta procura é «marcadamente nacional». «Quase todos os contactos que fiz com operadores turísticos dizem que mais de 90% são portugueses», acrescenta o responsável.Há alguns espanhóis e franceses, mas a procura por parte do mercado externo ainda é muito reduzida.

E há boas notícias: «Um bom sinal é que estão a reduzir o número de cancelamentos ao contrário do que tinha acontecido muito em junho». A justificação é simples: «Isso tem a ver com o facto de a procura ser muito nacional. Quando há uma procura externa há mais essa contingência».

E se agosto está mais ou menos controlado, o mês seguinte ainda é «muito incerto». É que é nessa altura que a procura interna reduz e se costumava destacar a procura externa. «Como a confiança para viajar daqueles que são os nossos principais mercados emissores ainda está muito em baixo… o número de turistas que sai do seu país para outros países ainda tem a confiança reduzida». 

E essa tendência traz também diferentes realidades para as várias regiões do Algarve, avisa João Fernandes. A procura «é muito assimétrica» e, por isso, as áreas de tradicional maior procura, como Albufeira, «estão mais penalizadas na procura porque ela é muito virada para o mercado britânico». Mas há zonas que passam menos mal. «Por outro lado, áreas como Tavira ou Lagos, que têm uma procura mais focada no mercado nacional, estão a ter um melhor desempenho. Moradias isoladas com piscina e os hotéis com serviço estão também a ter melhores resultados do que outras tipologias».

Já o segmento de luxo, que pelas nossas pesquisas parece estar a ter um desempenho excelente, «está a ter melhor desempenho e há mais reservas diretas». «Há mais turistas a dirigirem-se diretamente às unidades de alojamento.

Isto acontece sobretudo nas grandes cadeias ou marcas mais específicas porque têm uma estrutura para a venda direta mais robusta e conseguem chegar diretamente ao cliente mais facilmente porque são conhecidos ou têm uma cadeia de maior dimensão», diz o presidente do Turismo do Algarve.

Para já, só resta «esperar que a confiança dos mercados externos aumente com o avançar da vacinação e que finalmente se estabilizem regras no mercado europeu», espera João Fernandes.

Centro a meio 

No centro do país, a realidade é outra. Ao Nascer do SOL, o presidente do Turismo Centro de Portugal faz as contas: apesar de ainda não existirem dados fidedignos quanto à taxa de ocupação para este mês, os dados indicativos enviados pelos agentes turísticos em julho «preveem, para a média da região Centro de Portugal, uma taxa de ocupação de 32,3% em julho, 36,5% em agosto e 30,5% em setembro». No entanto, estes serão números que ainda terão de ser confirmados, lembra Pedro Machado.

O responsável detalha que as sub-regiões do Centro mais procuradas em agosto são Viseu-Dão-Lafões, com 66%, Oeste, com 47,6%, Beira Baixa, com 44,3%, Região de Aveiro, com 42,2%, e Região de Coimbra, com 42,1%. «Comprova-se a tendência que a pandemia veio estabelecer, de os visitantes privilegiarem destinos menos massificados, no interior, ou em praias menos frequentadas», diz Pedro Machado.

E quais são as perspetivas para o resto do verão? «Temos um otimismo moderado de que estes dados, que foram recolhidos em julho, sejam nivelados por cima quando forem feitas as contas finais. A observação in loco que temos feito no terreno deixa antever que iremos ter surpresas positivas». E garante: «Há muitos turistas no Centro de Portugal». 

E numa altura em que são os turistas nacionais a ajudar na recuperação do setor, Pedro Machado diz que «os portugueses sempre foram o principal mercado turístico do Centro de Portugal e vão seguramente continuar a sê-lo».

Aos portugueses juntam-se os espanhóis, num mercado ibérico alargado. «E os nossos vizinhos estão já em força nas nossas praias, nas nossas aldeias e nas nossas cidades. Quanto às restantes nacionalidades, teremos de esperar pelo fim das restrições para que regressem sem receio», avança o responsável. Para finalizar: «O mesmo será dizer que no próximo ano já contamos, de uma forma gradual, com o retomar da atividade turística normal no destino Centro de Portugal».

Porto e Norte 

Na região Norte, «o balanço é positivo, tendo em conta o período em que vivemos», destaca o Presidente do Turismo Porto Norte. Embora ainda longe dos números anteriores à pandemia, «os territórios de baixa densidade no Porto e Norte apresentam taxas de ocupação bastante elevados no mês de agosto», acrescenta Luís Pedro Martins.

Mas é nas principais cidades do litoral, e sobretudo na cidade do Porto, que a procura apresenta sinais de melhoria em relação a 2020, mas ainda com níveis de ocupação menores do que em 2019, pré-pandemia.

No que se refere às dormidas, «apesar da elevada procura, ainda existem alojamentos disponíveis» para quem desejar passar as suas férias no Norte, acrescenta o responsável, adiantando que os setores com mais procura são o alojamento e a restauração, «embora todos os locais passíveis de visita, acompanhem as subidas em termos de visitação e consumo». 

Por exemplo, a Cruzeiros Douro, que organiza passeios pela região do rio Douro, diz ter os seus programas quase sempre esgotados neste verão.

Sobre o perfil do turista, não há novidades, «são maioritariamente famílias portuguesas», apesar de «os mercados espanhóis e francês já apresentarem níveis bastante elevados». A estes juntam-se também outros mercados europeus, ainda que «a procura tenda a ser mais tímida, fruto da falta de voos para o Porto», justifica Luís Pedro Martins.

Aos poucos, o turismo recupera. E agosto, sobretudo a segunda quinzena, já dá bons sinais.