Partidos à esquerda responsabilizam EUA e NATO pela tomada de Cabul pelos talibãs

BE, PEV e PAN a favor da vinda de refugiados. CDS e Chega também, mas salvaguardam cautela.

Enquanto os maiores partidos, PS e PSD, mantêm reserva ou precaução sobre a situação no Afeganistão, os partidos mais à esquerda responsabilizam os Estados Unidos e a NATO pela tomada de Cabul pelos talibãs.
Para o partido Os Verdes o que se está a passar acaba por “refletir o desastre de 20 anos de  ocupação dos EUA e da NATO”, que considera ter “deixado o país sem instituições capazes de assegurar a estabilidade política e a paz”. 

Uma visão corroborada pelo BE, que afirma que “o regresso dos talibãs demonstra a enorme irresponsabilidade que foi a invasão e ocupação do Afeganistão pela NATO ao longo dos últimos vinte anos”. Os bloquistas ressalvam terem sempre mantido uma posição crítica à invasão, que consideram ter “ajudado à exaltação do terrorismo em largas partes do mundo” e, mais uma vez, provado que “nunca são invasores estrangeiros a impor a democracia num país”. E apelam ao mundo para que olhe “para os problemas do povo afegão” e procure “formas de o apoiar sem acrescentar problemas e violência às suas enormes dificuldades”. Ambos os partidos se demonstraram a favor da receção de refugiados afegãos em Portugal.

Já o PAN, que “acompanha o que se está a passar no Afeganistão com muita preocupação”, identifica os EUA como tendo uma “gestão desastrosa do processo” e “repudia” a violência, “como é o caso da invasão talibã à capital afegã, Cabul, ao arrepio dos salutares e desejáveis princípios democráticos”. Admite ainda não “compreender”  a forma “como se procedeu à retirada das tropas internacionais” sem que tivesse sido “acautelado o futuro das pessoas e de um país” – ou seja, “os milhares de funcionários”, os “jornalistas”, e as “mulheres e crianças que sistematicamente são sujeitas a atos extremos de violência”, pondo em causa as “conquistas que nas últimas duas décadas se havia conseguido”. O PAN salienta a importância de cuidar dos que lá ficam a proteger as “franjas mais desfavorecidas da população afegã”. No entender do partido, “há uma crise humanitária que continua a precisar de respostas da comunidade internacional, o que não se coaduna com a forma desastrosa como os EUA estão a gerir este processo”. Afirma ainda que os EUA e NATO “têm de assumir as suas responsabilidades” perante uma decisão que afeta não só a região, mas também os direitos humanos e a segurança internacional”. A favor da vinda da receção de refugiados, afirmam que Portugal deve contribuir para “acolher estas pessoas”, considerando que “toda a comunidade internacional tem a obrigação moral e solidária de não fechar os olhos a este retrocesso e drama humanitário”.

O CDS considera que “a tomada de poder pelos talibãs no Afeganistão representa o fracasso da Administração Biden na sua opção de abandonar desordenada e irresponsavelmente as instituições e o povo afegão à mercê da ameaça talibã”. O CDS sublinha o “perigosíssimo retrocesso civilizacional, que acentua a violação dos direitos humanos e expõe à violência especialmente as mulheres e as crianças”. Mostra-se ainda preocupado com os portugueses que lá permanecem, notando que “falta retirar alguns cidadãos portugueses que se encontram em Cabul”. E é sobre esta plataforma que interpelam o Governo: o que fará “para proteger os portugueses no Afeganistão, para saber quantos são” e qual a “estratégia para a retirada dos mesmos”? Considerando que “estão vidas em risco”, o CDS afirma “não ser hora de desleixo” nem poder haver “margem para erros”. “O Governo deve actuar já!”, conclui. Quanto aos refugiados, explica ser um “partido de matriz vincadamente humanista-cristã” pelo que entende que Portugal deva “colaborar no esforço internacional de apoio aos refugiados do Afeganistão”. Não obstante, salvaguarda “que este tipo de apoios deve ser realizado de forma responsável, controlada e criteriosa”. “Essas pessoas devem estar dispostas a respeitar as regras básicas de vivência em Portugal”, afirma.

Para o Chega, a tomada do poder pelos talibãs é “uma vergonha” para Ocidente – “em especial para Joe Biden” – e defende que os americanos liderados por Biden “traíram todos os que no Afeganistão acreditaram que os extremistas jamais regressariam ao poder, colocando agora em risco de vida aqueles que colaboraram com o ocidente nos últimos 20 anos”. Quantos ao refugiados, apesar de salvaguardarem que Portugal “tem de estar sempre disponível, no quadro da EU, para os apoiar”, o Chega defende que não se pode “simplesmente abrir as portas da Europa ao Afeganistão, sob pena de vermos entrar milhares de terroristas e ex combatentes islâmicos para dentro do nosso território”. Para André Ventura, ter-se-á que “conseguir políticas migratórias altamente controladas pelos Estados-membros”, tendo, aliás, o Chega escrito ontem à sua família Europeia – Identity and Democracy – no sentido de os “sensibilizar” para essa questão.